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SISTEMA FINANCEIRO
Banco salvo da quebra pelo BC em janeiro ganhou e perdeu com agressividade no mercado financeiro
Patrimônio do Marka dobrou com o Real
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
Os sócios do
Banco Marka,
que comprou
dólar abaixo da
cotação do Banco Central em
uma operação
secreta de socorro, conseguiram mais do que
duplicar seu capital investido no
banco durante o Plano Real.
Em dezembro de 1994, ano de
lançamento do Real, o patrimônio
líquido (dinheiro aplicado no banco pelos acionistas) do Marka se
resumia a R$ 28,250 milhões.
Graças à estratégia de correr altos riscos para ampliar os lucros, o
patrimônio líquido do Marka saltou para R$ 68,074 milhões em dezembro de 98 -pouco depois, em
janeiro, o BC injetaria no banco
volume ainda desconhecido de recursos públicos para salvar o banco da quebradeira.
O Marka é uma das instituições
que serão investigadas pela CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) dos bancos no Senado.
Os senadores vão apurar se houve favorecimento ou se o BC exorbitou seus poderes no socorro.
Antes de quebrar, o Marka era
festejado como um banco lucrativo que, graças a sua administração
agressiva, figurava na lista das instituições financeiras com maior
rentabilidade no mercado.
A história de sucesso do Marka
vem pelo menos desde 93, quando
o banco conquistou o primeiro lugar no ranking dos mais lucrativos.
No ano seguinte, o presidente do
Marka, Salvatore Alberto Cacciola,
anunciou a transferência do banco
para uma sede duas vezes maior,
no Rio, e investimento de R$ 700
milhões em equipamentos de informática, soma considerável para
um banco de pequeno porte.
Já naquela época, em entrevista à
Folha, Cacciola fazia a apologia da
estratégia de altos riscos, conhecida no meio financeiro como alavancagem: "Quanto mais oscilações você tiver, mais aumenta seu
risco, mas mais pode aumentar
sua alavancagem de ganho".
O passo seguinte, em 1995, foi a
internacionalização, com a abertura de um escritório nas Bahamas,
conhecido paraíso fiscal.
O ano de 1996 foi um dos melhores da história do Marka, que lucrou R$ 15,272 milhões, segundo
as contas de resultado apresentadas nos balancetes do sistema eletrônico de informações do BC.
O lucro de 1996 pode ser considerado extraordinário, considerando que no início daquele ano o
patrimônio líquido da instituição
era de apenas R$ 37,976 milhões.
Ou seja, para cada R$ 1 de capital
empregado no banco, os controladores lucraram R$ 0,40.
Performances mais do que satisfatórias também foram obtidas em
1997, com lucro de R$ 14,776 milhões, e em 1998, em meio à crise
russa, R$ 10,743 milhões.
Na desvalorização promovida
pelo ex-presidente do BC Francisco Lopes, Cacciola quebrou ao reproduzir a mesma estratégia que
trouxe lucros anteriormente: a alta
alavancagem.
O Marka apostava que a política
cambial do governo seria mantida,
sem uma desvalorização brusca do
real. Isso lhe valeu lucros antes,
mas em janeiro sua aposta se mostrou errada.
O banco tinha 12.600 contratos
no mercado futuro de dólar, representando negócios de R$ 1,26 bilhão. Esse número era equivalente
a 20 vezes o patrimônio do banco,
então em R$ 62,632 milhões.
Por esses contratos, o Marka se
comprometeu a vender dólar a R$
1,22. Foi uma aposta alta na manutenção da política do BC. Na época, o BC mantinha o dólar em um
valor praticamente fixo e garantia
que não desvalorizaria a moeda.
Em 13 de janeiro, Lopes colocou
em prática um sistema de câmbio
que, na prática, deixou a cotação
do dólar oscilar até R$ 1,32.
O Marka perdeu dinheiro porque se comprometeu a vender dólar por R$ 1,22 quando ele já custava R$ 1,32: estava perdendo R$ 0,10
em cada dólar vendido.
Grosso modo, o prejuízo do banco podia ser estimado em R$ 126
milhões, ou o dobro do patrimônio líquido do banco. Ou seja, o dinheiro investido pelos controladores no Marka já não era suficiente
para cobrir a perda. Foi aí que entrou o dinheiro público.
O BC vendeu dólar barato ao
Marka, a R$ 1,275. Assim, cobriu
parte do prejuízo. Tendo como base o teto da banda cambial (R$
1,32) que vigorava em 14 de janeiro, dia do socorro, o Banco Central
arcou com um prejuízo que deveria ser do Marka de R$ 54 milhões.
Em relação à cotação que outros
bancos pagaram naquele dia para
bancar suas posições, de R$ 1,55, o
BC aliviou o prejuízo do Marka em
cerca de R$ 270 milhões.
O BC sustenta que o socorro foi
necessário para evitar uma crise
no sistema financeiro. Caso o Marka e o FonteCindam quebrassem, a
instituição diz que temia que o
mesmo ocorresse com outros bancos, agravando a crise cambial.
Essa não foi a primeira vez que o
Marka se deu mal em mudanças
cambiais. No primeiro semestre de
1995, o banco teve o resultado mais
modesto de sua história, com lucro
de apenas R$ 286 mil.
Naquele ano, foi implantado o
primeiro sistema de bandas cambiais, idealizado pelo então presidente do BC, Pérsio Arida.
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