São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2004

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REVOLTA NA BASE

Partido só adia convenção se cargos forem entregues em 48 horas

Governistas são acuados em reunião de cúpula do PMDB

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados no PMDB foram derrotados na tensa e conturbada reunião de ontem da Executiva Nacional do partido. Por 9 a 8, foi aprovado um pedido de entrega dos cargos federais no prazo de 48 horas como condição para adiar a convenção de domingo da sigla.
Como os governistas do partido já disseram que não acatarão a decisão, está mantida a convenção que, se tiver quórum, deverá reiterar a decisão. Os governistas foram derrotados porque o adiamento da convenção era o objetivo da reunião da Executiva que eles próprios convocaram.
Ao medir forças, os governistas mostraram que não têm o controle formal da direção partidária e se disseram surpreendidos com duas supostas traições.
A saída dos aliados de Lula agora será tentar esvaziar a convenção de domingo, boicotando o quórum (o mínimo de 260 dos 519 membros com direito a voto), ou tentando uma decisão liminar na Justiça que a invalide.
Os oposicionistas, porém, que já reservaram hotéis, afirmam que conseguirão quórum e se preparam para uma eventual contenda jurídica. Os governistas prometem, se fracassarem novamente, ir à Justiça contra a convenção para continuar no governo. Os oposicionistas, em resposta, enviariam requerimento à comissão de ética pedindo a expulsão ou o desligamento partidário dos que permanecerem em seus cargos.
Na prática e de imediato, muda pouco a relação de Lula com a ala do PMDB que o apóia. O governo continuará a ter o suporte de pelo menos 20 dos 23 senadores e de 45 dos 76 deputados federais.
As lideranças peemedebistas na Câmara e no Senado divulgaram nota oficial nesta quarta-feira afirmando não reconhecer a decisão da Executiva Nacional do partido.
Do ponto de vista político-eleitoral, porém, foi uma derrota significativa por dois motivos: 1) os governistas prometeram a Lula que teriam maioria na Executiva e 2) complicam-se mais os planos do presidente de ter o PMDB como aliado oficial na sua provável candidatura à reeleição em 2006.
Sem ampliar o número de interlocutores no PMDB e reatar laços com antigos apoiadores que hoje o hostilizam, Lula terá um PMDB apenas "congressual" e não conseguirá o precioso tempo de TV do partido daqui a dois anos.
Para consolo de Lula e infelicidade dos peemedebistas, que protagonizam cenas de autofagia política, a divisão partidária é tão forte que dificilmente os oposicionistas conseguirão levar o partido a apoiar um adversário de Lula daqui a dois anos.

Reunião e traições
Depois de dizer que não convocaria a reunião da Executiva se não tivesse maioria, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), foi surpreendido por dois votos que considerava aliados: os de Tadeu Felippelli (DF) e de Renato Viana (SC). Com eles, previa ter 10 dos 16 membros da Executiva a seu lado.
Mas veio de Viana uma proposta de inversão de pauta. Antes de votar o adiamento da convenção, decidir se os peemedebistas deveriam entregar seus cargos federais em 48 horas como condição para postergar o encontro de domingo. Os senadores Maguito Vilela (GO) e Ramez Tebet (MT) chegaram a apoiá-la, mas pediram para mudar os votos. Com isso, houve empate de 8 a 8. O presidente do partido, o deputado federal Michel Temer (SP), desempatou a favor dos oposicionistas.
A proposta de entregar cargos para adiar a convenção nasceu anteontem numa conversa de Maguito com Lula e o ministro José Dirceu (Casa Civil). Nos bastidores, Dirceu jogou para enfraquecer Renan e o coordenador político do governo, o ministro Aldo Rebelo.
A intenção era assustar parte dos oposicionistas, com a ameaça de perda dos cargos. Além dos ministérios da Previdência e das Comunicações, peemedebistas ocupam ou indicaram aliados para mais de cem posições federais. Na reunião da Executiva, que transcorreu em clima de divisão e troca de farpas, o feitiço se virou contra os feiticeiros.
"Houve uma inversão de competência. Por isso, a decisão não tem concretitude nem eficácia", disse Renan. (KENNEDY ALENCAR, FERNANDO RODRIGUES, FERNANDA KRAKOVICS E LEILA SUWWAN)


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