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RUMO A 2002
Pré-candidato é ligado a parque que ajudou
da Reportagem Local
Ciro Gomes beneficiou o Beach
Park quando foi governador do
Ceará, entre 91 e 94. Quando voltou dos Estados Unidos, em 97,
ele foi trabalhar na empresa. Até
hoje Ciro usa um Audi A-6 de
propriedade do Beach Park.
O Beach Park é considerado o
maior parque aquático da América Latina e ocupa uma área de 15
hectares na praia do Porto das
Dunas, região metropolitana de
Fortaleza (CE).
O parque fica a cerca de 22 km
da capital cearense. Até o governo
Ciro, só havia uma estrada de terra até lá. Mas ela foi asfaltada, facilitando o acesso dos turistas.
"O Ciro deu de presente essa estrada", afirma Arialdo Pinho, um
dos sócios do Beach Park, que se
diz íntimo do ex-governador e ex-ministro da Fazenda (governo
Itamar).
Mas a principal ajuda que o governo Ciro deu ao parque foi a
criação de um sistema de parcerias de publicidade, pelo qual a
Coditur (Companhia de Desenvolvimento Industrial e Turístico)
-empresa ligada à Secretaria da
Indústria, Comércio e Turismo
do Ceará- e as empresas turísticas do Estado dividiam as despesas das campanhas publicitárias.
De acordo com a assessoria de
imprensa da Secretaria de Turismo do Ceará, o Beach Park é o
maior parceiro do Estado nesse tipo de parceria. O governo paga
metade do custo das campanhas
realizadas em todo o país.
A Folha apurou que o parque
estava em dificuldades financeiras quando a parceria começou.
Mas, com os anúncios, logo houve um aumento substancial na
procura pela atração turística.
A parceria nos anúncios turísticos entre o governo do Ceará e o
Beach Park é feita até hoje. A próxima campanha, a ser veiculada
em revistas especializadas durante os meses de outubro e novembro, está orçada em R$ 1,3 milhão
e o Estado vai pagar a metade.
A Secretaria de Turismo não divulgou os valores gastos com publicidade no governo Ciro.
Emprego
Há muitas versões sobre os serviços que Ciro Gomes prestou ao
Beach Park. Ele e Arialdo Pinho,
um dos sócios do Beach Park,
contam histórias completamente
diferentes sobre o caso.
De acordo com Pinho, Ciro trabalhou no Beach Park por um ano
e meio, de janeiro de 97 até o início da campanha à Presidência da
República (98), com salário mensal de R$ 10 mil. Ele teria exercido
o cargo de diretor estratégico durante todo esse período.
"Ciro era meu amigo antes de
ser prefeito, governador. Conheci
o Ciro aqui, como cliente. Ele foi
deputado, prefeito, governador.
Aí ele foi para os Estados Unidos,
eu o visitei lá. Quando ele veio para o Brasil, eu chamei (para trabalhar no parque)", disse Pinho.
Pinho afirma que o trabalho de
Ciro fez o parque economizar dinheiro. "Ele sempre dizia que o
dólar ia estourar. Acabei com as
aplicações em dólar em novembro de 98 e o câmbio explodiu em
janeiro de 99", relata.
Questionado sobre como eram
feitos os pagamentos para Ciro,
Pinho afirma: "Em dinheiro, como o de todos os funcionários".
A declaração de renda de Ciro
não informa qualquer valor como
rendimento do parque. Essas pagamentos seriam tributáveis.
Na última sexta-feira, a Folha
ouviu Ciro Gomes por telefone. A
bateria do telefone celular dele Ciro acabou durante a entrevista,
quando o tema era o Beach Park.
A Folha procurou o líder da
bancada do PPS na Câmara dos
Deputados, João Hermann (PPS-SP), que estava ontem com Ciro
no Rio de Janeiro, para pedir um
novo contato com o ex-ministro,
para que ele respondesse sobre os
salários do Beach Park.
Hermann disse: "Salários? Ele
não recebeu "pró-labore'?" Os sócios das empresas podem fazer
retiradas mensais por serviços
prestados, chamadas "pró-labore".
Ciro jamais constou como sócio
do Beach Park nos registros da
Junta Comercial do Ceará.
Quando voltou a falar com a Folha, Ciro apresentou uma versão
segundo a qual ele apenas prestava serviços ao parque.
"O Arialdo (Pinho) me convidou para trabalhar lá, mas eu não
tinha condições de dar expediente, porque meu negócio é viajar
pelo Brasil. Então eu aceitei prestar uma assessoria eventual", diz.
O ex-governador diz que jamais
recebeu dinheiro do parque. "Tenho os créditos lá, quando precisar eu tiro", afirma.
Anteontem à noite, a Folha ligou para o irmão de Ciro, Lúcio
Ferreira Gomes, para confrontar
as duas versões. Lúcio garantiu
que jamais houve um pagamento
em dinheiro para Ciro.
Cerca de 15 minutos depois,
Arialdo Pinho telefonou para a
Folha para dizer que havia verificado melhor e que o Beach Park
não havia feito nenhum pagamento em dinheiro para Ciro.
Por outro lado, Patrícia Gomes,
ex-mulher de Ciro, afirma que ele
trabalhava de fato no parque e
que ia para lá todos os dias.
Audi A-6
Ciro afirma que não tem carro.
Ele diz usar um Audi A-6, do
Beach Park, que está com ele desde os tempos que teria trabalhado
oficialmente para o parque.
Um Audi A-6 novo custa hoje
pelo menos R$ 110 mil. É um carro de luxo.
Ciro afirma que é amigo do dono do Beach Park e que até hoje
presta "uns serviços" para o parque. Ele diz que o empréstimo do
carro é a remuneração dos serviços que realiza e que o carro vai
ser dele quando os créditos que
ele tem no parque completarem o
valor do carro.
Arialdo Pinho conta uma história diferente. Segundo ele, o carro
era parte da remuneração de Ciro
quando ele era diretor estratégico.
"Depois ele ficou com o carro. É
meu amigo e ficou com o carro."
Governo Tasso
O governador Tasso Jereissati
(PSDB) também investiu na região do Beach Park. O atual secretário da Fazenda do Ceará, Ednilton Soárez, comprou 33% do parque no ano passado -quando estava no cargo havia três anos.
O governo Tasso pagou R$
745.581,12 pela construção da alça
de acesso entre a estrada e o Beach
Park e R$ 2,1 milhões pela construção da CE-025, que liga o Porto
das Dunas à Prainha (com uma
distância de 6 km).
De acordo com Arialdo Pinho, o
Beach Park começou com 35 mesinhas na praia, em 85, e hoje tem
um patrimônio de R$ 50 milhões,
sendo considerado o maior conglomerado turístico do Ceará.
Segundo ele, em sua primeira
década a empresa recebeu um investimento de US$ 1 milhão e
reinveste todo seu faturamento.
Em 96, o capital do parque era de
R$ 620 mil, mas o patrimônio já
chegava a R$ 11,2 milhões, em virtude do aumento da clientela nos
anos anteriores.
A Folha apurou que a receita
declarada pelo parque ao Fisco
não justifica seu crescimento.
Mas, de fato, os sócios não declaram fazer grandes retiradas da
empresa.
Oficialmente, o "pró-labore"
dos sócios é cerca de R$ 5.000 por
mês -valor muito inferior ao salário pago para Ciro Gomes. João
Eduardo Guinle Gentil, o terceiro
sócio do parque, mora no Havaí
(EUA) há quatro anos.
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) também colaborou para o
crescimento do Beach Park. O
banco fez seis empréstimos de R$
14 milhões para o empreendimento, dos quais R$ 10 milhões
ainda não venceram.
A maioria dos empréstimos foi
negociada com o BNB (Banco do
Nordeste do Brasil), cujo presidente, Byron Costa de Queiroz, é
ligado ao secretário da Fazenda
do Ceará, Ednilton Soárez, sócio
do Beach Park.
O diretor de marketing do
Beach Park, Osterne Feitosa, foi
secretário particular de Ciro Gomes até ele voltar ao Brasil, em 96.
De acordo com Ciro, Feitosa
participou do leilão de pequenos
objetos realizado em sua casa
pouco antes dele embarcar.
Feitosa também conseguiu uma
bolsa de estudos e estudou na
Universidade de Harvard no mesmo período em que Ciro Gomes
era pesquisador-visitante naquela
instituição.
Feitosa foi contratado no Beach
Park pouco antes do início do trabalho de Ciro.
(ROBERTO COSSO)
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