|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUMO A 2002
Ministro admite nos bastidores que titular do BC seria mantido pelo menos no início de seu eventual governo
Serra quer Armínio como "âncora política"
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Homem ligado e subordinado a
Pedro Malan (Fazenda), o presidente do Banco Central, Armínio
Fraga, é a âncora que José Serra
pretende lançar em sua escalada
ao Planalto. Reservadamente, o
ministro da Saúde admite que
manteria Armínio à frente da economia -no BC ou na Fazenda-
caso venha a suceder Fernando
Henrique Cardoso em 2002.
Oficialmente, Serra não é nem
mesmo candidato. E, também oficialmente, não toca no assunto.
Não quer e não pode colocar o
carro na frente dos bois no momento em que trava uma disputa
acirrada com Tasso Jereissati
(CE) dentro do tucanato.
A subida da governadora Roseana Sarney (PFL), no entanto,
criou uma situação delicada para
o ministro: ela aparece como a
primeira, e até agora única, alternativa viável e competitiva no
campo governista para enfrentar
Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Mais do que isso: Roseana representa a promessa de continuidade do malanismo. Ela é o nome
que simboliza hoje a "continuidade com continuísmo", o que já começa a seduzir parte da elite, sobretudo do mercado financeiro.
As restrições de Serra ao malanismo são bem conhecidas desse
público restrito. Muito mais do
que FHC e Malan, o ministro da
Saúde acredita em política industrial e prega um papel mais ativo
do Estado na condução de políticas públicas e da própria economia. Os banqueiros torcem o nariz, desconfiados.
Mão dupla
Ao eleger Armínio como homem forte do início de um eventual governo, Serra pretende neutralizar desde já a adesão dessa elite ao fenômeno Roseana. Não se
trata, porém, apenas disso.
Armínio é tido como um homem de Malan, mas não pensa
exatamente como o ministro.
Com a discrição que o cargo lhe
exige, Armínio tem elogiado Serra
a alguns poucos amigos. Chegou a
dizer a um deles que as críticas de
Serra à política econômica eram
"absolutamente pertinentes".
O namoro que desenrola de lado a lado nos bastidores já se insinua também em público. Nos últimos dois meses, Serra passou a
elogiar em eventos abertos a atuação de Armínio à frente do BC.
Em outubro, em encontro realizado pelos tucanos em Goiânia,
Serra elogiou a "firmeza" com
que o BC estava tratando da questão cambial. O dólar estava então
cotado na casa dos R$ 2,70.
Recentemente, em palestra no
Rio, o ministro voltou a elogiar a
política do BC e citou nominalmente Armínio Fraga. O dólar fechou na sexta cotado a R$ 2,39.
Na opinião de Serra, a queda da
cotação do dólar alivia as pressões
sobre a inflação e a dívida pública.
No fim do túnel estaria a esperada
e desejada queda da taxa de juros.
Ainda na visão de Serra, a firme
atuação do BC sobre o câmbio foi
o que permitiu a percepção dos
agentes econômicos de que o Brasil descolou da Argentina. Ou seja, a capital do Brasil deixou de ser
Buenos Aires para esses agentes.
Mesma moeda
Públicos ou informais, os elogios embutem, evidentemente,
um cálculo político. "Não tem
malanismo, mas também não
tem uma volta ao velho nacionalismo, que é como alguns agentes
ainda lêem o desenvolvimentismo", diz um dos aliados da candidatura Serra no Congresso.
Na coalizão governista, o nome
de Armínio é uma carta que Serra
tem para jogar com Jorge Bornhausen (SC), o presidente do
PFL e principal artífice da candidatura Roseana. Ironicamente,
foi Bornhausen quem lançou Armínio Fraga para a Presidência da
República em dezembro do ano
passado, quando o nome de Roseana era apenas uma possibilidade vaga entre outras do PFL.
"Ele representa o novo, não tem
vinculação partidária e seria um
nome de consenso para ser discutido entre os partidos que compõem a base governista", dizia
Bornhausen à época.
Curiosamente, Bornhausen lançou o nome de Armínio para se
contrapor ao apadrinhamento da
candidatura de Tasso pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães.
Depois disso, namorou a candidatura do governador cearense
até que Roseana despontasse como alternativa para 2002.
Texto Anterior: Roseana tenta tratamento para deixar o cigarro Próximo Texto: Convenção paulista vira palco para serristas Índice
|