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Estrofes construíam catedrais
CARLOS HEITOR CONY
do Conselho Editorial
Com toda a justiça, João
Cabral de Melo Neto era
considerado o nosso maior
poeta.
Após a morte de Manuel
Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, João Cabral ficara sozinho no pódio.
Mesmo assim, havia uma
corrente da crítica que o
considerava acima de qualquer outro.
Sua poesia era diferente.
Ele desprezava a emoção,
odiava a anedota, detestava
o comentário.
Cortava a poesia com a faca só lâmina de sua extraordinária força vocabular,
criando impactos ao mesmo
tempo plásticos e fundamentais. Nunca usava o enfeite como complemento da
essência, tudo nele era inaugural, primeiro, único.
Casas, catedrais
Cada palavra, cada estrofe,
era uma pedra, um volume
quase que físico que construía pontes, casas, catedrais, arenas, cidades e gente.
No meu entender, sua melhor obra é sobre o rio que
lhe deu a inicial notoriedade.
De Recife a Sevilha, ele percorreu um caminho tão próprio que em vida já era um
clássico.
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