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QUESTÃO AGRÁRIA
Líder dos sem-terra refuta conclusão de estudo
Estatística do governo aponta redução nas invasões de terra
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
No mesmo dia em que o presidente Fernando Henrique Cardoso foi alvo de protestos sobre o
andamento da reforma agrária, o
ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) divulgou dados que apontam redução de 85%
nas invasões de terra desde março
de 1999 (veja quadro acima).
"Líderes dos sem-terra que estavam voltados para as invasões estão hoje sobre a terra produzindo", disse, numa alusão direta ao
principal líder dos sem-terra no
Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo), José Rainha Júnior, hoje dedicado à direção de uma cooperativa na região.
Os dados mostram queda de
47% nas invasões nos últimos seis
meses em comparação com igual
período a partir de 1996. Em abril
daquele ano, após a morte de 19
sem-terra em Eldorado do Carajás (PA), o governo criou um ministério voltado à reforma agrária, nomeando Jungmann.
Para o ministro, as manifestações dos sem-terra hoje estão
mais voltadas ao crédito subsidiado e à construção de obras de infra-estrutura nos assentamentos.
Segundo ele, o governo atendeu
desde o ano passado 110 mil famílias com a liberação R$ 500 milhões de crédito agrícola subsidiado chamado Pronaf/Planta Brasil.
Jungmann anunciou que irá encaminhar propostas à OMC (Organização Mundial do Comércio)
para eliminar barreiras econômicas aos produtos oriundos da
agricultura familiar brasileira. A
finalidade é responder às críticas
feitas ao Brasil no exterior quanto
ao uso de trabalho infantil.
O ministro desafiou o MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), ao qual o líder
Rainha é ligado, a fazer 500 invasões até abril, como prometeram
seus líderes para protestar contra
a comemoração dos 500 anos do
Descobrimento do Brasil.
"Isso é pura retórica. Prefiro
que eles mostrem 500 assentamentos que estão produzindo."
Roberto Baggio, líder do MST
no Paraná, disse que o governo
divulgou dados sobre redução de
invasões de terra para combater o
desgaste que FHC enfrenta toda
vez que viaja ao exterior.
"A divulgação desses dados visou preservar a imagem do presidente em sua viagem a Portugal,
onde recebeu manifestações de
cobrança pública pela não efetivação da reforma agrária e por perseguir o MST", disse Baggio.
Ele classificou como "escandalosos" os dados. "São escandalosos porque mostram que a reforma agrária do governo é somente
o acompanhamento das ocupações (invasões) de terra."
Pelas contas do MST, as invasões aumentaram desde dezembro passado. Isso é apontado com
o levantamento sobre os acampamentos de sem-terra, que passaram de 400 para 538 no país.
"Aumentou a pressão dos sem-terra no país e diminuiu a capacidade do governo de responder a
essa demanda social", disse.
"Além da terra, o governo não
oferece crédito e assistência técnica para o desenvolvimento das famílias assentadas."
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