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QUESTÃO AGRÁRIA
Entidade chama pacote de medidas de "vitória pontual"
Governo atende Contag e libera mais R$ 2,5 bilhões
Ichiro Guerra/Folha Imagem
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O presidente da Contag, Manoel dos Santos, entre Fernando Henrique Cardoso e Vicentinho durante a audiência no Palácio do Planalto |
ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo anunciou ontem o
aumento de R$ 2,5 bilhões nos recursos administrados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário para atender principalmente
reivindicações da Contag a favor
de agricultores familiares e tentar
esvaziar propostas do MST para a
reforma agrária.
O MST alimenta um histórico
de tensão com o governo que teve
um pico de enfrentamento na semana passada, quando houve invasão e depredação de prédios
públicos, ameaça de intervenção
do Exército e a morte de um sem-terra no Paraná.
Já a Contag, apesar de ter promovido invasões no dia 1º, foi elogiada pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso pela disposição de diálogo. Com efeito, as medidas de ontem foram anunciadas
para uma comissão da Contag,
enquanto o MST não é recebido
por FHC.
As principais medidas anunciadas incluem a eliminação de correção monetária e a adoção de juros fixos de 3% ao ano nos novos
empréstimos e nas dívidas contraídas de 95 a 97 pelos pequenos
agricultores no Pronaf (Programa
Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar).
Os recursos correspondem a
um aumento de 46% nas verbas
previstas para programas administrados pelo ministro Raul
Jungmann, entre eles o Pronaf,
responsável pelo financiamento
da safra da agricultura familiar.
Os assentados serão contemplados com uma fatia de apenas R$
160 milhões do total do pacote
anunciado ontem.
Apesar do isolamento político
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), não
haverá distinção entre seus assentados e os da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura) e de outros movimentos para a destinação desses
recursos.
Segundo Jungmann, os agricultores ligados ao MST serão beneficiados porque eles tomaram
empréstimos do Pronaf e terão redução de juros. Além disso, disse
ele, os assentados do MST também serão beneficiados com o aumento de recursos para serviços
de assistência técnica.
De acordo com Jungmann, os
recursos do ministério previam
R$ 5,4 bilhões e saltaram para R$
7,9 bilhões com as medidas adotadas ontem. Segundo ele, parte
desse aumento exigirá alterações
no Orçamento deste ano e cortes
do governo em outros setores,
ainda não definidos.
FHC anunciou as medidas durante audiência concedida a 25 líderes da Contag. O encontro surpreendeu inclusive o presidente
da entidade, Manoel dos Santos,
que esperava ser recebido somente hoje, último dia das manifestações em Brasília do protesto "Grito da Terra Brasil", da Contag.
"Foi o maior avanço que já tivemos em relação à agricultura familiar", afirmou Jungmann, responsável em 99 pela união da reforma agrária com agricultura familiar, antes ligada ao Ministério
da Agricultura.
"Não estamos satisfeitos, mas
obtivemos algumas vitórias parciais", disse o presidente da Contag. A entidade reivindicava aumento de R$ 3,5 bilhões para R$
8,5 bilhões nos recursos do Pronaf, além da elevação das metas
de assentamento e agilização na
vistoria de terras.
O MST não quis se pronunciar
ontem sobre as medidas.
As medidas atendem em parte
as cinco principais reivindicações
da Contag: eliminação de correção monetária nos financiamentos do Pronaf, elevação dos recursos do programa, garantia de financiamento, aumento de recursos para assistência técnica e renegociação de dívidas.
O aumento de R$ 176 milhões
de recursos de TDAs (Título da
Dívida Agrária) estará voltado para viabilizar a descentralização da
reforma agrária.
De acordo com as medidas, a
correção monetária nos empréstimos e dívidas contraídas no Pronaf será substituída pela equivalência do empréstimo ao preço do
produto financiado. Ou seja, se
um produtor emprestou R$ 10
mil para plantar café, esse valor
será transformado e corrido pelo
preço do produto no mercado.
Serão adotados juros anuais fixos de 3% ao ano para todos os tipos de agricultores familiares.
Eles terão até o dia 31 de julho deste ano para se habilitar.
"O importante não foi tanto a
quantidade de novos recursos
alocados, mas as condições dos financiamentos", afirmou Jungmann. O governo terá de alocar
R$ 1,5 bilhão para cobrir a diferença entre os juros de mercado e
os juros subsidiados.
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