São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO TUCANA

Publicitário diz que não se recorda dos telefonemas, que ocorreram durante a campanha presidencial e totalizaram 58 minutos de conversa

Sócio de Valério ligou para comitê de Serra

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A quebra do sigilo telefônico das empresas e pessoas sob investigação na CPI dos Correios revelou troca de chamadas entre um celular registrado em nome do Comitê Financeiro Nacional da Campanha José Serra, em Belo Horizonte (MG), e um telefone celular de Cristiano Paz, ex-sócio do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza.
A informação, divulgada ontem em reportagem de "O Estado de S. Paulo", integra a base de dados elaborada pela CPI. As chamadas ocorreram entre setembro e outubro de 2002, quando Serra participava da campanha presidencial como candidato do PSDB.
Ocorreram 18 ligações do telefone de Paz para o celular 0/xx/31/ 9951-0850, registrado em nome do comitê mineiro de Serra, e 19 ligações no sentido contrário. Ao todo, foram 58 minutos de conversas. Ontem, as chamadas feitas ao número caíam em uma caixa postal sem identificação.
A assessoria do empresário Cristiano Paz informou que ele não conhece e nunca esteve com o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). Paz, segundo a assessoria, não se recorda exatamente com quem falou no comitê, mas "pode ter sido" com Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e um dos coordenadores da campanha de Serra em 2002. Paz informou que é amigo de Veiga. O ex-ministro negou ter falado com o empresário.
A assessoria de Paz disse que ele tem "contatos freqüentes" com diversos publicitários de Belo Horizonte e com jornalistas que trabalharam na campanha são conhecidos de Paz, pessoas com as quais ele sempre manteve contatos, o que também poderia explicar as chamadas. A assessoria não quis divulgar nomes, para "não envolver gente que não tem nada a ver com a história"
Marcos Valério era sócio de Paz até dois meses atrás, quando deixou a agência de publicidade SMPB Comunicação, em meio ao escândalo do "mensalão". A assessoria de Valério informou que ele também "não conhece" e "nunca falou" com José Serra.

Outros tucanos
A CPI já havia detectado telefonemas de Valério para o comitê de campanha do governador de Minas, Aécio Neves, e para o celular do senador Eduardo Azeredo, ambos do PSDB mineiro.
A assessoria de Aécio informou, na época, que as chamadas provavelmente foram dadas ou recebidas por funcionários da campanha que usavam telefones celulares registrados em nome do comitê. Os nomes dos portadores desses telefones, até ontem, não haviam sido divulgados.
A CPI localizou 53 chamadas do telefone celular de Marcos Valério para o celular de Azeredo e mais duas no sentido inverso entre 2001 e 2002. Azeredo afirmou, na época da divulgação dos telefonemas, que conversava com Valério "sobre política".
Em 1998, Valério contraiu empréstimo bancário de R$ 8,3 milhões e o repassou para candidatos do PSDB por meio de caixa dois. Em discurso no dia 2 de agosto último, Azeredo negou, mas Valério, ao contrário, afirmou duas vezes à CPI do Mensalão que Azeredo tinha conhecimento do empréstimo que beneficiou os tucanos.


Colaborou PAULO PEIXOTO, da Agência Folha, em Belo Horizonte

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