|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Como fariam os idiotas
Os embaraços se sucedem e a
providência que o governo concebe é sempre, é invariavelmente a mesma: aumento de
impostos e corte de investimentos e gastos sociais -o espetáculo dos últimos dias. Isso,
qualquer idiota posto na presidência e outro na Fazenda saberiam fazer.
Não é o caso de propor que os
atuais ocupantes do cargo sejam substituídos, embora o
custo muito menor, por dois
idiotas matriculados, porque o
resultado prático na condução
da economia seria o mesmo. É
o caso, só, de umas poucas considerações.
Nas "soluções", sejam as dos
pacotes ou das reformas que
nada reformam, o governo já
deu todas as provas possíveis
de que a criatividade das suas
principais cabeças é a mesma
encontrável nas cabeças de alfinetes. Logo, nenhuma expectativa de melhoria verdadeira,
ainda que pontual, tem cabimento enquanto os alfinetes
forem as cabeças pensantes do
governo. O esperançoso arrisca
igualar-se aos alfinetes oficiais.
Mas a pressão da grande caldeira nacional está subindo
muito, como resultado de cinco
anos de soluções que só agravam. E subindo depressa. Mesmo que os integrantes de marchas de protesto sejam uma
fauna e a oposição, um zoológico, segundo a ótica atucanada de uma coluna política, o
governo dos tais intelectuais
não sabe o que fazer diante da
fermentação. Não pelo fato em
si. Mas porque incapaz, pela
própria natureza dos que o
personificam, para criar soluções verdadeiras aos problemas que estão aumentando a
fermentação.
Recordistas embora, os índices das pesquisas são apenas
uma idéia superficial do que
incandesce por baixo. O país
está, portanto, no limiar de
uma fase cujo potencial dramático já é bem conhecido. Em
tais circunstâncias, hoje em dia
não há porque pensar nos militares, mas, sim, em governadores e, sobretudo, em secretários
de Segurança, com suas polícias que, por exemplo em São
Paulo, já começam a mostrar o
que são.
Os problemas agitam a indignação social, o governo só é
capaz de agravar impostos e
cortar verbas, o Congresso foi
desestruturado pelo servilismo
a Fernando Henrique e o empresariado não tem visão para
além do seu bolso. Como diziam outrora, todo cuidado é
pouco - a sugestão, por certo,
menos aproveitada neste país.
O dinheiro que falta
Dinheiro do Sebrae, para
apoio à pequena empresa, está
sendo aplicado em propaganda escancarada do governo e
de Fernando Henrique Cardoso em pessoa, como se ouviu,
nesta semana, em transmissão
paga de rádios. A propaganda
transmitida não cabe, nem a
martelo, no pretexto de que teria alguma utilidade para o
pequeno empresário.
A Previdência, por sua vez,
com o escândalo que o governo
faz do déficit previdenciário,
teria como usar mais útil e
mais legalmente o dinheiro
que está gastando em publicidade. E não só por ser propaganda inócua, mas porque frequentemente enganosa. Ou
melhor, mentirosa mesmo, falando de extinção das filas, civilidade de atendimento, eficiência, rapidez e outras ausências que o infeliz segurado
padece no inferno previdenciário.
O Ministério da Educação
não fica atrás, com o inócuo
uso de verba para a tolice de
propagandear que o ensino
agora está ligado à vida, e outros besteiróis. O único benefício que esses gastos trazem é
fazer com que os respectivos
ministros recebam a retribuição de ser postos com frequência em rádios, para entrevistas
em que tudo é combinado, e
tão tolo e inútil. Como a publicidade que pagam com dinheiro tirado de fins necessários.
É assim que o governo, coitadinho sem recursos, vai fazendo, neste ano, o gasto de meio
bilhão em publicidade.
Texto Anterior: Governo: Lobby ajuda prorrogação de bingo Próximo Texto: Segredos do poder: Polícia crê que a ordem para o grampo foi escrita Índice
|