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JANIO DE FREITAS
Atacantes de gols contra
Itamar Franco não precisa fazer
mais nada, para sair vencedor no
seu confronto político e administrativo com o governo federal. A
sucessão de mancadas (não são
erros simplesmente, não) dos governistas já entrou no gênero das
comédias, com toques típicos do
pastelão.
A ordem cronológica dos episódios não tem importância. Pode-
se começar pela reunião de hoje,
no Maranhão, transada por Fernando Henrique Cardoso e Roseana Sarney para que um punhado de governadores lance um
ataque conjunto a Itamar Franco,
assim, segundo os idealizadores,
fortalecendo o presidente e seu
governo. Mas os atacantes já se
comprometeram a cobrar, em defesa dos seus Estados, redução dos
juros já, o que significa pedir a
mudança da política econômica.
Vão se manifestar a favor contra.
A bisonhice do raciocínio político não percebeu que o governo estaria dando oportunidade e pretexto para cobranças, imediatas e
futuras, dos tantos governadores
que não estão menos insatisfeitos
com a situação dos seus Estados
do que Itamar Franco. Mesmo um
governador comprometido com
Fernando Henrique e com o
PSDB, como Tasso Jereissati, não
pode mais omitir-se ante sua afirmação de que "a preocupação
com as altas taxas de juros deve
ser ponto pacífico entre todos os
governadores".
Já a primeira reação de Fernando Henrique, Malan e cia. foi grotesca. Quando deviam minimizar
a atitude de Itamar, insinuando-
lhe inocuidade, para não haver
repercussões indesejáveis, foram
os estimuladores de hipóteses tão
fantasiosas como a expressa nesta
manchete globalina: "Calote de
Itamar derruba bolsas e dólar no
mundo". Os fernandistas descobriram que Itamar tem um poder
sem igual no planeta.
A reação pessoal de Fernando
Henrique: "A autoridade maior
no país é o presidente da República, e cumpre a lei. Todos hão de
cumpri-la, custe o que custar". O
tom assargentado foi o de menos.
O risco duplo, da afirmação e da
ameaça, era de total falta de senso
político. Se Itamar, ou algum outro, resolve mostrar que muitas
leis, em diferentes planos e gravidades, são ou foram desrespeitadas pelo declarante, uma frase
ruim poderia dar resultado péssimo.
E a ameaça? Itamar não a considerou, e nada aconteceu. Ou melhor, aconteceu: em vista da indiferença do adversário, mudou de
tom e mandou lhe dizer, pelo senador Jáder Barbalho, que está
pronto a recebê-lo para conversar
sobre o problema. Diriam outrora: entrada de leão, saída de sendeiro.
Com isso, Itamar Franco, que
iniciara com a posição de desafio,
tem agora a posição de força no
confronto. E em relação, também,
aos governadores chamados a criticá-lo. As sondagens estaduais
indicam, todas, que a população
não está com seus governadores-
governistas.
A bisonhice, aliás, está mais generalizada do que indicam Fernando Henrique e o governo. Os
governadores em dia com os pagamentos ao governo federal
"exigem" que Minas, para distinguir-se dos seus estados pontuais,
seja cobrada e, se for o caso, punida. É uma posição medíocre, porque o pagamento por Minas não
compensará a sacrificante correção de outros. Ceará, Bahia e Maranhão deveriam exigir, isso sim,
compensações ao sacrifício que os
demais não fizeram.
E os demais, ao menos por pudor, deviam ser menos solícitos
nas manifestações governistas. Se
apenas três estão rigorosamente
em dia, é claro que todos os demais não têm cumprido seus compromissos. Não têm autoridade
para as poses que exibem. E com
as quais realçam a atitude de Itamar Franco, querendo combatê-
lo desde já com vistas a 2002, que
esse, sim, é o problema dos governadores em geral.
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