São Paulo, sexta, 11 de dezembro de 1998

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SÃO PAULO
Covas será operado na segunda-feira de manhã
Mancha em osso não é câncer, diz exame

RICARDO GALHARDO
da Reportagem Local

A equipe médica do Incor (Instituto do Coração) marcou para segunda-feira de manhã a cirurgia para retirada do tumor na bexiga do governador reeleito de São Paulo, Mário Covas (PSDB), 68.
Ontem foi divulgado o resultado da biopsia óssea feita na terça. O exame mostrou que a mancha encontrada no lado esquerdo da bacia do governador não é câncer, mas, possivelmente, um trauma provocado por pequena fratura.
Segundo o infectologista David Uip, médico particular de Covas, os exames para pesquisa de metástase (quando o câncer se espalha para outros órgãos) terminaram ontem, com resultados negativos.
"Hoje (ontem) nós temos uma forma de afirmar de maneira decisiva que ele (Covas) não tem nenhuma metástase do tumor nas situações investigadas", afirmou.
Os médicos, entretanto, ainda vão examinar, durante a cirurgia, os ureteres (canais que ligam os rins à bexiga) e os gânglios linfáticos (estruturas responsáveis por parte do sistema de defesa do corpo) do governador para confirmação da inexistência de metástases.
Na hipótese de existência de metástases, a cirurgia seria paliativa.
O urologista Sami Arap, que vai operar Covas, disse que existem 90% de chances de a cirurgia ser uma cistoprostatectomia radical (remoção total da bexiga e da próstata) com reconstrução da bexiga com partes do intestino. Antes, Covas passará por uma linfatenectomia pélvica (remoção dos gânglios linfáticos próximos à bexiga).
O objetivo é eliminar totalmente a doença e reconstruir a bexiga para que o governador possa urinar naturalmente. O tempo previsto de duração da cirurgia é de seis a nove horas, conforme Arap.
"São de 10%, talvez 15%, as chances de que algum fator impeça esse tipo de solução, mas só na hora da cirurgia poderemos saber se esse fator existe", disse Arap.
Segundo o urologista, também são de 10% as chances de o governador sofrer incontinência urinária após a cirurgia.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmaram que 70% dos pacientes por volta de 70 anos ficam impotentes após a cirurgia. Outra consequência da intervenção é a certeza de esterilidade causada pela retirada, segundo eles obrigatória, das vesículas seminais (depósito de espermatozóides localizado embaixo da bexiga).
A nova bexiga terá capacidade entre 500 cm3 e 600 cm3 -volume equivalente a uma bexiga normal.
Desde ontem o governador é submetido a lavagens intestinais e a uma dieta à base de líquidos. O objetivo é limpar o intestino para reduzir ao mínimo o risco de infecções. A partir de domingo, véspera da cirurgia, Covas vai tomar antibióticos profiláticos (remédios que previnem infecções) para eliminar os germes do intestino.
Após a cirurgia, Covas deverá passar 24h na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Incor. "É por cautela. Será uma operação longa em um indivíduo safenado. Em geral não é essencial, mas é prudente", disse Arap.
De acordo com ele, caso o câncer volte após a cirurgia, poderão ser adotados tratamentos como a quimioterapia (injeção de substâncias químicas que matam as células com câncer, mas também eliminam células sadias) ou imunoterapia (método que permite ao organismo combater o surgimento de novas células com câncer).
O resultado negativo da biopsia óssea foi definida por David Uip como "um alívio". Segundo ele, Covas ficou "muito animado" com a notícia, e o único fato que abalou seu humor foi a eliminação do Santos das finais do Brasileiro. Covas é santista e assistiu o jogo.
Sami Arap brincou com o resultado do jogo ao informar o governador sobre o resultado da biopsia, ontem de manhã. "Disse a ele que tinha duas notícias, uma ruim e outra boa. A ruim era que o Santos estava mesmo fora das finais e a boa era que a biopsia foi negativa."
Ontem estiveram no hospital os atores Sérgio Mamberti e Regina Duarte e a primeira-dama paulistana, Nicéa Pitta.



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