São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

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CONTROLE PÚBLICO


Políticos têm R$ 2,871 bi de patrimônio declarado


FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os políticos brasileiros têm R$ 2,871 bilhões de patrimônio declarado. Inédito até hoje, esse número é resultado da soma dos valores das declarações de bens entregues pelos políticos à Justiça Eleitoral quando registraram suas candidaturas para as eleições de 1998, 2000 e 2002.
Com R$ 2,871 bilhões é possível comprar uma frota de 62.282 automóveis de luxo Mercedes Classe A -o modelo topo de linha Elegance, com todos os opcionais e câmbio automático, cujo preço de tabela é R$ 46.091. O valor total do patrimônio dos políticos brasileiros também seria suficiente para adquirir 20.652 apartamentos novos de três quartos em um bairro de classe média na cidade de São Paulo (R$ 139 mil a unidade, segundo anúncio publicado ontem na Folha).
Estão no levantamento que a Folha publica hoje 6.730 registros de políticos. O número inclui os que concorreram a deputado estadual, federal, senador, suplentes de senador, governador, vice-governador, presidente e vice em 98. De 2000 estão presentes os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereadores de capitais de Estado. Para o ano de 2002 só há os presidenciáveis, seus vices, os concorrentes a governador e vice em São Paulo, além dos candidatos paulistas ao Senado.
Trata-se de uma pesquisa inédita, que começou há um ano e nove meses, em janeiro de 2001. Faz parte do projeto Controle Público, uma iniciativa da Folha e do UOL (Universo Online). Dos 6.730 registros que estão no banco de dados, 3.955 contêm informações pessoais, eleitorais e patrimoniais -são os políticos cujas relações de bens foram fornecidas pela Justiça Eleitoral e que permitem o cálculo do patrimônio total, de R$ 2,871 bilhões. Os outros 2.775 registros trazem os dados pessoais e eleitorais.
Tudo ficará à disposição dos interessados para consulta na internet a partir de quarta-feira (leia o quadro "O que é o Controle Público" para saber mais detalhes).

Média e atualização
Entre os políticos que declaram bens e revelam valores respectivos para cada item, o patrimônio médio é de R$ 960 mil. Quando se faz uma atualização de valores pelo INPC do IBGE, o valor total do patrimônio declarado pula de R$ 2,871 bilhões para R$ 3,648 bilhões. A média dos bens declarados de cada político passa então a R$ 1,220 milhão.
Como comparação, R$ 3,648 bilhões é pouco mais do que a administração federal prevê investir neste ano no programa de saúde da família (R$ 3,2 bilhões). Todos os projetos de saneamento básico que o governo FHC tem para este ano somam R$ 1,2 bilhão.
Não há estudos abrangentes sobre o valor médio do patrimônio dos brasileiros. O IBGE só calcula a renda média nacional, cujo último dado disponível é R$ 313,3 mensais para 1999.
Os valores revelados neste levantamento são todos oficiais. É necessário enfatizar que se trata de patrimônio "declarado". A distinção é importante, pois não seria possível para a Folha checar se há discrepância entre o que todos os políticos informam ter e aquilo que de fato possuem.
Com os dados publicados hoje, é possível saber, pela primeira vez na história política brasileira, qual é o valor total de patrimônio declarado pelos políticos filiados a determinada agremiação.
As informações mais completas são as da eleição de 98, pois foram recebidas declarações de 21 Estados e do Distrito Federal -que representam 91,84% dos eleitores brasileiros. Foram coletadas as informações dos eleitos e de primeiros-suplentes de deputados estaduais, federais e distritais. Para os outros cargos (governador, vice-governador, senador, suplentes de senador, presidente e vice), foram pesquisados todos os concorrentes, eleitos e derrotados.
Nesse universo, o valor total dos bens declarados em 1998 foi de R$ 2,34 bilhões. O valor médio de patrimônio naquela eleição foi de R$ 994 mil para cada político com declaração de bens.
Os políticos do PFL em 98 são os campeões, com o maior patrimônio declarado: R$ 590,6 milhões. São seguidos de perto pelos colegas do PPB, cujos bens somam R$ 546,5 milhões. PFL e PPB têm a mesma origem. Ambos derivam da Arena, partido que deu sustentação ao regime militar (1964-85).
Seria impreciso, entretanto, afirmar que o PFL e o PPB têm os políticos mais ricos do Brasil. Só se pode dizer que seus políticos declararam o maior patrimônio.
PMDB e PSDB estão em terceiro e quarto lugar, respectivamente, no ranking dos maiores patrimônios declarados. As duas siglas derivam do antigo MDB, a oposição consentida durante o regime militar. Os peemedebistas declaram bens num valor total de R$ 316,9 milhões. Os tucanos têm patrimônio total de R$ 313,8 milhões.
Juntas, essas quatro siglas nascidas da Arena e do MDB (PFL, PPB, PMDB e PSDB) têm um patrimônio declarado total de R$ 1,767 bilhão para os registros da eleição de 98. Isso equivale a 75,5% do valor total obtido no levantamento das declarações.
Entre as siglas de esquerda, destacam-se o PPS (com R$ 132,8 milhões), o PDT (R$ 72,9 milhões), o PSB (R$ 53,5 milhões) e o PT (R$ 31,4 milhões).



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