São Paulo, Terça-feira, 10 de Agosto de 1999
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CELSO PINTO
A receita do Fed

Qual o segredo do Fed, o banco central americano, para conseguir manter a inflação baixa durante tantos anos, junto com boa taxa de crescimento e baixo nível de desemprego?
Parte da resposta está no livro de Alan Blinder "Bancos Centrais: Teoria e Prática", que a editora 34 está lançando no Brasil. Blinder, professor da Universidade de Princeton, foi vice-presidente do board do Fed, e braço direito de Alan Greenspan, de 1994 a 1996.
O livro é formado por três ensaios originados de conferências de Blinder na London School of Economics. É uma reflexão sobre os problemas básicos dos bancos centrais, que mistura lições teóricas para questões práticas com lições práticas para questões teóricas.
Existem dois elos de ligação com o Brasil. Um é que muitas das questões de política monetária do Fed tratadas se assemelham aos problemas de hoje, no Brasil, com o câmbio flutuante, como observa o ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida no prefácio. Outro é que o presidente do BC, Armínio Fraga, é um fã do livro e de suas idéias, o que torna mais interessante conhecê-las.
Há muito tempo o Fed deixou de perseguir metas rígidas monetárias, e com toda a razão, sustenta Blinder. Na prática, o Fed busca uma inflação baixa, olhando vários indicadores, não só a moeda, e usando a taxa de juros como instrumento.
Blinder defende o uso de modelos econométricos entre os indicadores, mas com uma pitada de pragmatismo. "Precisa haver tanto arte quanto ciência nas atividades de bancos centrais", escreve. Ter esses indicadores é melhor do que não tê-los, mas respeitado um princípio: "Use uma ampla variedade de modelos e nunca confie demais em nenhum deles".
Na velha discussão entre as vantagens de o BC seguir uma regra rígida, ou usar seu poder discricionário, Blinder é claramente favorável a uma dose de arbítrio. A receita ideal para o BC é ter bons indicadores econométricos, estimar o que eles sugerem em termos de política econômica e fazer um pouco menos. Só depois de observar a reação da economia o BC deve decidir entre avançar na mesma direção ou voltar atrás.
O BC não deve confiar cegamente nem na econometria, nem nos mercados. Os mercados embutem expectativas sobre decisões futuras do BC nos preços dos ativos. Se o BC fizer exatamente o que o mercado espera que faça, haverá menos surpresas, menos patrimônios serão afetados e mais elogios virão para a autoridade.
No entanto, a política monetária gerada por essa fórmula acabará sendo muito fraca. Os mercados, observa Blinder, agem como manadas, exageram no otimismo e no pessimismo e "frequentemente comportam-se como se tivessem uma visão grotescamente míope". Além de se concentrar no curto prazo, o mercado tende a reproduzir o que ele acha que o BC fará. Se o BC sempre seguir o mercado, estará agindo como "o cachorro perseguindo o próprio rabo".
Além dessa independência em relação ao mercado financeiro, Blinder defende uma independência operacional para o BC. Por várias razões. A política monetária exige um horizonte de longo prazo e reduzir a inflação é algo que tende a ter custos no início e gerar retornos positivos de forma gradual. Nem os políticos, nem a mídia, nem a população tendem a ter paciência ou visão de longo prazo, observa.
É sábio dar autonomia ao BC para operar. Dentro, no entanto, de objetivos e metas definidas por políticos democraticamente eleitos. E com mecanismos claros de responsabilização e controle do BC. Ele defende, inclusive, mecanismos como os que existem nos Estados Unidos, que permitem revogar uma decisão do BC, ou demitir seu presidente, mas apenas em situações extremas.
Blinder é a favor do máximo possível de transparência do BC e do uso de comitês (como o Fomc, nos EUA, e o Copom, no Brasil) para as decisões de política monetária.

Inflação em alta
No último mês, subiram todas as projeções do mercado financeiro, coletadas pelo BC, para a inflação deste ano. Do dia 2 de julho à última sexta-feira, a projeção para o IPCA saltou de 7,3% para 7,7%; para o IGP-DI, de 11,9% para 12,59%; para o IGP-M, de 11,7% para 12,9%; para o IPC da Fipe, de 6,3% para 6,51%; e para o INPC, de 7,36% para 7,47%.

Dólar em alta
A nova alta do dólar, ontem, para R$ 1,86, veio do desânimo interno e externo que já existia somado a dois exageros: os boatos de saída do ministro Pedro Malan e a leitura de que o PFL vai abandonar, de vez, o governo.


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