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ÚLTIMO ATO
"Não vejo nenhum crime nisso", diz o ex-ministro, que deixou o cargo após suspeitas de irregularidades
De saída, Bezerra libera R$ 80 milhões
WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No seu último dia como ministro da Integração Nacional, o senador Fernando Bezerra (sem
partido-RN) liberou mais de R$
80 milhões em verbas para convênios com prefeituras e emendas
de parlamentares ao Orçamento.
"Não vejo nenhum crime nisso.
Os recursos estavam aí, liberados,
à disposição do ministério, faltando apenas algumas assinaturas",
afirmou Bezerra. "Não é esse um
dos papéis de ministro?", completou, com uma interrogação.
Bezerra espera a confirmação
da sua "exoneração a pedido" feita por carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso, entregue
ontem à noite, para "retomar dois
cargos e tomar uma atitude".
A saber: reassumir a presidência
da CNI (Confederação Nacional
da Indústria), às 12h, depois de retornar ao Senado e, assim, estar
apto a assinar o requerimento da
CPI da corrupção.
Até a conclusão desta edição, a
Casa Civil da Presidência não
confirmava a publicação da exoneração de Bezerra no "Diário
Oficial" da União de hoje, que é
necessária para que ele esteja livre
para assinar o pedido da CPI.
O senador José Eduardo Dutra
(PT-SE) procurou Bezerra ontem
pela manhã, para que ele assinasse o requerimento antes de a oposição protocolá-lo.
"Não podia fazer isso. Só amanhã [hoje], quando serei ex-ministro", acreditava Bezerra. Mas
ele se precaveu diante da possível
demora estratégica do governo:
"Vou assinar de qualquer forma,
mesmo que tenha apenas um valor simbólico e não tenha mais validade na conta oficial".
A decisão de apoiar a CPI foi objeto da última conversa entre Bezerra e FHC. Num telefonema por
volta das 16h15, Bezerra pediu
desculpas por ter pedido demissão ao vivo, pela TV, sem ter comunicado a decisão antes ao presidente e justificou sua assinatura.
"Eu disse que era para que pudesse preservar a minha honra,
para que não pairassem dúvidas
sobre as denúncias de mau uso do
dinheiro da Sudene", afirmou Bezerra. "O presidente disse que
compreendia o meu gesto."
Dizendo-se "bastante aliviado"
-sua pressão sanguínea, que é 12
por 8, havia atingido 17 por 11 no
dia da demissão-, Bezerra foi
ontem com um grupo de 11 amigos almoçar na churrascaria Porcão, a mais cara de Brasília (R$
34,50 por pessoa). O grupo tomou
três garrafas de vinho português
da marca Esporão (R$ 80 a garrafa). Depois, dividiu a conta.
Ao final do almoço, Bezerra retomou em público um de seus hábitos privados: fumar charuto.
"Não vejo o charuto como status de opulência, como sempre vi,
desde criança, em Santa Cruz do
Inharé, no sertão potiguar. Para
mim, é relaxante", afirmou.
Ele manteve as críticas ao
PMDB. "Só recebi um telefonema
de apoio: do deputado Michel Temer (SP), que disse que não pactuava com as decisões da tal cúpula do partido e que não aceitará
ser ministro no meu lugar."
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