São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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JANIO DE FREITAS

Como fariam os idiotas

Os embaraços se sucedem e a providência que o governo concebe é sempre, é invariavelmente a mesma: aumento de impostos e corte de investimentos e gastos sociais -o espetáculo dos últimos dias. Isso, qualquer idiota posto na presidência e outro na Fazenda saberiam fazer.
Não é o caso de propor que os atuais ocupantes do cargo sejam substituídos, embora o custo muito menor, por dois idiotas matriculados, porque o resultado prático na condução da economia seria o mesmo. É o caso, só, de umas poucas considerações.
Nas "soluções", sejam as dos pacotes ou das reformas que nada reformam, o governo já deu todas as provas possíveis de que a criatividade das suas principais cabeças é a mesma encontrável nas cabeças de alfinetes. Logo, nenhuma expectativa de melhoria verdadeira, ainda que pontual, tem cabimento enquanto os alfinetes forem as cabeças pensantes do governo. O esperançoso arrisca igualar-se aos alfinetes oficiais.
Mas a pressão da grande caldeira nacional está subindo muito, como resultado de cinco anos de soluções que só agravam. E subindo depressa. Mesmo que os integrantes de marchas de protesto sejam uma fauna e a oposição, um zoológico, segundo a ótica atucanada de uma coluna política, o governo dos tais intelectuais não sabe o que fazer diante da fermentação. Não pelo fato em si. Mas porque incapaz, pela própria natureza dos que o personificam, para criar soluções verdadeiras aos problemas que estão aumentando a fermentação.
Recordistas embora, os índices das pesquisas são apenas uma idéia superficial do que incandesce por baixo. O país está, portanto, no limiar de uma fase cujo potencial dramático já é bem conhecido. Em tais circunstâncias, hoje em dia não há porque pensar nos militares, mas, sim, em governadores e, sobretudo, em secretários de Segurança, com suas polícias que, por exemplo em São Paulo, já começam a mostrar o que são.
Os problemas agitam a indignação social, o governo só é capaz de agravar impostos e cortar verbas, o Congresso foi desestruturado pelo servilismo a Fernando Henrique e o empresariado não tem visão para além do seu bolso. Como diziam outrora, todo cuidado é pouco - a sugestão, por certo, menos aproveitada neste país.

O dinheiro que falta
Dinheiro do Sebrae, para apoio à pequena empresa, está sendo aplicado em propaganda escancarada do governo e de Fernando Henrique Cardoso em pessoa, como se ouviu, nesta semana, em transmissão paga de rádios. A propaganda transmitida não cabe, nem a martelo, no pretexto de que teria alguma utilidade para o pequeno empresário.
A Previdência, por sua vez, com o escândalo que o governo faz do déficit previdenciário, teria como usar mais útil e mais legalmente o dinheiro que está gastando em publicidade. E não só por ser propaganda inócua, mas porque frequentemente enganosa. Ou melhor, mentirosa mesmo, falando de extinção das filas, civilidade de atendimento, eficiência, rapidez e outras ausências que o infeliz segurado padece no inferno previdenciário.
O Ministério da Educação não fica atrás, com o inócuo uso de verba para a tolice de propagandear que o ensino agora está ligado à vida, e outros besteiróis. O único benefício que esses gastos trazem é fazer com que os respectivos ministros recebam a retribuição de ser postos com frequência em rádios, para entrevistas em que tudo é combinado, e tão tolo e inútil. Como a publicidade que pagam com dinheiro tirado de fins necessários.
É assim que o governo, coitadinho sem recursos, vai fazendo, neste ano, o gasto de meio bilhão em publicidade.


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