São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA Órgão diz que plano de atender 85 mil famílias será prejudicado, apesar de liberação de verba Incra pode rever meta de assentamento
RICARDO GALHARDO enviado especial a Brasília O presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Nelson Borges, disse ontem que a meta de 85 mil assentamentos prevista pelo governo para 1999 pode ser revista. "Se não aumentar o dinheiro, eu diminuo o número de famílias porque não faço milagres", disse o presidente do órgão. Segundo Borges, o cumprimento da meta depende da liberação de verbas por parte do governo e da recomposição orçamentária do instituto que está sendo feita por técnicos do Incra. O governo assentou só 13 mil famílias neste ano. Segundo o Ministério da Política Fundiária, nos primeiros seis meses de 1998 foram assentadas 26 mil famílias. Para o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o Incra não tem dinheiro nem tempo hábil para cumprir a meta de 85 mil famílias. Borges exemplificou a possibilidade de redução da meta citando o impasse entre Incra e MST sobre o custo das moradias em assentamentos. O Incra dá R$ 1.800 para a construção de uma casa. Segundo cálculos dos sem-terra, o mínimo necessário é R$ 4.000. "Suponhamos que os técnicos cheguem a R$ 2.300 (por moradia) e ele (o governo) não aumente um tostão a mais (o orçamento do Incra). Aí eu faço menos famílias. Vamos recompor o orçamento, ver o que está faltando e rever até a meta", disse Borges. Governo e MST iniciaram ontem as negociações sobre a recomposição orçamentária do Incra. Anteontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou a liberação de R$ 680 milhões para o Incra. O instituto havia sofrido corte de R$ 550 milhões. A partir de terça-feira, técnicos do Incra e do MST vão discutir pontualmente os valores dos financiamentos. Segundo Borges, o critério para definição desses valores será exclusivamente técnico. Para evitar a necessidade de revisão da meta de assentamentos, o Ministério da Política Fundiária enviou ao Ministério de Orçamento e Gestão uma mensagem pedindo mais R$ 317 milhões. A Folha apurou com participantes do encontro que o próprio presidente FHC admitiu, durante a audiência que teve com os sem-terra anteontem, que o ritmo dos assentamentos caiu em 1999. FHC disse que o motivo da lentidão é a crise econômica iniciada em janeiro que, segundo ele, foi "a pior desde 1929". O MST colheu ontem os primeiros frutos da reaproximação com o governo federal. O Incra se comprometeu a liberar até a próxima semana R$ 100 milhões que seriam destinados a projetos do Procera (Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária) e acabaram bloqueados com o fim do programa. Texto Anterior: STF barra investigação sobre Estevão Próximo Texto: FHC não citou uso de lei, diz participante Índice |
|