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REFORMAS
Líderes governistas já defendem publicamente algumas mudanças
Pressões levam governo a negociar na previdenciária
RANIER BRAGON
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dois meses e dez dias depois de
enviar ao Congresso sua proposta
para a reforma da Previdência, o
governo federal cedeu ontem às
pressões lideradas pelo Judiciário
e aceitou rever pontos antes considerados imutáveis no projeto.
Com o aval do Palácio do Planalto, os líderes do governo na
Câmara dos Deputados assumiram publicamente a defesa da
manutenção da aposentadoria integral (valor igual ao último salário da ativa) e da paridade do reajuste (entre ativo e inativo) para
servidores públicos.
Na prática, isso enterra a idéia
de que trabalhadores da iniciativa
privada e servidores do Estado teriam um sistema de aposentadoria com as mesmas regras, incluindo um teto de R$ 2.400.
Os líderes governistas tentaram
descaracterizar o recuo do Planalto, argumentando que a Previdência ainda está levantando os
números e falta a palavra final do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na realidade, Lula liberou ministros e líderes para negociar a
proposta de modo a assegurar sua
aprovação e sem deixar o governo
sujeito a novo recuo.
A operação, acertada em reunião no Planalto na quinta-feira
da semana passada, foi desencadeada ontem. Pela manhã, os
principais protagonistas da reforma, líderes aliados, Judiciário e
CUT (Central Única dos Trabalhadores) fizeram um acordo na
casa do presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP).
A partir daí, João Paulo acelerou
as negociações. Chamou a seu gabinete dos líderes dos partidos de
oposição, PSDB e PFL, para uma
reunião com o ministro José Dirceu (Casa Civil). Depois, reuniu-se com o presidente do Senado,
José Sarney (PMDB-AP).
Os líderes da oposição disseram
que vão esperar pelo texto do relator da reforma, José Pimentel
(PT-CE), para se pronunciar. Mas
concordaram em ter reuniões
com o ministro da Previdência,
Ricardo Berzoini. Com Sarney foi
acertada a criação de uma comissão de 11 deputados e 11 senadores
para tentar um entendimento
prévio entre as duas Casas, o que
permitiria acelerar a votação.
Pesaram no recuo do governo o
pouco empenho dos governadores na defesa da proposta, a reação organizada dos servidores,
que ontem entraram no segundo
dia de uma greve com adesão
maior que a prevista pelo governo, e sobretudo do Judiciário [havia temor no Planalto de que os
tribunais superiores concedessem liminares contra itens da reforma], e as 453 emendas apresentadas na comissão especial,
mais da metade das quais da base
aliada do governo -o que poderia jogar a votação para depois de
agosto, contrariando o cronograma do governo.
Berzoini deixou a casa de João
Paulo dizendo que só não "batia o
martelo" porque ainda precisava
conversar com os governadores.
Mas deixou planilhas mostrando
que, pela proposta alternativa, o
governo economizaria R$ 50,72
bilhões até 2023, contra R$ 52,44
bilhões da proposta original.
Se a economia voltar a crescer, a
diferença seria diluída. Mas se os
atuais índices de crescimento forem mantidos, segundo Berzoini,
em 2023 o sistema se tornaria novamente insustentável. "Vamos
esperar os servidores discutirem
com o Congresso, mas essa negociação tem que passar pelos governadores", afirmou Dirceu.
"A negociação com o Judiciário
e com os servidores dá mais solidez à possibilidade de aprovação
com uma maioria mais ampla",
afirmou o deputado Aldo Rebelo
(PC do B-SP), líder do governo na
Câmara. Ainda está em aberto se
a paridade valerá apenas para os
atuais servidores ou se será estendida também para os novos.
Entre os líderes aliados também
há entendimento sobre o subteto
salarial nos Estados, que corresponderá a 90% do salário de ministro do STF - um novo recuo,
já que o governo falava em um
percentual de 70%.
Articulação
A ofensiva governista começou
no café da manhã com os líderes
governistas e Dirceu na casa de
João Paulo Cunha, quando o ministro deu o sinal verde para que
os deputados assumissem a defesa da proposta. Berzoini foi chamado em seguida.
Depois de Berzoini, João Paulo
chamou para a reunião o presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa, principal
porta-voz dos magistrados nas
negociações. Corrêa saiu do encontro se dizendo "satisfeito"
com a conversa.
Já no início da tarde, chegou ao
encontro o presidente da CUT,
Luiz Marinho, que almoçou com
os líderes. Na saída, afirmou que
as propostas são "insuficientes".
Líderes grevistas também não
gostaram da proposta.
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