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ARTIGO
Mais de meio século de dedicação ao sacerdócio
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
COLUNISTA DA FOLHA
Chegou-nos ontem, 8 de setembro, a notícia do falecimento em Roma do cardeal dom
Lucas Moreira Neves, cuja vida
foi totalmente dedicada ao serviço da Igreja Católica. Dentro de
uma semana, a 16 de setembro,
completaria 77 anos de idade.
Neste mesmo ano (9 de julho) celebrava 52 anos de ordenação sacerdotal e 35 de episcopado. Bispo
auxiliar (1967) em São Paulo,
participou depois como secretário
da Congregação para os Bispos
em Roma. Escolhido como arcebispo de Salvador, de 1987 a 1998,
foi elevado ao cardinalato por
João Paulo 2º no consistório de 28
de junho de 1988.
Esteve à frente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), como presidente (1995-98), sendo, então, chamado pelo
papa João Paulo 2º para prefeito
da Congregação para os Bispos
(1998-2000). Por motivos de saúde, deixou o cargo e continuou
contribuindo com sua presença e
conselho em Roma, sempre disponível a todos os serviços que o
Santo Padre lhe confiava.
Homem de fé, consagrou-se a
Deus na vida religiosa na Ordem
dos Pregadores (dominicanos).
Dedicou-se sempre ao anúncio da
palavra de Deus pela pregação e
pelos livros. Excelente escritor, foi
eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Nascido em São
João Del Rey, conservou a simplicidade e simpatia do povo mineiro, apreciando desde a infância a
fé, a arte, a música e a cultura,
lembrando os sinos e procissões
das cidades históricas de Minas.
Na sua ação pastoral, sobressaiu sua dedicação aos jovens, à
família e à formação do laicato.
Foi intensa e marcante sua colaboração nas conferências episcopais latino-americanas, nos sínodos e nos dicastérios romanos. Os
papas Paulo 6º e João Paulo 2º
confiaram a dom Lucas importantes missões e sempre valoram
seu precioso conselho.
Tive a graça e a alegria de conhecê-lo mais de perto. Irmão e
amigo, sabia ouvir e aconselhar
com o dom do discernimento e à
luz de profundo amor à igreja.
Cultor da liturgia, sabia com devoção inflamar a todos com suas
homilias bem preparadas e que
manifestavam seu amor a Jesus
Cristo, seu zelo pelo Reino de
Deus e sua particular confiança
em Nossa Senhora.
Nos últimos e breves contatos
com dom Lucas, em Roma, percebi que sua saúde estava enfraquecida e que devia se submeter à
diálise e a contínuos tratamentos.
Sua fé se acrisolou. Oferecia com
amor a vida pela igreja e pelo
Santo Padre, dando-nos exemplo
de virtude e santidade.
Deus chamou esse servo bom e
fiel para receber o prêmio de sua
dedicação. Nestes tempos difíceis
da história, certamente há de interceder por nós, manifestando
ainda mais seu zelo e solicitude
de pastor.
Dom LUCIANO MENDES DE ALMEIDA,
71, é arcebispo de Mariana (MG), ex-presidente e ex-secretário-geral da CNBB e
escreve aos sábados na Folha
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