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TRADIÇÃO
Pesquisa mostra multiplicidade religiosa da festa
Quase metade dos participantes do Círio em Belém não é católica
LUÍS INDRIUNAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Na festa do Círio de Nazaré, que
reuniu ontem cerca de 1,5 milhão
de pessoas em Belém (PA), quase
metade dos participantes não é
católica, segundo levantamento
feito no Círio de 1999 pelo Ipar
(Instituto de Pastoral Regional).
De acordo com a pesquisa, apesar de os católicos serem maioria
(51,5%) existe uma multiplicidade religiosa. Os evangélicos
(24,8%), por exemplo, são o segundo grupo mais expressivo entre os participantes do evento.
O coordenador da pesquisa, Josimar Azevedo, disse que foram
entrevistadas mais de mil pessoas
que, de alguma forma, participaram dos eventos. "Na verdade,
tentamos perceber o Círio em
sentido mais amplo, tanto como
fenômeno social e antropológico
quanto teológico."
A procissão de ontem foi o
evento mais concorrido do 208º
Círio, percorrendo cerca de cinco
quilômetros do centro histórico
em mais de seis horas de cortejo.
As festividades começaram na
sexta. Foram missas, procissões
dos mais diversos tipos (fluvial,
de carros e motos) e eventos por
toda a cidade.
Dos entrevistados pelos pesquisadores do Ipar, 95,2% voltariam
a participar da procissão neste
ano. Os resultados da pesquisa só
foram divulgados agora.
Os números apontam que o Círio de Nazaré é a forma encontrada pelos paraenses para cultivar
tradições regionais, já que 98,7%
dos entrevistados são do Estado.
Para 80,2% deles, o almoço do Círio, onde as pessoas servem comidas típicas da região, é essencial.
A pesquisa abordou também os
círios em outras três cidades amazônicas (Vigia, Macapá e Marabá)
e constatou que os rituais da festa
de Belém são "exportados" para
as outras cidades. "Vários elementos como o carro de promesseiros e a corda, que simboliza os
fiéis puxando a imagem de Nossa
Senhora de Nazaré, são copiados", disse Azevedo.
O fenômeno aparece mesmo
em Vigia (nordeste do Pará), onde o Círio de Nazaré acontece
desde 1697. Em Belém, a procissão foi introduzida pelos portugueses em 1793.
A pesquisa do Ipar está causando polêmica em Belém. O pastor
da Assembléia de Deus Nelson
Cardoso afirma que os 60 mil fiéis
da Assembléia de Deus não participam porque não aceitam o culto
a imagens religiosas.
Durante a semana passada, os
pastores que trabalham nas emissoras de rádio e televisão ligadas à
Assembléia têm tocado no assunto. "Uma imagem não é o caminho para Deus", disse Cardoso.
Para a pastora luterana Marga
Rothe, as camadas mais carentes
da sociedade acabam procurando
tanto as igrejas pentecostais como
o simbolismo da procissão.
Marga afirmou que participa de
missas e almoços de confraternização durante as festividades. "O
clima que envolve o Círio já está
incorporado à cultura paraense."
O Círio que se encerrou ontem
acabou servindo para os candidatos que disputam a Prefeitura de
Belém fazem campanha.
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