São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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Estrofes construíam catedrais

CARLOS HEITOR CONY
do Conselho Editorial

Com toda a justiça, João Cabral de Melo Neto era considerado o nosso maior poeta.
Após a morte de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, João Cabral ficara sozinho no pódio. Mesmo assim, havia uma corrente da crítica que o considerava acima de qualquer outro.
Sua poesia era diferente. Ele desprezava a emoção, odiava a anedota, detestava o comentário.
Cortava a poesia com a faca só lâmina de sua extraordinária força vocabular, criando impactos ao mesmo tempo plásticos e fundamentais. Nunca usava o enfeite como complemento da essência, tudo nele era inaugural, primeiro, único.

Casas, catedrais
Cada palavra, cada estrofe, era uma pedra, um volume quase que físico que construía pontes, casas, catedrais, arenas, cidades e gente.
No meu entender, sua melhor obra é sobre o rio que lhe deu a inicial notoriedade. De Recife a Sevilha, ele percorreu um caminho tão próprio que em vida já era um clássico.


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