São Paulo, domingo, 11 de abril de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ação do BC é a dúvida no caso

GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília

O ponto mais difícil de explicar em todo o caso Marka é por que o Banco Central preservou os bens do banqueiro Salvatore Cacciola na operação de socorro ao banco.
Há duas discussões básicas sobre o episódio. Primeiro, se o salvamento do banco era necessário. Segundo, se a operação foi feita da forma mais adequada.
Para a questão inicial, o BC dispõe de argumentos. Diz que a quebra do Marka em 14 de janeiro, num dos momentos mais nervosos da desvalorização do real, sairia muito mais cara para a sociedade que a injeção de recursos públicos no banco.
O BC chegou a receber uma carta da Bolsa de Mercadorias & Futuros, onde o Marka operava, apontando que havia um risco de crise para todo o sistema financeiro.
Ainda que tais justificativas gerem polêmica e controvérsia, parece difícil provar de forma cabal que o BC está errado nesse ponto.
À segunda interrogação, as poucas respostas conhecidas no momento são insatisfatórias.
Quando um banco quebra, a providência mais comum do BC é a liquidação. Ou seja, fecham-se as portas do banco e bloqueiam-se os bens de controladores e administradores, que servirão para cobrir os prejuízos apurados.
Até aqui, sabe-se que o BC não liquidou o Marka para que o banco permanecesse em funcionamento até que suas operações fossem honradas, evitando pânico no mercado.
Mas falta dizer por que o Marka não foi liquidado posteriormente. A legislação cita, entre os motivos para liquidações e outras intervenções do BC, a "gestão temerária".
Em vez disso, o BC optou por um acordo com o Marka, que em fevereiro anunciou que deixaria o mercado financeiro -com um patrimônio que, mesmo depois dos prejuízos sofridos, ainda somava R$ 25 milhões, segundo um balancete que está sendo revisto depois de noticiado pela Folha.
O BC também se colocou em uma situação complicada ao não divulgar claramente os motivos e os procedimentos da operação, que só foi admitida há poucos dias.
Justamente por ser o órgão mais poderoso do Executivo, com poderes para determinar vencedores e vencidos no mercado, o BC é cobrado pela falta de transparência.
O mesmo vício já envolveu o BC nas mais variadas suspeitas: de vazamento de informações privilegiadas, quando mudou o câmbio em 95 e em janeiro último, a omissão na fiscalização de bancos antes do Proer (o programa de socorro aos bancos privados).
Na semana passada, foi prometido um relatório com explicações, que acabou adiado para esta semana. Enquanto isso, em Brasília e no mercado circularam diferentes boatos, envolvendo até fitas gravadas com autoridades.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.