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OUTRO LADO
Trevisan diz não ver problema em sua participação
DA REPORTAGEM LOCAL
O sócio majoritário da Trevisan
Consultores de Empresas, Antoninho Marmo Trevisan, disse não
ver impedimento ético em integrar a Comissão de Ética Pública
do gabinete da Presidência da República e ser remunerado pela
prestação de serviços de sua empresa por dinheiro proveniente
do BNDES. "É o meu trabalho. Se
você me disser que não posso
mais trabalhar, vou fechar a empresa", disse.
O auditor afirmou que os técnicos de sua empresa tiveram reuniões com técnicos do BNDES, mas não participaram da formulação do contrato. Trevisan disse
que pretende estender a experiência de Diadema a outras cooperativas e já teria sido procurado por duas. Leia trechos da entrevista:
Folha - Qual a sua opinião sobre o
fato de participar do governo, integrando a Comissão de Ética Pública
e o Conselho de Desenvolvimento
Econômico, e firmar contrato com
empresa que recebeu financiamento do BNDES?
Antoninho Marmo Trevisan - Eu
não estou vendo nenhum problema, não. Eu não sou funcionário
do governo, sou representante da
sociedade civil. Até porque é um
trabalho que existe, que acontece.
Folha - Não é ruim pegar dinheiro
de empréstimo público e, ao mesmo tempo, fiscalizar o governo na
Comissão de Ética?
Trevisan - Não estou conseguindo enxergar o que tem de errado
nisso. Tudo é tão recente. Foi agora. Esse contrato, inclusive, foi feito no ano passado.
Folha - O sr. teve contato com Lula sobre isso?
Trevisan - Absolutamente.
Folha - Com o presidente do
BNDES, Carlos Lessa?
Trevisan - Absolutamente. Em
momento nenhum. Isso foi tudo
negociado pela [cooperativa]
Uniforja no ano passado. Em setembro, acho, foi a última reunião. Nunca tive nenhum contato
dessa natureza.
Folha - E com o sindicalista Luiz
Marinho?
Trevisan - Com o sindicalista, no
ano passado. Foi quando ele apresentou o problema e o presidente
da Uniforja [José Domingos].
Folha - Sua empresa participou
da assinatura do contrato entre o
BNDES e a Uniforja?
Trevisan - Não participamos. O
que nós discutimos foi o objetivo,
o que o banco queria, aquilo que
era tecnicamente necessário. A
formulação [do contrato], não.
Folha - Um item do contrato diz
que R$ 600 mil do Fundo Social do
BNDES serão destinados à cooperativa para apoio financeiro não-reembolsável para contratação de
consultoria.
Trevisan - Quem nos paga é a
Uniforja, que fez o contrato.
Folha - Por que foi decidido que
não são reembolsáveis?
Trevisan - Aí não sei dizer. É uma
decisão do BNDES. Eles [Uniforja] estavam quebrados. Faturavam R$ 3 milhões e hoje são R$ 80
milhões. Isso graças ao trabalho
que a gente fez nesses três anos
que trabalhamos lá.
Folha - O sr. pretende assessorar
outras cooperativas?
Trevisan - Não tem dúvida. É essa a idéia. Aliás, não foi à toa que
ficamos três anos recebendo praticamente nada. Nós acreditávamos que isso poderia ser uma
grande saída, uma oportunidade
para outras cooperativas. Por isso
topamos entrar nesse processo.
Folha - O sr. tem recebido convite
de cooperativas?
Trevisan - Olha, tem duas cooperativas do Sul que eu sei que estão
nos procurando nesse sentido de
ajudá-las a implantar o sistema, a
criar toda a metodologia para recuperar as empresas. É a nossa
preocupação, digo-lhe com toda
ênfase. A situação dos juros no
Brasil, dos passivos das empresas,
está fazendo com que a situação
da maior parte das empresas entre em processo concordatário.
Situação muito difícil. Se a empresa tem problemas, para que ela
não desapareça, outras cooperativas podem assumir a empresa,
adotando essa metodologia que a
gente desenvolveu na Uniforja.
Folha - Se essas cooperativas sugerirem ao sr. um contrato nos
mesmos moldes do da Uniforja, o
sr. voltaria a assiná-lo?
Trevisan - Não vejo problema
não. Veja bem, quem toma essa
decisão é o BNDES. Isso é uma decisão do banco. Se há uma política
de apoiar as cooperativas dessa
forma, é uma decisão deles. Não
vejo nenhum problema. É o meu
trabalho. Se você me disser que
não posso mais trabalhar, vou fechar a empresa.
(RV e JD)
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