São Paulo, segunda, 10 de agosto de 1998

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PERNAMBUCO
Caso mais grave é o de Santa Cruz do Capibaribe, onde os habitantes vivem um dia com água e dez sem
Estiagem já atinge as cidades do agreste

VANDECK SANTIAGO
Santa Cruz do Capibaribe (PE)


A seca que atinge o Nordeste não se restringe à zona rural do sertão; alastrou-se para o agreste e está também afetando áreas urbanas, provocando colapso de abastecimento de água em cidades da região. É a chamada "seca urbana".
Em pelo menos cinco municípios do agreste a estiagem já provocou a necessidade de racionamento. Em Caruaru (130 km de Recife), por exemplo, em alguns bairros a população tem um dia com água e dez sem.
O caso mais grave, porém, é o de Santa Cruz do Capibaribe (215 km de Recife). A barragem Poço Fundo, que abastecia a cidade, secou. O que restou de água forma um pequeno poço que é utilizado por mulheres para lavar roupas.
O trecho do rio Capibaribe que passa pelo município secou.
Há quatro meses toda a cidade vive o drama da falta de água. Hospitais, lojas, residências têm que comprar água e armazená-la em cisternas, caixas de água, latas ou baldes.
"E não há o menor sinal de que a situação vá melhorar. Parece até que o pior ainda está por vir", disse o presidente da Comissão Municipal Contra a Seca e secretário da Agricultura, Natálio Arruda.
O agreste é uma área de transição entre o litoral e o semi-árido. Santa Cruz tem 47 mil habitantes, oficialmente, dos quais menos de 10% moram na zona rural.
A cidade é conhecida em todo o Estado pela produção de "sulanca" (confecção popular), realizada em microindústrias de fundo de quintal.
A característica industrial e comercial do município atrai gente de todo o Estado, em busca de emprego, tornando Santa Cruz do Capibaribe um pequeno pólo de atração para migrantes. "Hoje, com essa população flutuante, nós temos aqui pelo menos umas 60 mil pessoas", disse Arruda.
Para o diretor do Sindicato de Trabalhadores Rurais, Abner Climério, a população urbana de Santa Cruz está "sentindo o sofrimento pelo qual passa o morador da zona rural".
A frente de trabalho instalada na cidade tem 452 alistados. Precisaria de pelo menos o dobro, diz o sindicato e o presidente da Comissão Municipal Contra a Seca.
O abastecimento está sendo feito por caminhões-pipa e carroceiros, que transportam a água em carroças puxadas por jumento.
Em áreas pobres, caminhões-pipa pagos pela prefeitura e pelo governo do Estado fazem a distribuição gratuita da água -mesmo assim, em quantidade insuficiente. Nos carroceiros, a lata de água é comprada por R$ 0,50.



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