São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PÉ NO FREIO

Palácio do Planalto dizia ontem ter obtido apoios necessários para evitar que as investigações se estendam até abril de 2006

Governo e oposição duelam por prazo de CPI

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

No início da noite de ontem, o governo dizia ter até 27 assinaturas a mais do que o necessário para barrar o requerimento de prorrogação do prazo de funcionamento da CPI dos Correios. A idéia era apresentar a lista apenas à meia-noite, hora limite para retirar nomes do documento.
No mesmo horário, a oposição apresentaria também nomes extras de apoio à extensão do período para a investigação.
Os dois lados pareciam estar usando um misto de informação real e blefe -até porque ninguém se prontificava a mostrar a lista completa de apoios que dizia ter.
Na parte da manhã, com um dia de atraso, havia sido finalmente lido numa sessão do Congresso o pedido de prorrogação do prazo da CPI dos Correios.
A investigação termina regimentalmente no dia 11 de dezembro, mas a oposição quer 120 dias a mais, levando o caso até 11 de abril -já em meio ao processo eleitoral de 2006.
Por ser uma investigação mista, a CPI dos Correios só pode ser prorrogada com o apoio de um terço da Câmara (171 deputados de um total de 513) e de um terço do Senado (27 de 81 senadores).
Quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), leu ontem o requerimento da oposição solicitando a prorrogação, 217 deputados e 32 senadores assinavam o documento. Renan havia manobrado no dia anterior ao adiar a leitura do requerimento. Ajudou o governo, que teve mais tempo para trabalhar a retirada de nomes.
A prorrogação da CPI só vale a partir da publicação no "Diário Oficial" do Congresso, o que deve ocorrer hoje. Mas o prazo final para entrada ou retirada de nomes ia até a meia-noite de ontem.
Além de Renan Calheiros, o Palácio do Planalto também contou com a ajuda do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Aldo estendeu o máximo que pôde os trabalhos dos deputados anteontem, impedindo uma sessão do Congresso no final do dia.
No início da noite de ontem, de acordo com número preliminares apurados pela Folha, as defecções na oposição eram maiores entre os peemedebistas. O partido contava 23 desistências de apoio à prorrogação da CPI por volta das 19h. No PP, o Planalto contabilizava 13 retiradas de nomes. No PTB, o número era de seis.
"Nós somos a favor de prorrogar a CPI, mas achamos que esse prazo até abril é um exagero. Poderíamos prorrogar, por exemplo, até janeiro", diz José Múcio.
A Folha ouviu no Congresso Nacional opiniões de que seria uma grande humilhação para o governo se saísse derrotado numa simples disputa por um requerimento de prorrogação de CPI.
Se o Planalto constatasse que não tinha nomes suficientes para barrar a prorrogação da CPI até a meia-noite de ontem, não apresentaria as assinaturas dos deputados que haviam se apresentado para ajudar -pois esses congressistas se desgastariam à toa.
Apesar das ações concretas a favor do governo, Renan Calheiros negou que estivesse ajudando o Palácio do Planalto. "Eu tive apoio do PT para me eleger presidente do Senado, mas também contei com o PSDB e com o PFL, e isso só aumenta minha responsabilidade", afirmou o senador.


Texto Anterior: A hora de Dirceu: Pela 3ª vez, Dirceu tenta suspender processo no STF
Próximo Texto: Caixa dois: PT pede ao TSE auditoria nas contas do PSDB
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.