São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

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ARTIGO

Mais de meio século de dedicação ao sacerdócio

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
COLUNISTA DA FOLHA

Chegou-nos ontem, 8 de setembro, a notícia do falecimento em Roma do cardeal dom Lucas Moreira Neves, cuja vida foi totalmente dedicada ao serviço da Igreja Católica. Dentro de uma semana, a 16 de setembro, completaria 77 anos de idade. Neste mesmo ano (9 de julho) celebrava 52 anos de ordenação sacerdotal e 35 de episcopado. Bispo auxiliar (1967) em São Paulo, participou depois como secretário da Congregação para os Bispos em Roma. Escolhido como arcebispo de Salvador, de 1987 a 1998, foi elevado ao cardinalato por João Paulo 2º no consistório de 28 de junho de 1988.
Esteve à frente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), como presidente (1995-98), sendo, então, chamado pelo papa João Paulo 2º para prefeito da Congregação para os Bispos (1998-2000). Por motivos de saúde, deixou o cargo e continuou contribuindo com sua presença e conselho em Roma, sempre disponível a todos os serviços que o Santo Padre lhe confiava.
Homem de fé, consagrou-se a Deus na vida religiosa na Ordem dos Pregadores (dominicanos). Dedicou-se sempre ao anúncio da palavra de Deus pela pregação e pelos livros. Excelente escritor, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Nascido em São João Del Rey, conservou a simplicidade e simpatia do povo mineiro, apreciando desde a infância a fé, a arte, a música e a cultura, lembrando os sinos e procissões das cidades históricas de Minas.
Na sua ação pastoral, sobressaiu sua dedicação aos jovens, à família e à formação do laicato. Foi intensa e marcante sua colaboração nas conferências episcopais latino-americanas, nos sínodos e nos dicastérios romanos. Os papas Paulo 6º e João Paulo 2º confiaram a dom Lucas importantes missões e sempre valoram seu precioso conselho.
Tive a graça e a alegria de conhecê-lo mais de perto. Irmão e amigo, sabia ouvir e aconselhar com o dom do discernimento e à luz de profundo amor à igreja. Cultor da liturgia, sabia com devoção inflamar a todos com suas homilias bem preparadas e que manifestavam seu amor a Jesus Cristo, seu zelo pelo Reino de Deus e sua particular confiança em Nossa Senhora.
Nos últimos e breves contatos com dom Lucas, em Roma, percebi que sua saúde estava enfraquecida e que devia se submeter à diálise e a contínuos tratamentos. Sua fé se acrisolou. Oferecia com amor a vida pela igreja e pelo Santo Padre, dando-nos exemplo de virtude e santidade.
Deus chamou esse servo bom e fiel para receber o prêmio de sua dedicação. Nestes tempos difíceis da história, certamente há de interceder por nós, manifestando ainda mais seu zelo e solicitude de pastor.


Dom LUCIANO MENDES DE ALMEIDA, 71, é arcebispo de Mariana (MG), ex-presidente e ex-secretário-geral da CNBB e escreve aos sábados na Folha


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