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Acordo sobre imigrantes deve ser assinado hoje
DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
Os governos brasileiro e português assinam hoje acordo que cria
comissão destinada a estudar a legalização dos cerca de 15 mil imigrantes brasileiros que estão em
situação irregular em Portugal.
O acordo, embora seja um primeiro passo, "prolonga a situação
de indefinição" dos clandestinos,
segundo Carlos Vianna, presidente de uma entidade que cuida
dos interesses dos brasileiros radicados em Portugal (no total são
68 mil, de acordo com os números oficiais mais recentes).
Vianna tem razão, ao menos a
julgar pela atitude de Iolame
Montesuma Guimarães, garçonete de 40 anos, três filhos e um neto
(todos no Brasil, com o marido,
do qual está separada).
Ela, como muitos outros brasileiros em situação irregular, seguiu os passos do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ontem, primeiro dia de sua visita a Portugal.
Conseguiu falar com o presidente quando ele saía do Mosteiro dos Jerónimos, após participar
da solenidade de entrega do prêmio Luiz de Camões ao escritor
brasileiro Rubem Fonseca.
Iolame pediu a Lula empenho
em resolver a questão dos imigrantes. "Vou cuidar disso com
todo o carinho", respondeu o presidente brasileiro.
Depois, Iolame cruzou de novo
com a comitiva brasileira quando
esta saía da Fundação Mário Soares. Já havia então a versão definitiva do acordo a ser assinado hoje.
Informada, Iolame não escondeu a frustração. "Quero exercer
o meu direito de ir e vir, quero poder ir ao Brasil e, se quiser, voltar a
Portugal", discursava.
O chanceler Celso Amorim, em
todo o caso, injeta otimismo, como é natural, na sua expectativa.
Diz que a comissão estudará a legalização de acordo com os parâmetros negociados até agora.
Significa o seguinte: os brasileiros poderão legalizar a sua situação nos consulados de Portugal
na Espanha. Hoje, a lei portuguesa obriga que o imigrante já venha
com a situação legalizada do país
de origem.
É obviamente bem mais complicado viajar para o remoto Brasil do que a vizinha Espanha.
As regras que estão sendo discutidas beneficiarão os brasileiros
que trabalham, com contrato ou
não, independentemente do tempo em que estejam em Portugal.
Para o embaixador José Gregori, que deixa o cargo em setembro,
a grande maioria dos 15 mil clandestinos estará incluída na regulamentação.
Mas Carlos Vianna tem suas dúvidas. "A comissão é que irá detalhar o modus operandi da legalização. É justamente no modus
operandi que as regras podem ser
mais ou menos flexíveis".
De alguma maneira, o chanceler
Celso Amorim concorda, mas
não vê alternativa: "Mesmo o melhor dos acordos não funciona se
não houver boa vontade".
Amorim acredita na boa vontade do governo português, porque
diz ter deixado bem claro que resolver a questão dos imigrantes é
muito importante para o relacionamento Brasil/Portugal.
(CR)
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