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REVOLTA NA BASE
Partido só adia convenção se cargos forem entregues em 48 horas
Governistas são acuados em reunião de cúpula do PMDB
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e seus aliados no PMDB
foram derrotados na tensa e conturbada reunião de ontem da Executiva Nacional do partido. Por 9
a 8, foi aprovado um pedido de
entrega dos cargos federais no
prazo de 48 horas como condição
para adiar a convenção de domingo da sigla.
Como os governistas do partido
já disseram que não acatarão a decisão, está mantida a convenção
que, se tiver quórum, deverá reiterar a decisão. Os governistas foram derrotados porque o adiamento da convenção era o objetivo da reunião da Executiva que
eles próprios convocaram.
Ao medir forças, os governistas
mostraram que não têm o controle formal da direção partidária e
se disseram surpreendidos com
duas supostas traições.
A saída dos aliados de Lula agora será tentar esvaziar a convenção de domingo, boicotando o
quórum (o mínimo de 260 dos
519 membros com direito a voto),
ou tentando uma decisão liminar
na Justiça que a invalide.
Os oposicionistas, porém, que já
reservaram hotéis, afirmam que
conseguirão quórum e se preparam para uma eventual contenda
jurídica. Os governistas prometem, se fracassarem novamente, ir
à Justiça contra a convenção para
continuar no governo. Os oposicionistas, em resposta, enviariam
requerimento à comissão de ética
pedindo a expulsão ou o desligamento partidário dos que permanecerem em seus cargos.
Na prática e de imediato, muda
pouco a relação de Lula com a ala
do PMDB que o apóia. O governo
continuará a ter o suporte de pelo
menos 20 dos 23 senadores e de
45 dos 76 deputados federais.
As lideranças peemedebistas na
Câmara e no Senado divulgaram
nota oficial nesta quarta-feira afirmando não reconhecer a decisão
da Executiva Nacional do partido.
Do ponto de vista político-eleitoral, porém, foi uma derrota significativa por dois motivos: 1) os
governistas prometeram a Lula
que teriam maioria na Executiva e
2) complicam-se mais os planos
do presidente de ter o PMDB como aliado oficial na sua provável
candidatura à reeleição em 2006.
Sem ampliar o número de interlocutores no PMDB e reatar laços
com antigos apoiadores que hoje
o hostilizam, Lula terá um PMDB
apenas "congressual" e não conseguirá o precioso tempo de TV
do partido daqui a dois anos.
Para consolo de Lula e infelicidade dos peemedebistas, que protagonizam cenas de autofagia política, a divisão partidária é tão
forte que dificilmente os oposicionistas conseguirão levar o partido
a apoiar um adversário de Lula
daqui a dois anos.
Reunião e traições
Depois de dizer que não convocaria a reunião da Executiva se
não tivesse maioria, o líder do
PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), foi surpreendido por
dois votos que considerava aliados: os de Tadeu Felippelli (DF) e
de Renato Viana (SC). Com eles,
previa ter 10 dos 16 membros da
Executiva a seu lado.
Mas veio de Viana uma proposta de inversão de pauta. Antes de
votar o adiamento da convenção,
decidir se os peemedebistas deveriam entregar seus cargos federais
em 48 horas como condição para
postergar o encontro de domingo. Os senadores Maguito Vilela
(GO) e Ramez Tebet (MT) chegaram a apoiá-la, mas pediram para
mudar os votos. Com isso, houve
empate de 8 a 8. O presidente do
partido, o deputado federal Michel Temer (SP), desempatou a
favor dos oposicionistas.
A proposta de entregar cargos
para adiar a convenção nasceu
anteontem numa conversa de
Maguito com Lula e o ministro
José Dirceu (Casa Civil). Nos bastidores, Dirceu jogou para enfraquecer Renan e o coordenador
político do governo, o ministro
Aldo Rebelo.
A intenção era assustar parte
dos oposicionistas, com a ameaça
de perda dos cargos. Além dos
ministérios da Previdência e das
Comunicações, peemedebistas
ocupam ou indicaram aliados para mais de cem posições federais.
Na reunião da Executiva, que
transcorreu em clima de divisão e
troca de farpas, o feitiço se virou
contra os feiticeiros.
"Houve uma inversão de competência. Por isso, a decisão não
tem concretitude nem eficácia",
disse Renan.
(KENNEDY ALENCAR, FERNANDO RODRIGUES, FERNANDA KRAKOVICS E LEILA SUWWAN)
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