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FOLCLORE POLÍTICO / RONALDO COSTA COUTO
Meu Brasil brasileiro
Regime militar, 1979, começo
do governo Figueiredo. Crise
econômica externa e interna. No
horizonte, estagflação. Sem muita
esperança, Mário Henrique Simonsen, ministro do Planejamento, comanda ajuste macroeconômico. Tira o pé do acelerador
e pisa no freio. Tenta domar a dívida, aumentar a receita, conter a
despesa, controlar o déficit público, reduzir o assanhamento da
inflação. Esforço quase solitário,
desgastante e, no caso, pouco eficaz. Governo de alma desenvolvimentista, invencível propensão à
gastança, ministério estelar e sortido de presidenciáveis. Como o
ministro Mário Andreazza, do
Interior, um campeão de obras
públicas.
Agosto de 1979. No seu estilo
franco e tosco, o presidente diz a
empresários que trocará o ministro do Planejamento se houver
nome melhor. É a gota que falta.
Cansado de guerra e gastos, Simonsen sai. Figueiredo chama
Delfim Netto para substituí-lo: "O
Brasil é um pinto que botou um
ovo de avestruz e está todo arrebentado. Sua tarefa é costurar o
bicho."
Menino homem
Tancredo Neves se divertia fazendo política. Adorava brincar
com aliados e adversários, inventava histórias. Como a seguinte,
com o doce Francelino Pereira,
governador de Minas, deputado
federal, hoje senador.
De grande prestígio no norte de
Minas, sempre conversava pessoalmente com os eleitores, trocava idéias com eles. Outro hábito:
erguer crianças nos braços e beijá-las delicadamente no rosto.
Comício em Montes Claros. Ao
sair do palanque, ele levanta um
baixinho simpático e ouve: "Pô,
cara, me solta!". Era um anão.
Grande sertão
Do lendário vaqueiro Manuel
Nardi [1904-97], o Manuelzão,
personagem de carne e osso do
melhor de Guimarães Rosa e sábio do povo, para quem a gente
está neste mundo é emprestado:
"Salvo o presidente Artur da Silva
Bernardes [1875-1955], todo político é duvidoso".
Coerência?
Juscelino Kubitschek de Oliveira
(1902-76): "Não tenho compromisso com o erro".
A quem interessar possa
Tancredo Neves [1910-85]: "Governo é equipe, governo é ação
coordenada".
RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor,
doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna
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