São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


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RUMO A 2002
Ele se lançaria para "atrapalhar"
Itamar afirma que pode ser candidato

MARCIO AITH
enviado especial a Nova York

O governador de Minas, Itamar Franco (sem partido, ex-PMDB), disse ontem que poderá lançar-se à corrida presidencial em 2002 para ""atrapalhar" os planos eleitorais do grupo do presidente Fernando Henrique Cardoso, tirando votos do candidato do governo e ""ajudando a eleger outro candidato de oposição" no Brasil.
A declaração foi feita ontem em Nova York depois depois de uma palestra a investidores estrangeiros promovida pelo Conselho das Américas e pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
Acompanhado de uma de suas filhas, de sua ex-namorada June, de sua ajudante-de-ordens Kênia Prates e de outros dez funcionários do governo estadual, Itamar falou na mesma sala onde, em novembro passado, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, recomendou a investidores que não colocassem dinheiro em Minas.
Foi uma palestra tensa, seguida de uma entrevista da qual também participaram investidores.
Em dois momentos, ao rebater críticas de que seu governo afasta investidores, ele disse: ""Pelo menos não cobramos caixinha". Questionado pelo tradutor sobre o significado da expressão ""caixinha", Itamar disse: ""Comissão, propina para poder investir".
Itamar disse que não estava afirmando que há corrupção no governo FHC. ""Se tem corrupção, quem tem de saber é o investidor, pois é ele que estaria envolvido."
Itamar disse não ter vontade de ser candidato à Presidência, mas que lançaria sua candidatura numa hipótese. ""Se em 2002 eu tiver 0,5%, 1% ou 2% das pesquisas e se algum candidato com, digamos, 30%, me pedir para lançar candidatura para tirar votos do governo, eu serei candidato."
Itamar disse que os investidores estrangeiros têm um entusiasmo exagerado com o governo FHC. ""Fiquem atentos, o panorama em 2002 vai mudar. Cardoso perderá força política depois das eleições municipais deste ano. O país terá um novo rumo em 2000", disse ele. ""Não é essa coisa bonitinha que vocês estão pensando, não."
Itamar não disse qual seria seu candidato ideal, e também não quis comentar hipotéticas candidaturas de ministros. ""O que eu posso dizer é que o professor Cardoso empobreceu o país."


O evento foi montado para apresentar um novo Itamar, mas tudo deu errado.
Itamar começou sua palestra a cem investidores estrangeiros exibindo um vídeo em inglês com dados econômicos otimistas de Minas e dizendo que estava lá para rebater declarações "errôneas e impatrióticas" do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que, em novembro do ano passado, sugeriu a investidores que não investissem em Minas Gerais.
Itamar disse que seu governo está aberto ao diálogo com os investidores. Disse que não é contra a privatização, mas que afastou os investidores minoritários da Cemig porque estava protegendo a Constituição do Estado e as leis do país. As razões do rompimento do acordo de acionistas da Cemig foram explicadas pelo seu assessor, Alexandre Dupeyrat.
Quando a palestra foi aberta ao público, Samantha Sparks, da corretora Warburg Tillon Read, perguntou se, em tese, Itamar seria favorável à venda de 33% da Cemig a investidores estrangeiros se essa venda tivesse amparo legal. "Não", respondeu. Um outro investidor perguntou sobre a privatização de Furnas, programada para este ano. "Também não", disse Itamar. Um terceiro perguntou sobre os bancos estaduais mineiros que foram privatizados. "Também não os teria privatizado." No final do encontro, os investidores afirmaram que Itamar deixou uma imagem pior do que a exposta por Fraga.


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