São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2001

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RUMO A 2002

Ministro admite nos bastidores que titular do BC seria mantido pelo menos no início de seu eventual governo

Serra quer Armínio como "âncora política"

FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Homem ligado e subordinado a Pedro Malan (Fazenda), o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, é a âncora que José Serra pretende lançar em sua escalada ao Planalto. Reservadamente, o ministro da Saúde admite que manteria Armínio à frente da economia -no BC ou na Fazenda- caso venha a suceder Fernando Henrique Cardoso em 2002.
Oficialmente, Serra não é nem mesmo candidato. E, também oficialmente, não toca no assunto. Não quer e não pode colocar o carro na frente dos bois no momento em que trava uma disputa acirrada com Tasso Jereissati (CE) dentro do tucanato.
A subida da governadora Roseana Sarney (PFL), no entanto, criou uma situação delicada para o ministro: ela aparece como a primeira, e até agora única, alternativa viável e competitiva no campo governista para enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Mais do que isso: Roseana representa a promessa de continuidade do malanismo. Ela é o nome que simboliza hoje a "continuidade com continuísmo", o que já começa a seduzir parte da elite, sobretudo do mercado financeiro.
As restrições de Serra ao malanismo são bem conhecidas desse público restrito. Muito mais do que FHC e Malan, o ministro da Saúde acredita em política industrial e prega um papel mais ativo do Estado na condução de políticas públicas e da própria economia. Os banqueiros torcem o nariz, desconfiados.

Mão dupla
Ao eleger Armínio como homem forte do início de um eventual governo, Serra pretende neutralizar desde já a adesão dessa elite ao fenômeno Roseana. Não se trata, porém, apenas disso.
Armínio é tido como um homem de Malan, mas não pensa exatamente como o ministro. Com a discrição que o cargo lhe exige, Armínio tem elogiado Serra a alguns poucos amigos. Chegou a dizer a um deles que as críticas de Serra à política econômica eram "absolutamente pertinentes".
O namoro que desenrola de lado a lado nos bastidores já se insinua também em público. Nos últimos dois meses, Serra passou a elogiar em eventos abertos a atuação de Armínio à frente do BC.
Em outubro, em encontro realizado pelos tucanos em Goiânia, Serra elogiou a "firmeza" com que o BC estava tratando da questão cambial. O dólar estava então cotado na casa dos R$ 2,70.
Recentemente, em palestra no Rio, o ministro voltou a elogiar a política do BC e citou nominalmente Armínio Fraga. O dólar fechou na sexta cotado a R$ 2,39.
Na opinião de Serra, a queda da cotação do dólar alivia as pressões sobre a inflação e a dívida pública. No fim do túnel estaria a esperada e desejada queda da taxa de juros.
Ainda na visão de Serra, a firme atuação do BC sobre o câmbio foi o que permitiu a percepção dos agentes econômicos de que o Brasil descolou da Argentina. Ou seja, a capital do Brasil deixou de ser Buenos Aires para esses agentes.

Mesma moeda
Públicos ou informais, os elogios embutem, evidentemente, um cálculo político. "Não tem malanismo, mas também não tem uma volta ao velho nacionalismo, que é como alguns agentes ainda lêem o desenvolvimentismo", diz um dos aliados da candidatura Serra no Congresso.
Na coalizão governista, o nome de Armínio é uma carta que Serra tem para jogar com Jorge Bornhausen (SC), o presidente do PFL e principal artífice da candidatura Roseana. Ironicamente, foi Bornhausen quem lançou Armínio Fraga para a Presidência da República em dezembro do ano passado, quando o nome de Roseana era apenas uma possibilidade vaga entre outras do PFL.
"Ele representa o novo, não tem vinculação partidária e seria um nome de consenso para ser discutido entre os partidos que compõem a base governista", dizia Bornhausen à época.
Curiosamente, Bornhausen lançou o nome de Armínio para se contrapor ao apadrinhamento da candidatura de Tasso pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Depois disso, namorou a candidatura do governador cearense até que Roseana despontasse como alternativa para 2002.


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