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CARAVANA SOCIAL
Gilberto Gil é o ministro mais assediado durante a visita do presidente e de sua comitiva a favela de palafitas
No Recife, emprego é principal pedido a Lula
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A RECIFE
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Numa visita simbólica e de apenas meia hora, sem discursos,
mas com muito suor, gritos e empurra-empurra, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva meteu os pés
na areia molhada para visitar ontem barracos da favela de palafitas
Brasília Teimosa, em Recife.
Em clima de campanha, não de
Presidência, prometeu à moradora Erinalda Maria da Silva, 37, que
iria remover as famílias do local.
"Não vou desiludir o povo que me
deu um voto de confiança", disse.
Foi a segunda vez depois de eleito e a primeira depois de empossado que o presidente esteve em
seu Estado natal, Pernambuco.
Estava acompanhado de 28 ministros que se embolaram, alguns
de forma constrangida, com os
populares que romperam os cordões de isolamento.
O ministro mais assediado foi
Gilberto Gil (Cultura), mas a curiosidade ficou por conta de Antonio Palocci Filho (Fazenda),
chamado de "médico" ou "doutor" e o preferido das crianças.
Raquel, 5, ganhou colo e um beijo.
Quando a Folha lhe perguntou
quem era ele, respondeu direitinho: "O Palocci".
Ciro Gomes (Integração Nacional) também foi muito abordado
e deu alguns autógrafos. Depois
de receber o seu, o jovem Gustavo, 16, lamentou: "E a Patrícia [Pillar], não vem?".
Na outra ponta, Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento) estava
desconfortável e suado, enquanto
o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, recém-chegado de Londres e com os sapatos
sujos e molhados, passava praticamente incógnito. Para José Dirceu (Casa Civil), velho militante
de esquerda, a visita "foi um banho de realidade" para todos eles.
Sem água nem esgoto
Lula chegou a Recife às 15h55,
foi recebido pelo governador Jarbas Vasconcelos (PMDB e eleitor
de José Serra) e pelo prefeito de
Recife, João Paulo (PT). Da Base
Aérea, rumou direto para as palafitas, num percurso de 5 quilômetros, com 14 batedores da PM.
Ali vivem 561 famílias, a maioria
de pescadores artesanais e empregados domésticos à beira do mar,
sem água nem esgoto, com energia clandestina e sujeitos à maré e
a enchentes. A escolha do local foi
cuidadosa: as palafitas de Brasília
Teimosa equivalem a outras 150
espalhadas pelo país, mas com a
peculiaridade de serem numa cidade administrada pelo PT e no
Estado natal de Lula.
A miséria da área, porém, não é
maior nem mais chocante do que
a de qualquer favela de São Paulo
e demais capitais. Na entrada das
palafitas, por exemplo, há duas
escolas particulares, uma de alfabetização (mensalidade de R$ 20)
e outra até a quarta série (R$ 40).
Tudo foi programado para Lula
visitar uma só casa, a de Erinalda
Maria da Silva, desempregada há
um ano e encarregada por amigos
e vizinhos de entregar um bolo de
cartas para o presidente. Acabou
visitando três, acompanhado só
da ministra Benedita da Silva (Assistência Social) e do prefeito petista João Paulo.
Pedidos de emprego
Lula recebeu pedidos diversos,
mas o principal deles foi de emprego e da transferência da comunidade para um local mais seguro.
Fome, explicitamente, não foi um
tema recorrente.
Uma das exceções foi o pedreiro
Gil Nogueira de Moura, 43, seis filhos e uma afilhada, que comprovou pela Carteira de Trabalho que
está desempregado há quase dez
anos, vivendo de biscates e da ajuda dos vizinhos. Na quinta-feira,
diz que comeu um pacote de macarrão doado pelos vizinhos e, ontem, cuscuz (fubá de milho com
água) e café. "Mesmo passando
necessidade, nunca tirei nada de
ninguém. E não quero comida,
quero emprego", disse Moura.
Reduto do peemedebista Jarbas
Vasconcelos -que ontem foi
vaiado na saída- o bairro sediou
o comitê central do tucano José
Serra no Estado durante a campanha eleitoral. No final, porém, o
placar foi favorável a Lula. No segundo turno, ele teve 4.613 votos
no bairro, e Serra, 2.850.
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