São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Apesar da maioria de 19 votos a 13, governistas temem colocar seus nomes em votação

Governo tenta controlar CPI; oposição reage e adia votação

Alan Marques/Folha Imagem
Parlamentares participam da primeira sessão da CPI dos Correios, que foi presidida ontem pelo senador Jefferson Péres (PDT-AM)


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tentativa do governo de assumir os postos-chave da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios e assegurar o controle sobre seus trabalhos tumultuou ontem a primeira sessão da CPI, que terminou em impasse. Apesar de instalada, a falta de acordo não permitiu a escolha nem do relator nem do presidente.
A oposição resiste em ceder à manobra governista. "Isso significa pizza por antecipação", reclamou José Agripino Maia (RN), líder do PFL no Senado.
Mesmo tendo maioria na comissão, 19 contra 13, o governo preferiu não colocar em votação os seus nomes ontem e a definição sobre presidente e relator ficou para a terça-feira, dia marcado para o primeiro depoimento de Roberto Jefferson (PTB-RJ) -pivô da atual crise- no Conselho de Ética da Câmara.
"O relator vai ser o Roberto Jefferson", ironizou Efraim Morais (PFL-PB) diante do impasse.
Pela tradição do Congresso Nacional, as vagas de presidente e relator cabem às maiores bancada da Câmara, no caso o PT, e do Senado, o bloco PSDB-PFL. Os governistas, no entanto, queriam escolher um nome domesticável da oposição para ocupar a presidência da CPI, o que não foi aceito por tucanos e pefelistas.
A oposição não abria mão de indicar o senador César Borges (PFL-BA) para um dos postos-chave. O problema é que ele não foi aceito pelo temor de que a comissão acabasse sendo controlada pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
A base governista chegou a oferecer três outros nomes oposicionistas. Durante o dia, o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), apresentou o nome do senador Edison Lobão (PFL-MA), que é do grupo do senador José Sarney (PMDB-AP). Além de ser aliado do governo, Lobão possuía duas diretorias do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), que eram acumuladas por Carlos Murilo Goulart Barbosa Lima. Ele foi afastado junto com os demais diretores nesta semana.
Mercadante também tentou emplacar Sarney ou sua filha, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), mas eles não aceitaram a incumbência. "Espetacularização e estrelismo seriam danosos à oposição. Apelo para fazermos a coisa com confiança mútua", defendeu Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, que classificou a tentativa do governo de "tratoramento da maioria".
Tanto o governo quanto a oposição se acusavam de intransigência. "Não conseguiremos construir acordo em torno de nomes se não houver diálogo", disse Mercadante na sessão.
Negociações à parte, o senador atraiu, durante a sessão, apupos e coros de deboche de deputados quando fez referências a supostas práticas mais civilizadas do Senado em relação à Câmara. Citou várias vezes a "cultura do Senado", que seria diferente por apoiar-se em acordos.

Suspensão
Diante do impasse, o senador Jefferson Péres (PDT-AM), que presidia a sessão por ser o parlamentar mais idoso entre os titulares, suspendeu os trabalhos por uma hora na tentativa de ainda haver um acordo. O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), queria ir para o voto, mas o líder do PT, senador Delcídio Amaral (MS), preferiu adiar para terça-feira. "Suspendo a sessão na esperança de que nas próximas 72 horas acabe essa marcha da insensatez", anunciou Péres que ainda aposta em um acordo.
No caso de não haver acordo até lá, a expectativa do governo é eleger Delcídio Amaral para a presidência e o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para a relatoria.
O governo tentou até o último momento barrar a CPI dos Correios, originada nas denúncias de corrupção na estatal. Após a acusação feita por Roberto Jefferson de que houve pagamento de mesada na Câmara, a operação abafa se tornou insustentável e o governo apoiou a comissão.
Na noite de anteontem, a Comissão de Constituição e Justiça aprovou, por 40 votos a 6, a restrição das investigações só ao caso dos Correios. A oposição pretende, entretanto, expandir as investigações para o chamado "mensalão" pago aos deputados. Em reação, o governo ameaçava investigar a suposta compra de votos para a aprovação da emenda que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), assim como a gestão dos Correios no governo passado.
"O senhor [Maurício] Marinho tem 28 anos de Correios. Não acredito que um servidor que embolse R$ 3.000 da forma que fez tenha começado a fazer isso agora", disse Mercadante, em referência à gravação do suposto esquema de corrupção na estatal. "Isso [as investigações] inclui os dois anos e meio do governo Lula, mas inclui o governo passado."
(FERNANDA KRAKOVICS, RANIER BRAGON E LEILA SUWWAN)

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