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São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2003

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OUTRO LADO

Trevisan diz não ver problema em sua participação

DA REPORTAGEM LOCAL

O sócio majoritário da Trevisan Consultores de Empresas, Antoninho Marmo Trevisan, disse não ver impedimento ético em integrar a Comissão de Ética Pública do gabinete da Presidência da República e ser remunerado pela prestação de serviços de sua empresa por dinheiro proveniente do BNDES. "É o meu trabalho. Se você me disser que não posso mais trabalhar, vou fechar a empresa", disse.
O auditor afirmou que os técnicos de sua empresa tiveram reuniões com técnicos do BNDES, mas não participaram da formulação do contrato. Trevisan disse que pretende estender a experiência de Diadema a outras cooperativas e já teria sido procurado por duas. Leia trechos da entrevista:
 

Folha - Qual a sua opinião sobre o fato de participar do governo, integrando a Comissão de Ética Pública e o Conselho de Desenvolvimento Econômico, e firmar contrato com empresa que recebeu financiamento do BNDES?
Antoninho Marmo Trevisan -
Eu não estou vendo nenhum problema, não. Eu não sou funcionário do governo, sou representante da sociedade civil. Até porque é um trabalho que existe, que acontece.

Folha - Não é ruim pegar dinheiro de empréstimo público e, ao mesmo tempo, fiscalizar o governo na Comissão de Ética?
Trevisan -
Não estou conseguindo enxergar o que tem de errado nisso. Tudo é tão recente. Foi agora. Esse contrato, inclusive, foi feito no ano passado.

Folha - O sr. teve contato com Lula sobre isso?
Trevisan -
Absolutamente.

Folha - Com o presidente do BNDES, Carlos Lessa?
Trevisan -
Absolutamente. Em momento nenhum. Isso foi tudo negociado pela [cooperativa] Uniforja no ano passado. Em setembro, acho, foi a última reunião. Nunca tive nenhum contato dessa natureza.

Folha - E com o sindicalista Luiz Marinho?
Trevisan -
Com o sindicalista, no ano passado. Foi quando ele apresentou o problema e o presidente da Uniforja [José Domingos].

Folha - Sua empresa participou da assinatura do contrato entre o BNDES e a Uniforja?
Trevisan -
Não participamos. O que nós discutimos foi o objetivo, o que o banco queria, aquilo que era tecnicamente necessário. A formulação [do contrato], não.

Folha - Um item do contrato diz que R$ 600 mil do Fundo Social do BNDES serão destinados à cooperativa para apoio financeiro não-reembolsável para contratação de consultoria.
Trevisan -
Quem nos paga é a Uniforja, que fez o contrato.

Folha - Por que foi decidido que não são reembolsáveis?
Trevisan -
Aí não sei dizer. É uma decisão do BNDES. Eles [Uniforja] estavam quebrados. Faturavam R$ 3 milhões e hoje são R$ 80 milhões. Isso graças ao trabalho que a gente fez nesses três anos que trabalhamos lá.

Folha - O sr. pretende assessorar outras cooperativas?
Trevisan -
Não tem dúvida. É essa a idéia. Aliás, não foi à toa que ficamos três anos recebendo praticamente nada. Nós acreditávamos que isso poderia ser uma grande saída, uma oportunidade para outras cooperativas. Por isso topamos entrar nesse processo.

Folha - O sr. tem recebido convite de cooperativas?
Trevisan -
Olha, tem duas cooperativas do Sul que eu sei que estão nos procurando nesse sentido de ajudá-las a implantar o sistema, a criar toda a metodologia para recuperar as empresas. É a nossa preocupação, digo-lhe com toda ênfase. A situação dos juros no Brasil, dos passivos das empresas, está fazendo com que a situação da maior parte das empresas entre em processo concordatário. Situação muito difícil. Se a empresa tem problemas, para que ela não desapareça, outras cooperativas podem assumir a empresa, adotando essa metodologia que a gente desenvolveu na Uniforja.

Folha - Se essas cooperativas sugerirem ao sr. um contrato nos mesmos moldes do da Uniforja, o sr. voltaria a assiná-lo?
Trevisan -
Não vejo problema não. Veja bem, quem toma essa decisão é o BNDES. Isso é uma decisão do banco. Se há uma política de apoiar as cooperativas dessa forma, é uma decisão deles. Não vejo nenhum problema. É o meu trabalho. Se você me disser que não posso mais trabalhar, vou fechar a empresa. (RV e JD)


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