São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

25 ANOS

Êxito eleitoral do partido é indiferente a apoio do MST, diz Fábio Wanderley

De "centro", PT já não depende da velha base, dizem analistas

DA REDAÇÃO

O PT rumou ao centro, ampliou sua base e não depende dos movimentos sociais para suas próximas eleições. É o que acredita o cientista político da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Fabio Wanderley Reis.
"Não será por causa de apoio do MST que o Lula irá perder a próxima eleição", diz em referência à ameaça do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de romper com o partido, na última semana, caso o governo não cumpra a meta de famílias assentadas este ano.
Na visão de Reis, ao passo que tem enfrentado dissidências e críticas da chamada "esquerda do PT", o partido ganhou penetração eleitoral acenando para um eleitorado que se distingue de setores "supostamente ideológicos".
Esse avanço rumo ao centro é fortalecido, afirma Reis, por "um certo componente simbólico de cunho populista" na figura do presidente Lula. "A origem popular, uma certa mitologia do migrante nordestino, é um fator a mais de atração para o eleitorado", afirma o professor emérito da UFMG. Segundo ele, a mudança de rumo aproxima o PT do PSDB, seu principal rival.
O cientista político Cláudio Couto também vê deslocamento do PT ao centro e acredita que é resultado de moderações que o partido precisa fazer tanto para governar quanto para conquistar votos. "Na medida em que chega ao governo, o partido é obrigado a ser mais realista e pragmático, se afastando de certas bandeiras de esquerda, que mais apontam para valores que para políticas públicas exeqüíveis", afirma.
Couto acredita que, assim como o partido, os movimentos sociais e sindical tendem a fazer uma trajetória rumo ao centro. "Posturas como a do PSOL tendem a se tornar residuais, de pouca densidade eleitoral. O socialismo é uma página virada na história do pensamento e da ideologia", afirma.

Social-democracia
Para Carlos Ranulfo, cientista político da UFMG, o PT tem lugar singular no sistema partidário, com lugar espaçoso à esquerda. "O PT é o grande partido social-democrata do país", diz.
Ele diz que as mudanças no partido não tornam PSDB e PT equivalentes. "Embora tenha social-democracia no nome, o PSDB é um partido de elite, que começou de cima para baixo e chegou muito rápido ao poder. O PT é um partido de massas tardio".
Para Ranulfo, a conjuntura dificulta a renovação dos quadros da militância do partido. "Atrair a juventude hoje é bem diferente do que há 25 anos. As alternativas de participação política são muito maiores", afirma ele, citando movimentos sociais e ONGs. O caminho viável é a profissionalização da militância."(AMAURI ARRAIS E FLÁVIA MARREIRO)

Texto Anterior: Eleição na câmara: Procurar a oposição é "natural", diz Virgílio
Próximo Texto: Neo-aliados elogiam partido, mas esquerda petista cobra mudanças
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.