São Paulo, terça, 12 de janeiro de 1999

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BNDES
Maleta de militar pode ter feito grampo
Perícia da PF derruba versão de coronel

MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio

A tecnologia das seis maletas de escuta telefônica apreendidas no dia 7 de dezembro com um filho do tenente-coronel da reserva da Aeronáutica Eudo Santos Costa é compatível com a técnica que provavelmente foi empregada no grampo no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A Folha teve acesso aos primeiros resultados da perícia pedida pelos delegados Eduardo da Matta e Roberto Prel no inquérito da Polícia Federal instaurado no Rio depois da apreensão das maletas e de cerca de 2.000 fitas cassete.
A tecnologia e o objetivo das maletas são diferentes do que Eudo Costa descreveu. Elas servem para escuta à distância de telefones fixos, e não para captar conversas de celular e mensagens de pagers.
Nos grampos realizados com esse método, um aparelho radiotransmissor é instalado na caixa telefônica na qual estão ligados os fios de um telefone fixo.
À distância, as maletas recebem o som, permitindo a gravação das conversas.
A vantagem é que nenhuma fita precisa ser buscada e trocada na caixa telefônica -basta colocar uma nova na maleta.
A PF acredita que o grampo na sede do BNDES, no centro do Rio, tenha sido feito com essa técnica. Os receptores, que podem ter sido maletas iguais às do coronel Costa, teriam ficado num escritório de um prédio lateral, particular. O edifício em frente pertence à Petrobrás.
A perícia da PF derruba a versão do coronel Costa, dono da empresa de segurança eletrônica Air Phoenix.
Ele afirmou que as maletas serviam para interceptar "cola eletrônica" no vestibular -mensagens por celular e pagers. Os testes mostraram que isso não é possível.
O coronel Eudo Costa também depôs em outro inquérito, o que apura a escuta no BNDES que resultou na queda do presidente do banco, André Lara Resende, e do ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações).
Apesar de a tecnologia das maletas da Air Phoenix ser compatível com a usada na escuta no BNDES, as fitas não devem servir para esclarecer se o coronel Costa participou do grampo que derrubou Mendonça de Barros.
A perícia não vai transcrever as fitas porque a Delegacia de Combate ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais não fez esse pedido no questionário padrão. Para saber quais foram os números interceptados e se mais de um telefone foi grampeado, o material será enviado para o Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília.
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Segurança polêmica
Para a Procuradoria da República no Rio, a "falta de segurança" no armazenamento das fitas ameaça a investigação do grampo no BNDES, caso as gravações feitas pela Air Phoenix tenham relação com a escuta no banco.
As fitas e as maletas estão numa sala do setor de criminalística, no terceiro andar da sede da PF no Rio. "Quando vi como estavam as fitas fiquei intranquila, a sala não é um lugar seguro", disse a procuradora Silvana Batini, que acompanha o caso do BNDES com o procurador Artur Gueiros.



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