São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2004

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CPI DOS COMBUSTÍVEIS

Delegado não investigará envolvimento de políticos com o caso

PF deixa apuração para o Congresso

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

ANDREA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O delegado da Polícia Federal Cláudio Nogueira, responsável pelo inquérito da ""máfia dos combustíveis", afirmou ontem que não investigará o envolvimento de políticos com quadrilhas de adulteração e sonegação de impostos no setor para não complicar o inquérito.
Uma das 44 pessoas presas pela PF na segunda-feira, o empresário Renan de Macedo Leite, trabalha na Assembléia Legislativa do Estado do Rio como assessor parlamentar do deputado estadual Domingos Brazão (PMDB). Pelo menos dois sócios de Macedo Leite em postos de gasolina fizeram doações para as campanhas do deputado federal André Luiz (PMDB-RJ) e da mulher dele, a deputada estadual Eliana Ribeiro, também do PMDB.
O delegado disse que, se fosse investigar as ramificações políticas, o inquérito teria de ser transferido para o STJ (Superior Tribunal de Justiça). ""Não entendam minhas palavras como crítica ao STJ, mas ele está abarrotado com milhares de processos que não andam. Prefiro trabalhar com juízes da primeira instância, que estão mais próximos do nosso corpo-a-corpo", disse o delegado.

Grampo telefônico
Durante investigação da PF sobre corrupção de funcionários públicos federais, em 2003, a escuta telefônica capturou informações sobre suposto envolvimento de autoridades com a máfia.
Foi quebrado o sigilo telefônico de um advogado do Rio que representou distribuidoras e postos de gasolina que obtiveram liminares judiciais para comprar combustível da Petrobras sem recolhimento antecipado de impostos. Também foram capturados diálogos em que o lobista do setor de combustíveis, Amadeu Moreira Carvalho, orientava o deputado federal André Luiz (PMDB-RJ) a fazer perguntas para pressionar o diretor-geral da ANP, Sebastião do Rego Barros, em sessão da CPI dos Combustíveis na Câmara. A CPI foi marcada por acusações de corrupção e terminou, em setembro do ano passado, sem apontar os fraudadores.
Como deputados, desembargadores e governadores, por força da Constituição e da Lei da Magistratura, só podem ser investigados pelo STJ, o delegado Cláudio Nogueira desmembrou o inquérito, no ano passado, e enviou os autos que continham referências às autoridades para o STJ, que abriu o inquérito sigiloso 000424, cujo relator é o ministro José Arnaldo da Fonseca.
O delegado afirmou que deixará para o Congresso Nacional e para a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro a tarefa de apurar os indícios de envolvimento de políticos com integrantes da máfia dos combustíveis.
O delegado confirmou que o lobista Amadeu Carvalho é sócio do empresário Macedo Leite em postos de gasolina, mas disse que não é alvo da PF porque já está sob inquérito do STJ.

Outro Lado
O deputado estadual Domingos Brazão (PMDB) disse em discurso na Assembléia Legislativa que é amigo há 20 anos do empresário Renan Macedo Leite e que não irá demiti-lo do cargo de assessor parlamentar porque nada estaria provado contra ele.
O deputado federal André Luiz (PMDB-RJ), segundo sua assessoria, está internado em hospital, vítima de acidente de automóvel. Amadeu Ribeiro de Carvalho não foi localizado pela reportagem.


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