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BNDES apóia acordo com empresa
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) defendeu enfaticamente,
em documento reservado enviado ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, a instalação da
Ford na Bahia com incentivos federais como forma de reduzir a
desigualdade econômica do Nordeste em relação a outras regiões
do país.
Apesar disso, por causa de eventuais reclamações de outros países, o Brasil talvez "tenha que fazer concessões comerciais aos
parceiros do Mercosul e a alguns
da OMC (Organização Mundial
de Comércio)", diz o estudo do
BNDES.
Obtido pela Folha, o documento do BNDES tem sete páginas e
vem assinado pelo presidente do
banco, José Pio Borges. Foi entregue a FHC no último dia 6, terça-feira desta semana.
Embora o governo já tenha
anunciado ontem que pretende
manter a Ford na Bahia, o presidente vai usar esses argumentos
do BNDES como parte de sua decisão sobre vetar, sancionar ou
sancionar parcialmente a medida
provisória aprovada pelo Congresso na semana passada, que
beneficia a instalação da montadora em Camaçari, cidade próxima a Salvador -inclusive com
um empréstimo da ordem de R$
700 milhões do BNDES.
Um dos argumentos numéricos
apresentados por Pio Borges é a
brutal concentração de empréstimos do BNDES para as regiões
Sul e Sudeste nesta década.
Em 91, segundo o documento
do BNDES, 25% dos empréstimos
do banco foram para o Nordeste,
e 64%, para as regiões Sul e Sudeste. No ano passado, esses percentuais foram de 10% para o Nordeste e 79% para o Sul e para o Sudeste. "Esse quadro, de concentração espacial dos desembolsos,
tende a se acentuar pela própria
dinâmica da economia, acirrando
ainda mais os desequilíbrios regionais do país", escreveu Pio
Borges em seu estudo para FHC.
Apesar de fazer ampla defesa da
instalação da Ford na Bahia, o
BNDES apresenta também algumas ressalvas importantes sobre a
reação internacional.
Mercosul
No âmbito do Mercosul, diz texto de José Pio Borges, não há nada
que formalmente "impeça a edição de medida alterando o regime
automotivo brasileiro até o final
de 99".
Os países do Mercosul acertaram apenas que pretendem caminhar para um regime automotivo
único a partir de 1º de janeiro do
ano 2000. Até lá, cada país faz o
ajuste que desejar, segundo o estudo do BNDES.
Já perante a OMC, conforme escreveu Pio Borges, esse tipo de incentivo para o desenvolvimento
regional "não pode ser acionado
para um setor industrial específico (deve ser genérico)". Em seguida, o relatório conclui que, por
parte da OMC, "há possibilidade
de haver contestação".
No caso da Argentina, esse país
estaria insatisfeito porque a instalação da Ford no Rio Grande do
Sul (como era o plano inicial da
montadora) traria "compensações comerciais naturais" à economia argentina. A indústria de
autopeças do país vizinho se preparava para fornecer material para a Ford. Agora, pela distância da
Bahia, isso fica inviabilizado.
Por conta dessas eventuais contestações internacionais é que o
BNDES considera que o Brasil venha a ter de fazer concessões a alguns de seus parceiros comerciais
do Mercosul e da OMC.
Incentivos
Pio Borges usa cinco argumentos para rebater as críticas sobre
os incentivos concedidos à Ford:
1) renúncia fiscal do Estado -
trata-se de uma "isenção temporária do ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços)". A "renúncia é feita em relação a uma receita virtual". Hoje,
a receita de ICMS da Ford para
com a Bahia é zero.
Pio Borges acha "improcedente" criticar a renúncia fiscal, pois,
"se a empresa não recebesse o benefício, ela simplesmente não se
instalaria no local, e, consequentemente, a receita dela derivada
também seria nula";
2) isenção temporária - o Estado
da Bahia não concederá indefinidamente o benefício à Ford, mas
por um prazo determinado;
3) outras indústrias - a instalação da Ford, ainda que com isenção de ICMS, "colocará em ação
todo um vasto conjunto de indústrias fornecedoras de produtos
para tal montadora" que estarão
pagando impostos normalmente.
Portanto, argumenta Pio Borges,
"o Estado passará a ter mais receita do que a que teria sem a instalação da montadora em questão";
4) isenção federal - apesar de a
Ford ficar isenta temporariamente de alguns impostos federais, diz
o documento do BNDES, "irá recolher outros, como, por exemplo, a CPMF ou a Cofins, de tal
modo que haverá um ganho líquido de receita";
5) empregos - haverá criação de
empregos com a implantação da
montadora. "Ou seja", escreveu
Pio Borges, "o balanço de custos e
benefícios de uma iniciativa empresarial desse porte, do ponto de
vista governamental, deve levar
em conta não apenas o cálculo
econômico, mas também os ganhos sociais que isso implica".
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