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Ação do BC é a dúvida no caso
GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília
O ponto mais difícil de explicar
em todo o caso Marka é por que o
Banco Central preservou os bens
do banqueiro Salvatore Cacciola
na operação de socorro ao banco.
Há duas discussões básicas sobre
o episódio. Primeiro, se o salvamento do banco era necessário.
Segundo, se a operação foi feita da
forma mais adequada.
Para a questão inicial, o BC dispõe de argumentos. Diz que a quebra do Marka em 14 de janeiro,
num dos momentos mais nervosos
da desvalorização do real, sairia
muito mais cara para a sociedade
que a injeção de recursos públicos
no banco.
O BC chegou a receber uma carta
da Bolsa de Mercadorias & Futuros, onde o Marka operava, apontando que havia um risco de crise
para todo o sistema financeiro.
Ainda que tais justificativas gerem polêmica e controvérsia, parece difícil provar de forma cabal que
o BC está errado nesse ponto.
À segunda interrogação, as poucas respostas conhecidas no momento são insatisfatórias.
Quando um banco quebra, a providência mais comum do BC é a liquidação. Ou seja, fecham-se as
portas do banco e bloqueiam-se os
bens de controladores e administradores, que servirão para cobrir
os prejuízos apurados.
Até aqui, sabe-se que o BC não liquidou o Marka para que o banco
permanecesse em funcionamento
até que suas operações fossem
honradas, evitando pânico no
mercado.
Mas falta dizer por que o Marka
não foi liquidado posteriormente.
A legislação cita, entre os motivos
para liquidações e outras intervenções do BC, a "gestão temerária".
Em vez disso, o BC optou por um
acordo com o Marka, que em fevereiro anunciou que deixaria o mercado financeiro -com um patrimônio que, mesmo depois dos
prejuízos sofridos, ainda somava
R$ 25 milhões, segundo um balancete que está sendo revisto depois
de noticiado pela Folha.
O BC também se colocou em
uma situação complicada ao não
divulgar claramente os motivos e
os procedimentos da operação,
que só foi admitida há poucos dias.
Justamente por ser o órgão mais
poderoso do Executivo, com poderes para determinar vencedores e
vencidos no mercado, o BC é cobrado pela falta de transparência.
O mesmo vício já envolveu o BC
nas mais variadas suspeitas: de vazamento de informações privilegiadas, quando mudou o câmbio
em 95 e em janeiro último, a omissão na fiscalização de bancos antes
do Proer (o programa de socorro
aos bancos privados).
Na semana passada, foi prometido um relatório com explicações,
que acabou adiado para esta semana. Enquanto isso, em Brasília e no
mercado circularam diferentes
boatos, envolvendo até fitas gravadas com autoridades.
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