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HERANÇA MILITAR
Célia Maria Leite Costa, da FGV, afirma que não cabe ao governo decidir o "que a sociedade pode ler"
Para historiadora, sigilo eterno é retrocesso
DA REPORTAGEM LOCAL
DO ENVIADO A PIRENÓPOLIS (GO)
A historiadora Célia Maria Leite
Costa, da Fundação Getúlio Vargas do Rio, criticou ontem a manutenção do instrumento de "sigilo eterno", que considera um retrocesso, na nova legislação para
o sigilo de documentos oficiais
editada ontem pelo governo Lula.
Costa discorda da atribuição à
Comissão de Averiguação e Análise de Informações Sigilosas da
decisão pela "permanência ou
ressalva" ao acesso a documentos
"enquanto for imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado", sem a especificação de prazo.
"O erro é esse", disse ela: atribuir
tal poder a uma comissão interministerial. "Isso é uma questão
de Estado, e não de governo. Por
que é que Lula, ou quem quer que
seja, ou os ministros de Lula vão
decidir o que é que a sociedade
pode ler ou não ler?", questiona.
"Você tem que ter parâmetros
definidos por técnicos, pessoas
especialistas no assunto. Não é
pelo fato de você ser ministro que
você se torna especialista em legislação." Além disso, disse Costa,
"nada pode ser subtraído da possibilidade de os cidadãos conhecerem". Sobre os novos prazos de
sigilo, ela considerou "condizentes com os prazos internacionais".
Já a representante dos familiares na Comissão Especial dos
Mortos e Desaparecidos Políticos,
Criméia Almeida, 58, criticou os
prazos e disse ser "contra o sigilo
eterno para os crimes em geral":
"Acho um absurdo que o prazo de
30 anos para documentos ultra-secretos possa ser renovável". Ela
afirmou que "deveria haver um
adendo prevendo que crimes
contra direitos humanos não poderiam ter sigilo": "As pessoas interessadas poderiam determinar
se querem sigilo ou não", disse.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva assinou uma medida provisória e um decreto regulamentando o acesso a documentos sigilosos do governo. O Planalto divulgou uma versão errada dos textos
por volta das 20h de anteontem.
Cerca de uma hora depois, o Planalto voltou atrás e só liberou a
versão final às 0h55 de ontem.
Os ministros envolvidos acompanharam as discussões até o início da madrugada, quando o subchefe de Assuntos Jurídicos da
Casa Civil, José Antônio Dias Toffoli, fechou o texto. Segundo o ministro Márcio Thomaz Bastos,
houve erro na divulgação: "Não
foi atropelo. Foi feito com um
pouco de pressa, e as pessoas estavam longe umas das outras, mas
hoje, com telefone, com fax, isso
se acerta. Haverá de ter acontecido de uma versão que não era final, que as pessoas souberam e tomaram como versão final, mas na
verdade não era", declarou.
A principal novidade é a criação
de uma comissão composta por
seis ministros, que dará a palavra
final sobre a divulgação de papéis
e arquivos. O grupo será coordenado pela Casa Civil e formado
pelos ministérios da Justiça, Defesa, Relações Exteriores, Advocacia Geral da União, Gabinete de
Segurança Institucional e Secretaria Especial dos Direitos Humanos. A comissão poderá vetar o
acesso a documentos mesmo
após o término do prazo de sigilo.
(RAFAEL CARIELLO e IURI DANTAS)
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