São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula ataca "obsessão eleitoral" cercado por pré-candidatos

Presidente diz que certos políticos tratam pobre como "top model" só em dia de eleição

Evento em Tocantins é marcado por distribuição de 5.000 marmitas; petista diz que que adversários tentam enfraquecê-lo até 2010

LETÍCIA SANDER
ENVIADA A DIANÓPOLIS

Em um discurso cheio de "recados" à oposição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem durante evento em Dianópolis (TO) que, até a sua chegada ao poder, os pobres no Brasil foram utilizados como "moeda eleitoral", tratados como "top model" apenas em dia de eleição e depois esquecidos.
Lula também disse que não privilegia aliados, enquanto alguns de seus adversários "só pensam naquilo" - numa referência à sucessão presidencial. Disse que seus adversários agiram para derrotar a CPMF para que ele, com menos dinheiro em caixa, ficasse enfraquecido e não fizesse sucessor em 2010.
"É assim que funciona a cabeça de algumas pessoas no Brasil. Só pensam naquilo, só pensam naquilo, só pensam naquilo. Quanto ao Marcelo [Miranda, governador de Tocantins] e eu, nós temos de pensar não é em 2010, é no agora".
O presidente falou em tom de desafio ao negar qualquer tipo de discriminação aos governadores de partidos adversários: "Perguntem ao José Serra, do PSDB, perguntem ao Aécio Neves, do PSDB, perguntem à governadora do estado do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, do PSDB (...)", afirmou, citando mais nomes de oposicionistas. E acrescentou que "não tem importância que eles [a oposição] derrubaram a CPMF".
O presidente viajou para o interior de Tocantins para inauguração de uma barragem sobre o rio Manuel Alves e de parte de projeto de irrigação, obras previstas no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).
Cercado de prefeitos e políticos da região, ele discorreu sobre programas sociais e afirmou que tais investimentos no setor causam "revolta" nos adversários.
"Quando eu criei o Bolsa Família, os de cima diziam assim: isso é esmola, é assistencialismo." Em seguida, acrescentou: "R$ 90 não vale nada para uma pessoa que ganha R$ 20 mil por mês e dá isso de gorjeta depois que fica bêbado num bar, tomando cerveja. Agora, R$ 90 na mão de uma mulher que tem três ou quatro filhos..."
Lula disse que "não tem nada mais barato no mundo do que a gente governar para os pobres", porque eles "querem muito pouco, não pedem o absurdo".
"Por que eles não fizeram isso?", questionou, referindo-se à oposição. "Vocês já perceberam que há um único dia em que um bando de políticos trata o pobre igual ao rico? Porque na época da campanha, você não vê político falando mal de pobre. Político xinga banqueiro, político xinga empresário, político xinga todo mundo. Mas pobre é "meu queridinho" daqui e "meu queridinho" de lá. Aí, depois que ganha as eleições... É o único dia em que o pobre vira top model, vira a coisa mais importante, porque o voto dele vale igual ao voto do rico", afirmou.
"Só que depois das eleições, alguns políticos só convidam os ricos para as suas festas e os pobres ficam esquecidos até as próximas eleições. É isso que mudou, no Brasil".
Apesar da ênfase de que sua preocupação é social, e não eleitoral, Lula participou do evento cercado de prefeitos que disputarão a reeleição, entre eles o de Dianópolis, José Salomão Jacobina Aires (PT).
O prefeito decretou feriado e mobilizou ônibus da prefeitura para levar os moradores até o evento. Ao fim do ato, foram distribuídas cerca de 5.000 marmitas com arroz, feijão tropeiro, carne seca e mandioca, como o prefeito de Dianópolis disse à Folha anteontem.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Dilma se diz "mãe do PAC" e ouve apelo por 2010
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.