São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2007

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Longe do estádio, jovens ironizam lição dada por secretário-geral da CNBB

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Dimas Lara Barbosa, "está com inveja dos jovens porque ele nunca "ficou" na vida, não teve esse prazer", dizem três garotas de classe média reunidas em um barzinho da Vila Madalena (zona oeste).
Clara Perazzo, 16, Marina Arruda, 17, e Maria Schirts, 16, sugerem que d. Dimas "pare de tratar os adolescentes como uma ameaça". "Em vez de nos atrair para a fé católica, nos afasta", disse Clara.
Em uma preleção na reunião da CNBB, terça-feira, o bispo criticou o que chamou de "senso descartável do "ficar'". "Isso era próprio das garotas de programa, e hoje é vivenciado pelos adolescentes."
Para as meninas, além de "ofensivo", dom Dimas mostrou-se equivocado: ""Ficar", basicamente, é beijar. Meu irmão me disse que as putas nem beijam", disse Marina.
Ela conta que foi batizada e era religiosa na infância, mas, "por causa de afirmações como a do bispo", perdeu a fé.
Passado o primeiro momento, as três mostram que d. Dimas "não é o único que faz julgamentos".
Dizem que, entre os próprios adolescentes, "se a menina fica com vários, mas só beija, é só uma galinha; se transa, é vadia".
"Depende da atitude", defende Maria. "Tipo eu: já fiquei com muita gente, mas não tem esse componente perverso que o padre vê. Não recebi dinheiro para ficar."
Outro estudante, Victor Arieta, 15, concorda: "Ficar é aceitar estar com a pessoa, e não ser obrigado em troca de algum favor ou pagamento".
Baterista desde criança e agora prestando vestibular para engenharia, Victor diz que "a igreja cobra um compromisso que as pessoas da nossa idade não estão dispostas a assumir". "É como música. Já toquei pop, jazz e hoje gosto de rock clássico. Não posso dizer que meu gosto será o mesmo o resto da vida."
Para Felipe Grabarz, 18, "a igreja não tem acompanhado a sociedade". "Seus pais dizem que você deve usar camisinha, você ouve isso na escola e na TV. Aí vem a igreja e diz que não. E o motivo é ideológico", afirmou.
Na opinião de Felipe, que é judeu, "historicamente a igreja quer dominar o pensamento das pessoas". Ele afirma que vai pouco à sinagoga. "Saio mais impaciente do que entrei."


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