São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Um negócio especial

As considerações suscitadas quando Fernando Henrique Cardoso pôs a Embratel à venda estão reavivadas: a partir de amanhã, a multinacional MCI, dos Estados Unidos, estará recebendo propostas para a segunda venda da Embratel. Estimado em torno de US$ 1,5 bilhão, o negócio destina-se a reforçar a MCI, nome recentemente adotado, nas providências para recuperar-se das escandalosas fraudes que a acometeram quando era a gigante WorldCom.
Embora não detenha mais o monopólio das telecomunicações à distância, dadas as outras operadoras de telefonemas interurbanos e internacionais, a Embratel detém numerosos outros serviços e, entre eles, um que reflete bem a sua peculiaridade como empresa: as comunicações militares brasileiras se fazem por canais da Embratel, aí incluídos serviços de segurança de vôos civis.
O governo Fernando Henrique não deu importância, no processo de privatização, aos aspectos estratégicos e de segurança nacional envolvidos nas telecomunicações. Daí resultou esta realidade patética: as comunicações militares brasileiras são feitas por uma empresa estrangeira, idem para as comunicações diplomáticas. A soberania fica comprometida já a partir dos que têm a finalidade primordial de resguardá-la.
O governo Lula não deu sinal de ter, sobre a nova transação com a Embratel, uma posição ou, pelo menos, uma opinião. Outra vez os critérios governamentais ficam em falta, ou são desconhecidos, como se fosse negociada apenas uma empresa convencional. Mas o cerne do negócio, como foi na descuidada venda privatizadora, não está no patrimônio físico da empresa, está na concessão, que detém, para operar os numerosos serviços de telecomunicações, muitos deles exclusivos. Sem a concessão, equipamentos e instalações da Embratel são inúteis. E a concessão é de serviço público, logo, exigente de critérios que atendam aos interesses públicos e nacionais.
Até agora, citam-se três pretendentes à compra e uma empresa que entraria dando cobertura. Um deles é o gigante mexicano Telmex, cuja possível presença no Brasil assusta também o setor de TV. Outro, provável consórcio com integrantes ainda não divulgados, é o fundo de pensão da própria Embratel, Telos. E o terceiro é o consórcio formado por Telefônica, Telemar e Brasil Telecom, do qual se diz que apareceria sob o nome de uma empresa menor, ligada a uma telefônica, mas também a cervejarias e lojas de departamentos, para disfarçar a concentração dos serviços de telefonia em caso de adquirir a Embratel.
Essa transação é um jogo pesado. Nela está envolvido muito mais do que um número de operadora para se discar em caso de interurbano.


Texto Anterior: Entidade entrega a Sarney e João Paulo projeto para agilizar Justiça
Próximo Texto: Judiciário: Relator mantém controle externo e veta demissão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.