DA ENVIADA ESPECIAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A casa de palafita da ajudante de cozinha Erinalda Maria da Silva, 37, foi indicada para ser visitada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelos líderes comunitários locais depois de dias de pesquisa, realizada por uma equipe da Presidência. A moradora precisava ter o seu perfil: mulher, desempregada e com filhos.
Num certo dia, "um major chegou com um monte de gente" e avisou Erinalda que ela havia sido a escolhida. Mas ela não sabe a razão: "Deve ter tido um dedinho de Deus", acredita.
Sem emprego há um ano, Erinalda hoje sobrevive com o salário de R$ 200 do companheiro, o zelador Heleno Silva, 39. Apesar de informado da visita de Lula, ele não pôde ver o presidente ontem porque estava trabalhando.
Os dois e uma das filhas de Erinalda, Edinamir Carla, 17, convivem há seis anos em 15 metros quadrados. O pequeno espaço está dividido em quarto, cozinha e privada por duas cortinas, uma vermelha e outra cor de vinho.
Para chegar ao barraco, que fica na areia, de frente para o mar e já danificado duas vezes pela maré, Lula precisou subir uma escada tosca, de madeira. Encontrou lá um aparelho de TV e um outro de som. O fogão, localizado do lado de fora, está quebrado. A comida é preparada em um fogareiro.

Camiseta nova
Erinalda não tomou providências especiais para receber o presidente da República, exceto uma: vestia uma camiseta nova, vermelha, com o nome de Lula e uma frase da campanha: "Sem medo de ser feliz". Ao abraçar Lula, chorou.
"Eu conto com Deus e com Lula", disse ela à Folha. Para quê? "Para melhorar a vida da gente", respondeu.
Lula e seus ministros, que à chegada no local foram saudados por grupos de frevo e de maracatu, na saída tiveram que driblar a multidão que havia rompido os cordões de isolamento. Em vez de voltar pela praia até o ônibus, eles saíram por uma rua estreita e irregular nos fundos da favela.


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