São Paulo, sábado, 09 de dezembro de 2000

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OPOSIÇÃO

Zeca do PT faz críticas indiretas ao partido ao discursar em inauguração


Governador de MS defende ajuste de FHC e critica MST

DANIELA NAHASS
ENVIADA ESPECIAL A CORUMBÁ (MS) E A PUERTO SOARES (BOLÍVIA)

O governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, defendeu ontem a política de ajuste fiscal do governo federal e fez críticas indiretas ao seu partido e ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Zeca do PT respondeu a alguns setores do PT que criticam sua maneira de administrar o Estado. "Tenho sido tratado às vezes como neoliberal. Na minha cabeça, senhor presidente, ajuste das finanças, das contas públicas não tem ideologia, não é neoliberal nem é de esquerda", afirmou. O governador disse que conseguiu equilibrar as finanças de MS.
Ao falar sobre as parcerias entre MS e o governo federal na área da reforma agrária, Zeca do PT fez uma crítica dura aos métodos utilizados pelo MST para pressionar a desapropriação das fazendas.
O governador disse que recebeu 27 milhões em TDAs (Títulos da Dívida Agrária) do Ministério do Desenvolvimento Agrário para desapropriar a Fazenda Itamaraty, que já foi uma das maiores fazendas de soja do mundo e hoje está improdutiva. O imóvel está localizado na região de Ponta Porã, fronteira com o Paraguai.
"Na semana que vem sairei com a comissão do Incra visitando 26 mil hectares da Fazenda Itamaraty para, quando terminar o seu governo -o nosso governo-, a gente ter um assentamento que vai ser modelo para o Brasil para acabar com o discurso daqueles que pregam, através do terror no campo, transformar a anti-reforma agrária na bandeira da reação", afirmou arrancando palmas de políticos e de empresários.

"Pessimistas de plantão"
Além de chamar o governo de FHC de "nosso governo", Zeca do PT também usou a expressão "pessimistas de plantão", muito utilizada pelo presidente para caracterizar a oposição.
Ao falar sobre a implantação do "Projeto Pantanal", Zeca disse que "os pessimistas de plantão" não acreditavam que o projeto sairia do papel, "que não passava de ilusão". Segundo ele o projeto foi aprovado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o Estado receberá US$ 200 milhões para aplicar na região.
Zeca do PT fez um discurso emocional com vários elogios ao presidente FHC, que ouviu todo o pronunciamento com um sorriso nos lábios. "Não tenho adjetivos para reconhecer tudo o que o senhor nos permitiu fazer nestes dois anos de governo", afirmou.
O discurso foi feito de improviso durante a cerimônia de assinatura do protocolo de intenção que prevê a instalação de um pólo siderúrgico em MS e do lançamento das pedras fundamentais das usinas termelétricas de Corumbá e Três Lagoas.
O governador aproveitou a oportunidade para pedir apoio do governo para a implantação de novos projetos, como a construção de um novo gasoduto e a instalação de um pólo petroquímico. "Me permito, dado ao carinho e à relação que a gente pode estabelecer, demonstrando que é possível conviver, com idéias diferentes, respeitando a democracia, se tratando com respeito institucional eu queria dizer que já começo a fazer outros sonhos", afirmou.

Ideologia

Ao discursar, FHC disse que não considerou as idéias expostas por Zeca do PT "diferentes" e afirmou que cada vez mais a ideologia está perdendo importância. "Eu não tive uma idéia diferente do que ele disse aqui. São as mesmas, são idéias de brasileiros. Cada vez mais a ideologia perde importância", disse FHC.
A assessoria do presidente nacional do PT, deputado federal José Dirceu, disse que ele não iria comentar o discurso do governador de MS antes de conhecê-lo.


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