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JUDICIÁRIO
Associação dos Magistrados Brasileiros vai contestar a criação de órgão fiscalizador; texto foi promulgado ontem
Juízes vão ao STF contra o controle externo
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Congresso promulgou ontem
a emenda constitucional da reforma do Judiciário, e a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) anunciou que entrará hoje
com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contestando o seu
principal ponto: a criação do
Conselho Nacional de Justiça, o
órgão de controle externo.
O presidente da AMB, Cláudio
Baldino Maciel, disse que a entidade estudava ontem incluir entre os argumentos da ação direta
de inconstitucionalidade a tese de
que o controle externo não poderia ter sido promulgado ontem,
porque precisaria de nova votação na Câmara em razão de alterações promovidas no Senado.
A dúvida sobre a validade jurídica desse artigo foi lançada anteontem pelo presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo
Cunha (PT-SP), que contestou o
rito da votação no Senado.
Ele chegou a decidir retirar o
controle externo do texto promulgado, mas recuou após forte
pressão do ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, do presidente do STF, Nelson Jobim, e do
presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Ontem, no momento da promulgação, João Paulo disse em
discurso que ele e Sarney tinham
procurado, antes de liberar o texto, "espancar quaisquer dúvidas
que pudessem sugerir alguma incorreção no rito de tramitação definido para as propostas de emendas constitucionais".
Ele afirmou que a Câmara não
tem nenhuma restrição à criação
do Conselho Nacional de Justiça e
lamentou mudanças feitas pelo
Senado na proposta de emenda.
"A proposta da Câmara é mais severa e abrangente que aquela
aprovada pelo Senado."
A promulgação ocorreu em sessão solene, no plenário da Câmara, com a presença de Jobim, de
Thomaz Bastos, e do vice-presidente da República, José Alencar,
entre outras autoridades.
A reforma do Judiciário tramitou por quase 13 anos. Ela altera o
funcionamento da Justiça em
busca de mais transparência e racionalidade. Até 2000, tramitou
na Câmara. No Senado, a votação
terminou em 17 de novembro último. Parte do texto foi alterada
pelos senadores e ainda precisará
ser apreciada pelos deputados.
O conselho será instalado no
prazo de 180 dias. Ele terá 15
membros, sendo nove juízes, dois
advogados, dois membros do Ministério Público e dois cidadãos
indicados pelo Congresso. Entre
as suas funções estão investigar
magistrados corruptos e negligentes e puni-los com medidas
administrativas, como aposentadoria compulsória, mas ele não
terá o poder de demiti-los.
Os juízes temem a participação
de pessoas "estranhas" à Justiça,
dizendo que isso interfere na independência do Poder. "O conselho abre a porta para que se politize o Judiciário da pior forma possível. Hoje são duas pessoas [indicadas pelo Congresso]. Amanhã,
poderão ser sete. Juízes julgam
prefeitos, e os partidos deles irão
indicar membros desse conselho", disse o presidente da AMB.
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