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QUESTÃO AGRÁRIA
Dono de fazenda teria liderado grupo encapuzado em ataque contra sem-terra que haviam invadido área
Fazendeiro é acusado de atirar contra MST
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANDOVALINA
O fazendeiro Carlos Moreira,
seu filho Carlito e três funcionários seus foram presos na tarde de
ontem pela Polícia Militar de São
Paulo, em Sandovalina (região
oeste do Estado), acusados de disparar tiros contra um grupo de
sem-terra que estava na fazenda
Santa Fé, invadida anteontem por
450 famílias organizadas pelo
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
O clima na região está tenso
desde a quinta-feira passada,
quando o líder do MST José Rainha Jr. foi preso em Mirante do
Paranapanema (oeste de SP), acusado de formação de quadrilha
em ações na região. O MST diz
que há "perseguição política" na
acusação contra Rainha.
Anteontem, a passeata do Grito
dos Excluídos em Sandovalina foi
marcada por protestos contra a
prisão de Rainha e culminou com
a invasão da fazenda Santa Fé.
O prefeito de Sandovalina, Divaldo Pereira de Oliveira
(PMDB), 35, disse ter sido agredido com pedras e paus pelos sem-terra depois de tentar, com uma
motoniveladora, impedir que um
incêndio se propagasse pela fazenda Santa Fé durante a invasão.
O movimento nega.
O ataque de ontem aconteceu
entre as 13h20 e 13h35, com cinco
homens encapuzados disparando
contra sem-terra que estavam armando barracos na fazenda.
Equipes de reportagem da Agência Folha e da TV Fronteira testemunharam os disparos.
Segundo a PM, Moreira -filho
do agropecuarista Luciano Alberto Moreira, proprietário da fazenda Santa Fé, de 1.320 hectares-
teria confessado que comandou a
ação contra os sem-terra.
Apesar do tiroteio, nenhum
sem-terra ficou ferido. A PM chegou ao local do conflito momentos depois dos disparos. Duas
equipes comandadas pelo subtenente José Otávio da Silva foram
impedidas de entrar na fazenda
pelo advogado Rubens de Aguiar
Filgueiras. Silva acusou Filgueiras
-advogado de Luciano Alberto
Moreira- de impedir o trabalho
da polícia. "Vai dar tempo para
esconder as armas", reclamava o
subtenente. Filgueiras afirmou
que não tinha as chaves da porteira da fazenda.
Quando policiais militares arrombaram o cadeado e ingressaram na fazenda, outro carro, comandado pelo capitão Renato
Ryukiti Sanomia, já havia chegado à sede da fazenda. Ele e sua
equipe prenderam Carlos Moreira, seu filho e os três funcionários.
Sanomia disse, no final da tarde,
que os cinco ficariam presos na
sede da fazenda "em estado de flagrante" até que a Polícia Civil de
Sandovalina decidisse "ou pela
prisão em flagrante ou por abertura de inquérito". Mas à noite todos foram transferidos para a delegacia de Sandovalina. Em depoimento, os cinco negaram ter
participação na ação e fizeram
exame residuográfico, cujo resultado deve sair na quarta. O delegado Cassildo Galindo decidiu liberá-los por falta de provas.
Gilmar Mauro, da coordenação
nacional do MST, disse ontem
que a invasão da fazenda Santa Fé
não significa o fim da trégua do
MST nas invasões. No início de
junho, Mauro e João Paulo Rodrigues, líderes do MST, anunciaram
uma trégua nas invasões para
poupar o candidato do PT, Luiz
Inácio Lula da Silva.
"A Santa Fé é um caso específico. O Itesp (Instituto de Terras de
São Paulo) recebeu R$ 29 milhões
do orçamento federal para arrecadar terras, não fez nada até agora e
esse dinheiro vai voltar ao orçamento no final do ano", afirmou.
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