São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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RUMO A 2002

Pré-candidato é ligado a parque que ajudou

da Reportagem Local

Ciro Gomes beneficiou o Beach Park quando foi governador do Ceará, entre 91 e 94. Quando voltou dos Estados Unidos, em 97, ele foi trabalhar na empresa. Até hoje Ciro usa um Audi A-6 de propriedade do Beach Park.
O Beach Park é considerado o maior parque aquático da América Latina e ocupa uma área de 15 hectares na praia do Porto das Dunas, região metropolitana de Fortaleza (CE).
O parque fica a cerca de 22 km da capital cearense. Até o governo Ciro, só havia uma estrada de terra até lá. Mas ela foi asfaltada, facilitando o acesso dos turistas.
"O Ciro deu de presente essa estrada", afirma Arialdo Pinho, um dos sócios do Beach Park, que se diz íntimo do ex-governador e ex-ministro da Fazenda (governo Itamar).
Mas a principal ajuda que o governo Ciro deu ao parque foi a criação de um sistema de parcerias de publicidade, pelo qual a Coditur (Companhia de Desenvolvimento Industrial e Turístico) -empresa ligada à Secretaria da Indústria, Comércio e Turismo do Ceará- e as empresas turísticas do Estado dividiam as despesas das campanhas publicitárias.
De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Turismo do Ceará, o Beach Park é o maior parceiro do Estado nesse tipo de parceria. O governo paga metade do custo das campanhas realizadas em todo o país.
A Folha apurou que o parque estava em dificuldades financeiras quando a parceria começou. Mas, com os anúncios, logo houve um aumento substancial na procura pela atração turística.
A parceria nos anúncios turísticos entre o governo do Ceará e o Beach Park é feita até hoje. A próxima campanha, a ser veiculada em revistas especializadas durante os meses de outubro e novembro, está orçada em R$ 1,3 milhão e o Estado vai pagar a metade.
A Secretaria de Turismo não divulgou os valores gastos com publicidade no governo Ciro.

Emprego
Há muitas versões sobre os serviços que Ciro Gomes prestou ao Beach Park. Ele e Arialdo Pinho, um dos sócios do Beach Park, contam histórias completamente diferentes sobre o caso.
De acordo com Pinho, Ciro trabalhou no Beach Park por um ano e meio, de janeiro de 97 até o início da campanha à Presidência da República (98), com salário mensal de R$ 10 mil. Ele teria exercido o cargo de diretor estratégico durante todo esse período.
"Ciro era meu amigo antes de ser prefeito, governador. Conheci o Ciro aqui, como cliente. Ele foi deputado, prefeito, governador. Aí ele foi para os Estados Unidos, eu o visitei lá. Quando ele veio para o Brasil, eu chamei (para trabalhar no parque)", disse Pinho.
Pinho afirma que o trabalho de Ciro fez o parque economizar dinheiro. "Ele sempre dizia que o dólar ia estourar. Acabei com as aplicações em dólar em novembro de 98 e o câmbio explodiu em janeiro de 99", relata.
Questionado sobre como eram feitos os pagamentos para Ciro, Pinho afirma: "Em dinheiro, como o de todos os funcionários".
A declaração de renda de Ciro não informa qualquer valor como rendimento do parque. Essas pagamentos seriam tributáveis.
Na última sexta-feira, a Folha ouviu Ciro Gomes por telefone. A bateria do telefone celular dele Ciro acabou durante a entrevista, quando o tema era o Beach Park.
A Folha procurou o líder da bancada do PPS na Câmara dos Deputados, João Hermann (PPS-SP), que estava ontem com Ciro no Rio de Janeiro, para pedir um novo contato com o ex-ministro, para que ele respondesse sobre os salários do Beach Park.
Hermann disse: "Salários? Ele não recebeu "pró-labore'?" Os sócios das empresas podem fazer retiradas mensais por serviços prestados, chamadas "pró-labore".
Ciro jamais constou como sócio do Beach Park nos registros da Junta Comercial do Ceará.
Quando voltou a falar com a Folha, Ciro apresentou uma versão segundo a qual ele apenas prestava serviços ao parque.
"O Arialdo (Pinho) me convidou para trabalhar lá, mas eu não tinha condições de dar expediente, porque meu negócio é viajar pelo Brasil. Então eu aceitei prestar uma assessoria eventual", diz.
O ex-governador diz que jamais recebeu dinheiro do parque. "Tenho os créditos lá, quando precisar eu tiro", afirma.
Anteontem à noite, a Folha ligou para o irmão de Ciro, Lúcio Ferreira Gomes, para confrontar as duas versões. Lúcio garantiu que jamais houve um pagamento em dinheiro para Ciro.
Cerca de 15 minutos depois, Arialdo Pinho telefonou para a Folha para dizer que havia verificado melhor e que o Beach Park não havia feito nenhum pagamento em dinheiro para Ciro.
Por outro lado, Patrícia Gomes, ex-mulher de Ciro, afirma que ele trabalhava de fato no parque e que ia para lá todos os dias.

Audi A-6
Ciro afirma que não tem carro. Ele diz usar um Audi A-6, do Beach Park, que está com ele desde os tempos que teria trabalhado oficialmente para o parque.
Um Audi A-6 novo custa hoje pelo menos R$ 110 mil. É um carro de luxo.
Ciro afirma que é amigo do dono do Beach Park e que até hoje presta "uns serviços" para o parque. Ele diz que o empréstimo do carro é a remuneração dos serviços que realiza e que o carro vai ser dele quando os créditos que ele tem no parque completarem o valor do carro.
Arialdo Pinho conta uma história diferente. Segundo ele, o carro era parte da remuneração de Ciro quando ele era diretor estratégico. "Depois ele ficou com o carro. É meu amigo e ficou com o carro."

Governo Tasso
O governador Tasso Jereissati (PSDB) também investiu na região do Beach Park. O atual secretário da Fazenda do Ceará, Ednilton Soárez, comprou 33% do parque no ano passado -quando estava no cargo havia três anos.
O governo Tasso pagou R$ 745.581,12 pela construção da alça de acesso entre a estrada e o Beach Park e R$ 2,1 milhões pela construção da CE-025, que liga o Porto das Dunas à Prainha (com uma distância de 6 km).
De acordo com Arialdo Pinho, o Beach Park começou com 35 mesinhas na praia, em 85, e hoje tem um patrimônio de R$ 50 milhões, sendo considerado o maior conglomerado turístico do Ceará.
Segundo ele, em sua primeira década a empresa recebeu um investimento de US$ 1 milhão e reinveste todo seu faturamento. Em 96, o capital do parque era de R$ 620 mil, mas o patrimônio já chegava a R$ 11,2 milhões, em virtude do aumento da clientela nos anos anteriores.
A Folha apurou que a receita declarada pelo parque ao Fisco não justifica seu crescimento. Mas, de fato, os sócios não declaram fazer grandes retiradas da empresa.
Oficialmente, o "pró-labore" dos sócios é cerca de R$ 5.000 por mês -valor muito inferior ao salário pago para Ciro Gomes. João Eduardo Guinle Gentil, o terceiro sócio do parque, mora no Havaí (EUA) há quatro anos.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) também colaborou para o crescimento do Beach Park. O banco fez seis empréstimos de R$ 14 milhões para o empreendimento, dos quais R$ 10 milhões ainda não venceram.
A maioria dos empréstimos foi negociada com o BNB (Banco do Nordeste do Brasil), cujo presidente, Byron Costa de Queiroz, é ligado ao secretário da Fazenda do Ceará, Ednilton Soárez, sócio do Beach Park.
O diretor de marketing do Beach Park, Osterne Feitosa, foi secretário particular de Ciro Gomes até ele voltar ao Brasil, em 96.
De acordo com Ciro, Feitosa participou do leilão de pequenos objetos realizado em sua casa pouco antes dele embarcar.
Feitosa também conseguiu uma bolsa de estudos e estudou na Universidade de Harvard no mesmo período em que Ciro Gomes era pesquisador-visitante naquela instituição.
Feitosa foi contratado no Beach Park pouco antes do início do trabalho de Ciro. (ROBERTO COSSO)



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