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Longe do estádio, jovens ironizam lição dada por secretário-geral da CNBB
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O novo secretário-geral da
Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, dom Dimas
Lara Barbosa, "está com inveja dos jovens porque ele nunca "ficou" na vida, não teve esse prazer", dizem três garotas
de classe média reunidas em
um barzinho da Vila Madalena (zona oeste).
Clara Perazzo, 16, Marina
Arruda, 17, e Maria Schirts,
16, sugerem que d. Dimas "pare de tratar os adolescentes
como uma ameaça". "Em vez
de nos atrair para a fé católica, nos afasta", disse Clara.
Em uma preleção na reunião da CNBB, terça-feira, o
bispo criticou o que chamou
de "senso descartável do "ficar'". "Isso era próprio das garotas de programa, e hoje é vivenciado pelos adolescentes."
Para as meninas, além de
"ofensivo", dom Dimas mostrou-se equivocado: ""Ficar",
basicamente, é beijar. Meu irmão me disse que as putas
nem beijam", disse Marina.
Ela conta que foi batizada e
era religiosa na infância, mas,
"por causa de afirmações como a do bispo", perdeu a fé.
Passado o primeiro momento, as três mostram que
d. Dimas "não é o único que
faz julgamentos".
Dizem que, entre os próprios adolescentes, "se a menina fica com vários, mas só
beija, é só uma galinha; se
transa, é vadia".
"Depende da atitude", defende Maria. "Tipo eu: já fiquei com muita gente, mas
não tem esse componente
perverso que o padre vê. Não
recebi dinheiro para ficar."
Outro estudante, Victor
Arieta, 15, concorda: "Ficar é
aceitar estar com a pessoa, e
não ser obrigado em troca de
algum favor ou pagamento".
Baterista desde criança e
agora prestando vestibular
para engenharia, Victor diz
que "a igreja cobra um compromisso que as pessoas da
nossa idade não estão dispostas a assumir". "É como música. Já toquei pop, jazz e hoje
gosto de rock clássico. Não
posso dizer que meu gosto será o mesmo o resto da vida."
Para Felipe Grabarz, 18, "a
igreja não tem acompanhado
a sociedade". "Seus pais dizem que você deve usar camisinha, você ouve isso na escola e na TV. Aí vem a igreja e
diz que não. E o motivo é
ideológico", afirmou.
Na opinião de Felipe, que
é judeu, "historicamente a
igreja quer dominar o pensamento das pessoas". Ele afirma que vai pouco à sinagoga.
"Saio mais impaciente do que
entrei."
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