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CELSO PINTO
A receita do Fed
Qual o segredo do Fed, o banco
central americano, para conseguir manter a inflação baixa durante tantos anos, junto com boa
taxa de crescimento e baixo nível
de desemprego?
Parte da resposta está no livro
de Alan Blinder "Bancos Centrais: Teoria e Prática", que a editora 34 está lançando no Brasil.
Blinder, professor da Universidade de Princeton, foi vice-presidente do board do Fed, e braço direito
de Alan Greenspan, de 1994 a
1996.
O livro é formado por três ensaios originados de conferências
de Blinder na London School of
Economics. É uma reflexão sobre
os problemas básicos dos bancos
centrais, que mistura lições teóricas para questões práticas com lições práticas para questões teóricas.
Existem dois elos de ligação
com o Brasil. Um é que muitas
das questões de política monetária do Fed tratadas se assemelham aos problemas de hoje, no
Brasil, com o câmbio flutuante,
como observa o ex-presidente do
Banco Central Pérsio Arida no
prefácio. Outro é que o presidente
do BC, Armínio Fraga, é um fã do
livro e de suas idéias, o que torna
mais interessante conhecê-las.
Há muito tempo o Fed deixou
de perseguir metas rígidas monetárias, e com toda a razão, sustenta Blinder. Na prática, o Fed busca uma inflação baixa, olhando
vários indicadores, não só a moeda, e usando a taxa de juros como
instrumento.
Blinder defende o uso de modelos econométricos entre os indicadores, mas com uma pitada de
pragmatismo. "Precisa haver tanto arte quanto ciência nas atividades de bancos centrais", escreve. Ter esses indicadores é melhor
do que não tê-los, mas respeitado
um princípio: "Use uma ampla
variedade de modelos e nunca
confie demais em nenhum deles".
Na velha discussão entre as
vantagens de o BC seguir uma regra rígida, ou usar seu poder discricionário, Blinder é claramente
favorável a uma dose de arbítrio.
A receita ideal para o BC é ter
bons indicadores econométricos,
estimar o que eles sugerem em
termos de política econômica e fazer um pouco menos. Só depois de
observar a reação da economia o
BC deve decidir entre avançar na
mesma direção ou voltar atrás.
O BC não deve confiar cegamente nem na econometria, nem
nos mercados. Os mercados embutem expectativas sobre decisões
futuras do BC nos preços dos ativos. Se o BC fizer exatamente o
que o mercado espera que faça,
haverá menos surpresas, menos
patrimônios serão afetados e
mais elogios virão para a autoridade.
No entanto, a política monetária gerada por essa fórmula acabará sendo muito fraca. Os mercados, observa Blinder, agem como manadas, exageram no otimismo e no pessimismo e "frequentemente comportam-se como se tivessem uma visão grotescamente míope". Além de se concentrar no curto prazo, o mercado tende a reproduzir o que ele
acha que o BC fará. Se o BC sempre seguir o mercado, estará agindo como "o cachorro perseguindo
o próprio rabo".
Além dessa independência em
relação ao mercado financeiro,
Blinder defende uma independência operacional para o BC.
Por várias razões. A política monetária exige um horizonte de
longo prazo e reduzir a inflação é
algo que tende a ter custos no início e gerar retornos positivos de
forma gradual. Nem os políticos,
nem a mídia, nem a população
tendem a ter paciência ou visão
de longo prazo, observa.
É sábio dar autonomia ao BC
para operar. Dentro, no entanto,
de objetivos e metas definidas por
políticos democraticamente eleitos. E com mecanismos claros de
responsabilização e controle do
BC. Ele defende, inclusive, mecanismos como os que existem nos
Estados Unidos, que permitem revogar uma decisão do BC, ou demitir seu presidente, mas apenas
em situações extremas.
Blinder é a favor do máximo
possível de transparência do BC e
do uso de comitês (como o Fomc,
nos EUA, e o Copom, no Brasil)
para as decisões de política monetária.
Inflação em alta
No último mês, subiram todas
as projeções do mercado financeiro, coletadas pelo BC, para a
inflação deste ano. Do dia 2 de
julho à última sexta-feira, a projeção para o IPCA saltou de 7,3%
para 7,7%; para o IGP-DI, de
11,9% para 12,59%; para o IGP-M, de 11,7% para 12,9%; para o
IPC da Fipe, de 6,3% para 6,51%;
e para o INPC, de 7,36% para
7,47%.
Dólar em alta
A nova alta do dólar, ontem,
para R$ 1,86, veio do desânimo
interno e externo que já existia
somado a dois exageros: os boatos de saída do ministro Pedro
Malan e a leitura de que o PFL
vai abandonar, de vez, o governo.
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