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JUDICIÁRIO
Ministro dá liminar a senador e impede apuração sobre repasse de verba para empresas do político
STF barra investigação sobre Estevão
SILVANA DE FREITAS
FLÁVIA DE LEON
da Sucursal de Brasília
O STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu por liminar a investigação do Ministério Público
Federal sobre o suposto repasse
de recurso público destinado à
construção do Fórum Trabalhista
de São Paulo para o Grupo OK,
pertencente ao senador Luiz Estevão (PMDB-DF).
A liminar foi concedida pelo vice-presidente do STF, ministro
Marco Aurélio de Mello, primo de
Fernando Collor e amigo de Estevão, avalista do ex-presidente na
chamada operação Uruguai.
Essa operação foi um empréstimo que Collor teria tomado de
uma instituição financeira uruguaia em 1989 e apresentado como prova contra a acusação de
corrupção passiva no processo de
impeachment, em 1992.
Coube a Marco Aurélio examinar o pedido porque ele é o responsável até a próxima semana
pelo exame de processos urgentes
em regime de plantão do STF.
Ele acolheu argumento de Estevão de que a investigação feita por
três procuradores da República
em São Paulo tinha caráter criminal, o que a tornaria irregular.
O ministro disse, em seu despacho, que o inquérito civil público
instaurado em 1º de junho só tinha o caráter civil no próprio nome. Ele considerou que se tratava
de investigação do crime de fraude à licitação, previsto no Código
Penal. Portanto, somente o STF
poderia conduzir a investigação.
Os procuradores afirmam que a
investigação é exclusivamente civil: a finalidade seria apurar improbidade administrativa, desvio
de recursos oriundos do Tribunal
Regional do Trabalho de São Paulo e dano ao patrimônio público.
Paralelamente à CPI do Judiciário, o Ministério Público Federal
apurava transferências de verbas
para o Grupo OK feitas da empresa Incal e da subsidiária Ikal, que
ganharam a construção do fórum
-ainda inacabado- sem participar da licitação. O Grupo OK
participou da concorrência e perdeu por poucos pontos.
A Folha procurou ouvir o senador Luiz Estevão, mas não foi possível. A reportagem deixou recado para o senador em seu gabinete, com a secretária Patrícia.
Perigo
Para membros da CPI do Judiciário, que encontraram os repasses de verbas da Incal e da Ikal para empresas de Estevão, a decisão
de Marco Aurélio é perigosa.
"É uma ampliação extremamente perigosa do conceito de
imunidade parlamentar. O inquérito não está investigando o senador Luiz Estevão, mas o repasse
de verbas para as empresas dele.
Se passarmos a estender a imunidade às empresas, será um absurdo", afirmou o senador José
Eduardo Dutra (PT-SE), o único
membro da comissão que aceitou
comentar abertamente a decisão.
Na última quinta, o relator da
CPI do Judiciário, senador Paulo
Souto (PFL-BA), disse que há "indícios fortes" de que os responsáveis pela construção do fórum de
São Paulo cometeram crime de
improbidade administrativa e
enriqueceram ilicitamente.
Deverão ser indiciados nesses
crimes, no relatório final de Souto, o ex-presidente do TRT-SP Nicolau dos Santos Neto e os empresários Fábio Monteiro de Barros
Filho e José Eduardo Ferraz.
Santos Neto acompanhou a
construção e liberação de recursos como presidente da Comissão
de Obras do tribunal. Monteiro de
Barros é o dono da Incal e da Ikal.
Ferraz declarou em depoimento
à CPI ser diretor das empresas,
mas disse não ter participação societária, como se supunha.
É ele quem assina as procurações dadas a empresas de Estevão,
permitindo que recebessem os recursos públicos para obras do
DNER e Dnocs ganhas pela Ikal.
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