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GOVERNO
Valor é a somatória dos incentivos que podem ser dados à montadora para se instalar na Bahia
Ford causaria perda de R$ 700 mi/ano
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
O Ministério da Fazenda estima
que a Ford deixará de recolher R$
700 milhões de impostos federais
por ano quando sua fábrica da
Bahia entrar em pleno funcionamento. É o que a área econômica
chama de renúncia fiscal.
O dado consta de documento
elaborado pela Fazenda, com respaldo do Ministério de Orçamento e Gestão e da Receita Federal e
encaminhado pelo ministro Pedro Malan ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Esse estudo teve o objetivo de
dar suporte técnico a uma eventual decisão do governo de recuar,
pelo menos em parte, na concessão de isenções e incentivos fiscais
para a Ford. O recuo, porém, está
se tornando cada vez mais inviável politicamente.
O assunto foi discutido ontem
em reunião do presidente com os
ministros Malan, Pedro Parente
(Orçamento), Celso Lafer (Desenvolvimento) e Seixas Corrêa (interino do Itamaraty). Chegaram depois o secretário da Receita, Everardo Maciel, e o secretário-executivo da Fazenda, Amaury Bier.
A estimativa da área econômica
contrasta com a oferecida ontem
pelo presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA),
em fax enviado à Sucursal da Folha em Brasília com 11 argumentos a favor do acordo Ford-Bahia.
Segundo ele, a "tão propalada
renúncia fiscal custaria, ao longo
do tempo, R$ 400 milhões".
No texto, o senador, patrono da
ida da Ford para a Bahia, afirma
que "a renúncia fiscal com montadoras que se instalaram nas regiões Sudeste e Sul do país, nos
anos de 1996, 97 e 98, chegou a R$
1,7 bilhão.
Os cálculos da Fazenda para
chegar a uma renúncia fiscal de
R$ 700 milhões por ano para a
Ford foram feitos com base nas
vantagens oferecidas pelo artigo
1º da lei 9.440, de 14 de março de
1997, criando um regime especial
para as montadoras que se instalassem no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O prazo de habilitação de empresas estava vencido desde o ano
passado, mas foi estendido para
31 de dezembro deste ano numa
votação do Congresso na última
semana de junho, antes do recesso. A prorrogação foi feita exclusivamente para favorecer a implantação da Ford na Bahia.
As duas concessões consideradas mais graves no artigo 1º são
em relação ao IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados). A lei
prevê isenção do IPI na compra
de máquinas e equipamentos e
redução de 45% no mesmo imposto na compra de matérias-primas, peças e pneus.
Além disso, se o Planalto mantiver tudo como está, a Ford terá
isenção de parte do Imposto de
Renda e crédito presumido do IPI
relativo ao dobro do que a empresa pagar de PIS e Cofins.
Tudo isso, somado, pode chegar
a R$ 700 milhões por ano. Como
comparação: FHC anunciou, na
quinta-feira, a liberação de uma
verba de R$ 670 milhões para a reforma agrária, na primeira audiência do presidente com sem-terra desde abril de 1997.
Além da questão fiscal, o aval do
Planalto ao acordo da Ford com a
Bahia cria dois tipos de carros no
país: um com IPI e outro praticamente sem, o que tem sérias implicações diplomáticas, pois está
em desacordo com regras da
OMC (Organização Mundial do
Comércio) e do Mercosul.
O Itamaraty chegou a fazer uma
proposta: a de que o Planalto estendesse os benefícios para outros
setores da economia, para não caracterizar favorecimento a um setor específico. Criaria, depois, mecanismos para que os benefícios
fossem apenas legais, mas nunca
ocorressem na prática. A idéia
não prosperou.
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