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Chile contesta papéis sobre dinheiro
de Pinochet que envolvem até Brasil
FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON
Um documento recém-divulgado e que havia sido apresentado
pelo ex-ditador Augusto Pinochet
(1973-90) ao Banco Riggs para
justificar a origem do dinheiro
mantido nos EUA é provavelmente falso, disse ontem o governo chileno. Na terça-feira, o "New
York Times" havia informado,
com base nesse documento, que
ao menos US$ 12,3 milhões da
fortuna do general vieram de depósitos efetuados por diversos governos, entre eles do Brasil e dos
EUA, de 1974 a 1997.
"O que estamos fazendo é questionar se esse documento existe
ou não, mas as primeiras informações que tenho é de que não
existe. Amanhã [hoje] estaremos
em condições, como governo, de
refutar a origem da fonte [das informações]", disse ontem o ministro interino da Defesa, Francisco Vidal, segundo o jornal chileno
"La Tercera".
O documento que serviu de fonte para o "NYT" foi divulgado na
semana passada pela jornalista
chilena Patricia Verdugo. Segundo ela, que refuta as informações
do diário americano, um informe
do Ministério da Defesa chileno
encaminhado ao Senado americano pelo Riggs demonstra que o
ex-ditador recebeu US$ 6,8 milhões do Ministério da Defesa chileno para serem usados em viagens ao exterior.
O Banco Riggs apresentou esses
documentos à investigação no Senado em 2002 para poder justificar a origem de até US$ 8 milhões
de Pinochet em contas secretas e
assim se defender da acusação de
que estava lavando dinheiro para
o ex-ditador.
Duas interpretações
Sob o título "Comissões de Serviço ao Estrangeiro Realizadas pelo sr. Augusto Pinochet", o documento do Ministério da Defesa
chileno demonstra que o ex-ditador recebeu, entre outros pagamentos, US$ 800 mil para uma
viagem ao Brasil, em 1974, e US$ 3
milhões para uma visita oficial
aos EUA, em 1976.
Anteontem, no entanto, o
"NYT" apresentou uma nova interpretação. Segundo a reportagem, co-assinada pelo correspondente no Brasil Larry Rohter, o
documento mostra na verdade
depósitos a Pinochet feitos por
governos de outros países, inclusive um pagamento conjunto feito pelo Brasil, pela Malásia e pelo
Reino Unido.
Esse pagamento, de US$ 3 milhões, teria sido feito em 1995, durante o governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso. Na
época, Pinochet ocupava o cargo
de comandante do Exército.
Na verdade, o general chileno
realizou, em setembro daquele
ano, uma viagem por esses três
países, conforme noticiado pela
imprensa chilena à época, indicando que a versão de Verdugo é
a mais plausível.
A versão do "NYT" sobre o documento está sendo contestada
no Chile. Os principais jornais do
país não deram destaque à reportagem do diário americano e
questionaram suas conclusões.
Os advogados de defesa de Pinochet negaram que o general tenha recebido dinheiro de outros
países. Um deles disse ao jornal
"La Tercera" que não há registros
de que Pinochet tenha recebido
dinheiro do exterior. "É provável
de que se trata de um má interpretação sobre diárias de viagem".
"NYT se equivocou"
Verdugo, uma das principais
especialistas chilenas sobre o regime de Pinochet e a primeira a avaliar o teor do documento, acredita
que "o "NYT" tenha se equivocado" na interpretação dos documentos recebidos.
"Trata-se de dinheiro que o Ministério da Defesa do Chile entregou a Pinochet, e não de dinheiro
que os países visitados entregaram a Pinochet. A fonte é um documento do Ministério da Defesa,
Subsecretaria de Guerra, dando
conta dos pagamentos a Pinochet
por diárias de viagens".
Segundo Verdugo, autora de
vários livros sobre o regime de Pinochet, a reportagem do "NYT"
chegou ao valor de US$ 12,3 milhões porque somou pesos chilenos como se fossem dólares.
O setor de relações públicas do
"NYT" voltou a informar à Folha
ontem à noite que as informações
da reportagem estão corretas.
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