São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO / RONALDO COSTA COUTO

Meu Brasil brasileiro

Regime militar, 1979, começo do governo Figueiredo. Crise econômica externa e interna. No horizonte, estagflação. Sem muita esperança, Mário Henrique Simonsen, ministro do Planejamento, comanda ajuste macroeconômico. Tira o pé do acelerador e pisa no freio. Tenta domar a dívida, aumentar a receita, conter a despesa, controlar o déficit público, reduzir o assanhamento da inflação. Esforço quase solitário, desgastante e, no caso, pouco eficaz. Governo de alma desenvolvimentista, invencível propensão à gastança, ministério estelar e sortido de presidenciáveis. Como o ministro Mário Andreazza, do Interior, um campeão de obras públicas.
Agosto de 1979. No seu estilo franco e tosco, o presidente diz a empresários que trocará o ministro do Planejamento se houver nome melhor. É a gota que falta. Cansado de guerra e gastos, Simonsen sai. Figueiredo chama Delfim Netto para substituí-lo: "O Brasil é um pinto que botou um ovo de avestruz e está todo arrebentado. Sua tarefa é costurar o bicho."

Menino homem
Tancredo Neves se divertia fazendo política. Adorava brincar com aliados e adversários, inventava histórias. Como a seguinte, com o doce Francelino Pereira, governador de Minas, deputado federal, hoje senador.
De grande prestígio no norte de Minas, sempre conversava pessoalmente com os eleitores, trocava idéias com eles. Outro hábito: erguer crianças nos braços e beijá-las delicadamente no rosto. Comício em Montes Claros. Ao sair do palanque, ele levanta um baixinho simpático e ouve: "Pô, cara, me solta!". Era um anão.

Grande sertão
Do lendário vaqueiro Manuel Nardi [1904-97], o Manuelzão, personagem de carne e osso do melhor de Guimarães Rosa e sábio do povo, para quem a gente está neste mundo é emprestado: "Salvo o presidente Artur da Silva Bernardes [1875-1955], todo político é duvidoso".

Coerência?
Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-76): "Não tenho compromisso com o erro".

A quem interessar possa
Tancredo Neves [1910-85]: "Governo é equipe, governo é ação coordenada".


RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor, doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna


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