São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2000

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TRADIÇÃO
Pesquisa mostra multiplicidade religiosa da festa

Quase metade dos participantes do Círio em Belém não é católica

LUÍS INDRIUNAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Na festa do Círio de Nazaré, que reuniu ontem cerca de 1,5 milhão de pessoas em Belém (PA), quase metade dos participantes não é católica, segundo levantamento feito no Círio de 1999 pelo Ipar (Instituto de Pastoral Regional).
De acordo com a pesquisa, apesar de os católicos serem maioria (51,5%) existe uma multiplicidade religiosa. Os evangélicos (24,8%), por exemplo, são o segundo grupo mais expressivo entre os participantes do evento.
O coordenador da pesquisa, Josimar Azevedo, disse que foram entrevistadas mais de mil pessoas que, de alguma forma, participaram dos eventos. "Na verdade, tentamos perceber o Círio em sentido mais amplo, tanto como fenômeno social e antropológico quanto teológico."
A procissão de ontem foi o evento mais concorrido do 208º Círio, percorrendo cerca de cinco quilômetros do centro histórico em mais de seis horas de cortejo. As festividades começaram na sexta. Foram missas, procissões dos mais diversos tipos (fluvial, de carros e motos) e eventos por toda a cidade.
Dos entrevistados pelos pesquisadores do Ipar, 95,2% voltariam a participar da procissão neste ano. Os resultados da pesquisa só foram divulgados agora.
Os números apontam que o Círio de Nazaré é a forma encontrada pelos paraenses para cultivar tradições regionais, já que 98,7% dos entrevistados são do Estado. Para 80,2% deles, o almoço do Círio, onde as pessoas servem comidas típicas da região, é essencial.
A pesquisa abordou também os círios em outras três cidades amazônicas (Vigia, Macapá e Marabá) e constatou que os rituais da festa de Belém são "exportados" para as outras cidades. "Vários elementos como o carro de promesseiros e a corda, que simboliza os fiéis puxando a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, são copiados", disse Azevedo.
O fenômeno aparece mesmo em Vigia (nordeste do Pará), onde o Círio de Nazaré acontece desde 1697. Em Belém, a procissão foi introduzida pelos portugueses em 1793.
A pesquisa do Ipar está causando polêmica em Belém. O pastor da Assembléia de Deus Nelson Cardoso afirma que os 60 mil fiéis da Assembléia de Deus não participam porque não aceitam o culto a imagens religiosas.
Durante a semana passada, os pastores que trabalham nas emissoras de rádio e televisão ligadas à Assembléia têm tocado no assunto. "Uma imagem não é o caminho para Deus", disse Cardoso.
Para a pastora luterana Marga Rothe, as camadas mais carentes da sociedade acabam procurando tanto as igrejas pentecostais como o simbolismo da procissão.
Marga afirmou que participa de missas e almoços de confraternização durante as festividades. "O clima que envolve o Círio já está incorporado à cultura paraense."
O Círio que se encerrou ontem acabou servindo para os candidatos que disputam a Prefeitura de Belém fazem campanha.


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