São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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SEGREDOS DO PODER
Documento estaria com o agente Telmo, suposto autor
Polícia crê que a ordem para o grampo foi escrita

RONALDO SOARES
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

A PF (Polícia Federal) está convencida de que existe uma ordem de serviço escrita em que a direção da SSI (Subsecretaria de Inteligência) do governo federal orienta agentes no Rio a instalar grampos no BNDES na época da privatização das teles, no ano passado.
Esse suposto documento, que está sendo procurado pela PF, é considerado pelos investigadores a prova que falta para elucidar a autoria do grampo e encerrar o inquérito.
Suspeita-se, nas investigações conduzidas pelos agentes federais, de que a ordem de serviço estaria em poder de Temílson Resende, o Telmo, analista de informações da SSI no Rio e principal acusado de ser o autor do grampo.
Desse documento constaria a determinação para que a equipe da SSI lotada no Rio grampeasse os telefones de executivos do governo que atuaram no processo de venda das estatais de telecomunicações.
O documento, se localizado, comprovaria a tese dos policiais federais encarregados da investigação de que o grampo foi institucional, ou seja, teria sido uma determinação oficial da SSI na tentativa de descobrir possíveis irregularidades no processo de privatização.
Em princípio, o governo descarta essa hipótese. Em entrevista à Folha na sexta-feira, o general Alberto Cardoso disse que essa ordem de ""grampo institucional" nunca foi proferida.
Cardoso é o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ex-Casa Militar, e responsável pela área de inteligência do governo. O grampo derrubou nomes-chave do governo, como o então ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações).
A Folha apurou que, para a PF, a ordem de serviço conteria autorização para a compra de material usado em grampos -equipamento que é conectado às linhas telefônicas e a gravadores.
As suspeitas de que o documento estaria com Telmo foram reforçadas pela principal testemunha do caso, o ex-agente federal Célio Arêas Rocha, que em dossiê entregue à Justiça afirma que o analista da SSI teria uma "carta na manga" se fosse incriminado no caso.
No dossiê, Rocha diz que Telmo tem "cópias de documentos da Abin (Agência Brasileira de Inteligência, como é conhecida a SSI) e/ou outros órgãos como "carta na manga" para apresentar à imprensa ou à Justiça, caso seja condenado".
De acordo com as investigações da PF, Telmo teria sido designado para realizar a escuta.
Após fazer o trabalho, teria negociado as fitas com pessoas interessadas em conhecer os bastidores da privatização das empresas de telecomunicações.
Esta semana, o presidente do inquérito, delegado federal Rubens Grandini, pedirá à Justiça mais dez dias para encerrar definitivamente as investigações.
O prazo é considerado por Grandini suficiente para que o esclarecimento do caso, segundo a Folha apurou.
Quatro pessoas já foram indiciadas. Duas delas acusadas pelo grampo: Telmo e o detetive particular Adilson Alcântara de Matos.
O ex-coordenador da SSI no Rio João Guilherme Almeida, atualmente em Brasília, e o coordenador de Operações da SSI, Gersy Firmino da Silva, foram indiciados sob a acusação de falso testemunho nos depoimentos que prestaram à Polícia Federal.



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