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CÂMARA OCULTA
Cargos de Natureza Especial são usados em redutos eleitorais
Conselho de Ética pede fim de uso político de cargos vips
JAIRO MARQUES
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do Conselho de
Ética e Decoro Parlamentar da
Câmara, Orlando Fantazzini (PT-SP) disse ontem que espera que a
Mesa da Câmara baixe um "decreto [ato] imediatamente" para
acabar com o uso político dos
CNEs (Cargos de Natureza Especial) na Casa.
Reportagem publicada ontem
pela Folha revelou que funcionários voltados para funções técnicas e administrativas estão atuando nos escritórios políticos das
bases eleitorais de deputados.
Foram encontrados casos assim
sob responsabilidade de João
Paulo Cunha (PT-SP), Inocêncio
Oliveira (PFL-PE) e Geddel Vieira
(PMDB-BA), respectivamente
presidente, primeiro-vice-presidente e primeiro-secretário da
Câmara.
São 1.960 funcionários contratados sem concurso público. A Câmara gastará, em 2003, R$ 97 milhões com salários de CNEs.
"Eu só posso lamentar essa postura de alguns colegas. Espero que
a sociedade civil pressione a Mesa
Diretora da Câmara para que seja
tomada alguma atitude contra esse tipo de prática", disse.
Segundo ele, os deputados já
dispõem em seus gabinetes de
"bom número" de assessores para trabalhar nas bases eleitorais.
Cada deputado tem direito a R$
35 mil mensais para contratar de
cinco a 20 secretários.
As secretarias da Mesa têm,
além dos CNEs, de dez a 18 servidores efetivos. "A Mesa já dispõe
de quadro técnico da Casa para
resolver as questões práticas."
Rotulando de "obscura" a forma usada pela Mesa para lotear
cargos, o ouvidor-geral parlamentar, Luciano Zica (PT-SP),
afirmou que cobrará explicações
de João Paulo e dos integrantes da
Mesa sobre tais "subterfúgios e
manobras". Segundo o ouvidor, a
denúncia "desgasta a imagem do
Congresso".
"A insatisfação popular vai parar na ouvidoria. Encaminharei o
problema para a Mesa e questionarei o presidente [João Paulo] a
respeito. Estamos em um momento que temos de batalhar para
recuperar o respeito e a credibilidade da Casa. Qualquer atitude
que diminua essa possibilidade de
merecer a confiança da população
é ruim. Temos de combater."
Para o ouvidor, há hoje direitos
diferentes entre membros da Mesa e demais parlamentares. "Os
cargos devem ser utilizados apenas em Brasília, se não, perde o
sentido. É inconveniente, pois a
própria assessoria dos deputados
tem a função de atender as bases
nos Estados. Se estabelece um privilégio para quem ocupa um cargo na Mesa em relação aos demais
parlamentares."
Zica disse que mudar a regra
atual "depende da vontade do
presidente e demais membros da
Mesa". "Acredito que o João Paulo esteja fazendo um trabalho de
moralização na Casa, embora haja pessoas atuando dessa forma
em Osasco. Espero que eles se empenhem para minimizar isso."
Zica disse que vai "sugerir, se for
necessário e justificável, que se
mude o ato da Mesa, criando de
forma transparente esses cargos.
Não dá para fazer isso de forma
obscura, criando uma estrutura
como se fosse para ficar em Brasília, mas ficando nos Estados."
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