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ORÇAMENTO
Investimentos somaram R$ 149 mi em cinco meses, enquanto as despesas com viagens consumiram R$ 212 mi
Governo investe apenas 1% do que poderia
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva completou os primeiros cinco meses de governo sem ter usado nenhum centavo do dinheiro
que o Orçamento reserva para investimentos em saneamento, habitação ou organização agrária
durante o ano de 2003.
Os investimentos perdem, no
conjunto, até dos gastos de viagens, referentes a passagens e diárias dos funcionários. No mesmo
período em que foram investidos
R$ 149 milhões em todas as áreas
do governo, os gastos com viagens chegaram a R$ 212 milhões.
Em geral, os investimentos públicos caminharam em marcha
lenta. Bem mais devagar do que
os gastos com publicidade institucional, aquela que cuida da imagem do governo.
Enquanto o percentual de pagamento dos investimentos mal
passa de 1% do valor autorizado
no Orçamento da União para
2003, os gastos com publicidade
alcançam 6% do total, antes mesmo da entrega das propostas para
a licitação de R$ 150 milhões por
ano da publicidade institucional,
que está prevista para o início do
mês que vem.
Estes dados são do Siafi (sistema
informatizado que os parlamentares usam para acompanhamento de gastos da União), e a consulta está disponível no endereço eletrônico da Câmara dos Deputados (www.camara.gov.br).
Abastecido com informações
do Tesouro Nacional, o banco de
dados permite saber, com boa dose de detalhes, o destino dos tributos recolhidos pela União. Em
outras palavras, dá o retrato de
como o governo Lula administra
as contas públicas.
Com juros, por exemplo, a consulta ao Siafi aponta gastos de R$
20 bilhões até o final de maio. Parte disso (R$ 12,4 bilhões), porém,
refere-se à rolagem da dívida, ou
seja, juros não pagos e incorporados ao total da dívida.
Combate à Pobreza
Já o Fundo de Erradicação e
Combate à Pobreza, criado por
emenda constitucional em 2000
para garantir "níveis dignos de
subsistência" aos brasileiros,
usou R$ 1,2 bilhão -ou 24,23%
do que dispõe para o ano.
O fundo financia o pagamento
de programas de transferência de
renda aos mais pobres, como o
Bolsa-Escola e o Peti (Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil). Parte das despesas que seriam pagas com o dinheiro do
fundo não saiu do papel. É o caso,
por exemplo, do Programa "Saneamento é Vida".
Além da área de habitação, os
investimentos em saneamento foram os mais maltratados até 30 de
maio. Os programas são de responsabilidade, em grande parte,
do Ministério das Cidades -a
maior vítima na área social dos
cortes de gastos anunciados em
fevereiro. O ministério perdeu, na
ocasião, 85,19% do valor autorizado na lei orçamentária.
O corte, que ajustou o Orçamento à meta de superávit primário (economia para pagamento de
juros) de 4,25% do PIB acertada
com o Fundo Monetário Internacional, levou 72% dos investimentos programados para o ano.
Na área social, também perderam
grande parte de seus recursos os
ministérios do Desenvolvimento
Agrário e do Trabalho.
Apesar do corte de fevereiro,
que o governo aliviou parcialmente no final do mês passado, os
ministros vêm usando menos dinheiro do que dispõem em suas
pastas para gastar.
A pasta que mais recebeu recursos no chamado descontingenciamento do final de maio foi o Ministério dos Transportes, que só
havia pago 0,03% do total de investimentos previstos no Orçamento (antes do corte).
Insatisfação
O ritmo lento nos investimentos
foi o motivo da insatisfação manifestada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reuniões que
aconteceram anteontem no Alvorada. Na ocasião, Lula determinou o lançamento do Plano de Safra para a Agricultura Familiar e a
distribuição de 500 mil kits escolares em municípios pobres
-medidas para mostrar que o
governo não está parado.
A análise dos gastos com passagens e diárias mostra a grande
movimentação de funcionários
nos cinco primeiros meses de
mandato de Lula.
Mas, com os R$ 212 milhões das
viagens até aqui, é bastante provável que o primeiro ano de governo
Lula termine gastando menos que
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 2002, as viagens
consumiram R$ 677 milhões.
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