São Paulo, Domingo, 11 de Julho de 1999
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Brasil melhora, mas fica longe do 1º Mundo

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

O Brasil voltou ao grupo de países de médio desenvolvimento humano, após breve passagem, no ano passado, pelo rol de nações com alto desenvolvimento.
É o que mostra o relatório de 1999 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que será divulgado oficialmente amanhã, em todo o mundo. No relatório, o Brasil é o 79º entre 174 países.
O que provocou o retorno do Brasil ao seu grupo original foi uma mudança de metodologia no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Segundo a ONU, foi um aperfeiçoamento.
O IDH mede a qualidade de vida dos países a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), saúde (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita).
O novo método afetou o cálculo do índice de renda. Adotou-se o princípio de que aumentos de rendimento para quem já tem muito são menos importantes do que para quem tem pouco.
Corrigiram-se distorções que beneficiavam países com PIB per capita (conjunto das riquezas de um país dividido pelo seu número de habitantes) proporcionalmente mais alto do que sua esperança de vida ou taxa de alfabetização.
Entre os que mais se beneficiaram estão Cuba, Filipinas e países da ex-União Soviética. Entre os mais prejudicados, Síria, Turquia e outras nações árabes.
O Brasil foi um dos que perdeu. Na nova classificação, que usa dados referentes a 1997, o país passou a ser o 79º, com IDH 0,739 (numa escala que varia de 0 a 1).
No relatório de 1998, que usava dados referentes a 1995 e outra metodologia, o Brasil aparecia em 62º lugar, com um IDH de 0,809. O fato de ser superior a 0,800 colocava o Brasil na elite do IDH.
Os valores do relatório de 1998, entretanto, não são comparáveis aos deste ano por causa da mudança no índice de renda.
Por esse motivo, não se pode dizer que o Brasil piorou seu desempenho -embora pareça ter perdido posições na classificação.
Aplicando-se o novo método de cálculo aos dados de 1995, o país estaria no 81º lugar no ranking do ano passado. Do mesmo modo, se a metodologia anterior tivesse sido mantida, o Brasil teria passado do 62º para o 60º lugar.
Portanto, o Brasil subiu duas posições neste ano.
O que elevou o país no ranking foi a educação. A pequena redução do analfabetismo (de 16,7% para 16%) e o aumento da taxa de matrícula combinada (de 72% para 80% da população em idade escolar) fizeram o índice de educação crescer de 0,81 para 0,83.
Em comparação aos demais países, a classificação brasileira no que se refere apenas aos indicadores educacionais melhorou da 89ª para a 83ª colocação.
Mesmo assim, a educação ainda "puxa" o Brasil para baixo no ranking geral do IDH.
O pior desempenho do país é no índice que mede a saúde de sua população: a expectativa de vida do brasileiro médio melhorou pouco de 1995 a 1997, oscilando de 66,6 anos para 66,8 anos.
O crescimento equivalente a uma sobrevida de menos de dois meses foi inferior ao de outros países e fez o Brasil recuar da 107ª para a 109ª posição no ranking de esperança de vida.
Essa performance é incompatível com a riqueza do país: o PIB per capita ajustado pelo poder de compra é de US$ 6.480,00, o que mantém o Brasil na 63ª posição no ranking de renda.
A baixa esperança de vida dos brasileiros se deve, por exemplo, às mortes violentas de jovens e à combinação de mortalidade ainda alta por doenças infecciosas com o aumento das mortes por doenças típicas de países ricos, como o câncer e o infarto.
No ranking geral do IDH, o Brasil está várias posições atrás de argentinos, uruguaios, chilenos, mexicanos e colombianos -entre outros latino-americanos. Com a mudança de metodologia, mesmo Cuba ultrapassou o país, porque tem esperança de vida e alfabetização superiores ao Brasil.
A alteração metodológica fez com que 92 países subissem de posição e com que 66 caíssem.
Outra consequência foi a redução do grupo de alto desenvolvimento humano (com IDH superior a 0,800) de 64 para 45 países.
O Canadá permanece como o primeiro colocado, com IDH 0,932. Sua expectativa de vida, de 79 anos, é a segunda maior do mundo -só perde para a do Japão (4º no IDH), de 80 anos.
Chegam a 99% os canadenses alfabetizados e as pessoas em idade escolar matriculadas.
O PIB per capita (ajustado pelo poder de compra) canadense, de US$ 22.480,00, é o 13º. O maior é o de Luxemburgo (US$ 30.863,00), que está na 17ª posição no IDH.
Com a nova metodologia, cresceu o grupo de países com classificação intermediária no IDH, de 66 para 94 nações. O de IDH baixo (menor do que 0,500) caiu de 44 para 35 países.
Em último lugar continua Serra Leoa, com IDH 0,254. Após oito anos de guerra civil (suspensa na semana passada), a expectativa de vida é de 37,2 anos, o analfabetismo atinge 66,7% da população, e o PIB per capita é de US$ 410,00.


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