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CONTROLE PÚBLICO
Políticos têm R$ 2,871 bi de patrimônio declarado
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os políticos brasileiros têm R$
2,871 bilhões de patrimônio declarado. Inédito até hoje, esse número é resultado da soma dos valores das declarações de bens entregues pelos políticos à Justiça
Eleitoral quando registraram suas
candidaturas para as eleições de
1998, 2000 e 2002.
Com R$ 2,871 bilhões é possível
comprar uma frota de 62.282 automóveis de luxo Mercedes Classe
A -o modelo topo de linha Elegance, com todos os opcionais e
câmbio automático, cujo preço de
tabela é R$ 46.091. O valor total do
patrimônio dos políticos brasileiros também seria suficiente para
adquirir 20.652 apartamentos novos de três quartos em um bairro
de classe média na cidade de São
Paulo (R$ 139 mil a unidade, segundo anúncio publicado ontem
na Folha).
Estão no levantamento que a
Folha publica hoje 6.730 registros
de políticos. O número inclui os
que concorreram a deputado estadual, federal, senador, suplentes
de senador, governador, vice-governador, presidente e vice em 98.
De 2000 estão presentes os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereadores de capitais de Estado.
Para o ano de 2002 só há os presidenciáveis, seus vices, os concorrentes a governador e vice em São
Paulo, além dos candidatos paulistas ao Senado.
Trata-se de uma pesquisa inédita, que começou há um ano e nove meses, em janeiro de 2001. Faz
parte do projeto Controle Público, uma iniciativa da Folha e do
UOL (Universo Online). Dos
6.730 registros que estão no banco
de dados, 3.955 contêm informações pessoais, eleitorais e patrimoniais -são os políticos cujas
relações de bens foram fornecidas
pela Justiça Eleitoral e que permitem o cálculo do patrimônio total,
de R$ 2,871 bilhões. Os outros
2.775 registros trazem os dados
pessoais e eleitorais.
Tudo ficará à disposição dos interessados para consulta na internet a partir de quarta-feira (leia o
quadro "O que é o Controle Público" para saber mais detalhes).
Média e atualização
Entre os políticos que declaram
bens e revelam valores respectivos para cada item, o patrimônio
médio é de R$ 960 mil. Quando se
faz uma atualização de valores pelo INPC do IBGE, o valor total do
patrimônio declarado pula de R$
2,871 bilhões para R$ 3,648 bilhões. A média dos bens declarados de cada político passa então a
R$ 1,220 milhão.
Como comparação, R$ 3,648 bilhões é pouco mais do que a administração federal prevê investir
neste ano no programa de saúde
da família (R$ 3,2 bilhões). Todos
os projetos de saneamento básico
que o governo FHC tem para este
ano somam R$ 1,2 bilhão.
Não há estudos abrangentes sobre o valor médio do patrimônio
dos brasileiros. O IBGE só calcula
a renda média nacional, cujo último dado disponível é R$ 313,3
mensais para 1999.
Os valores revelados neste levantamento são todos oficiais. É
necessário enfatizar que se trata
de patrimônio "declarado". A distinção é importante, pois não seria possível para a Folha checar se
há discrepância entre o que todos
os políticos informam ter e aquilo
que de fato possuem.
Com os dados publicados hoje,
é possível saber, pela primeira vez
na história política brasileira, qual
é o valor total de patrimônio declarado pelos políticos filiados a
determinada agremiação.
As informações mais completas
são as da eleição de 98, pois foram
recebidas declarações de 21 Estados e do Distrito Federal -que
representam 91,84% dos eleitores
brasileiros. Foram coletadas as informações dos eleitos e de primeiros-suplentes de deputados estaduais, federais e distritais. Para os
outros cargos (governador, vice-governador, senador, suplentes
de senador, presidente e vice), foram pesquisados todos os concorrentes, eleitos e derrotados.
Nesse universo, o valor total dos
bens declarados em 1998 foi de R$
2,34 bilhões. O valor médio de patrimônio naquela eleição foi de R$
994 mil para cada político com
declaração de bens.
Os políticos do PFL em 98 são os
campeões, com o maior patrimônio declarado: R$ 590,6 milhões.
São seguidos de perto pelos colegas do PPB, cujos bens somam R$
546,5 milhões. PFL e PPB têm a
mesma origem. Ambos derivam
da Arena, partido que deu sustentação ao regime militar (1964-85).
Seria impreciso, entretanto,
afirmar que o PFL e o PPB têm os
políticos mais ricos do Brasil. Só
se pode dizer que seus políticos
declararam o maior patrimônio.
PMDB e PSDB estão em terceiro
e quarto lugar, respectivamente,
no ranking dos maiores patrimônios declarados. As duas siglas derivam do antigo MDB, a oposição
consentida durante o regime militar. Os peemedebistas declaram
bens num valor total de R$ 316,9
milhões. Os tucanos têm patrimônio total de R$ 313,8 milhões.
Juntas, essas quatro siglas nascidas da Arena e do MDB (PFL,
PPB, PMDB e PSDB) têm um patrimônio declarado total de R$
1,767 bilhão para os registros da
eleição de 98. Isso equivale a
75,5% do valor total obtido no levantamento das declarações.
Entre as siglas de esquerda, destacam-se o PPS (com R$ 132,8 milhões), o PDT (R$ 72,9 milhões), o
PSB (R$ 53,5 milhões) e o PT (R$
31,4 milhões).
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