São Paulo, quinta, 12 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REFORMA MINISTERIAL
Carlos Albuquerque nega estar demissionário e vê uma campanha dos críticos de seu trabalho
Ministro da Saúde reclama de sua "fritura'


BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

O ministro da Saúde, Carlos Albuquerque, afirmou ontem em entrevista coletiva que não está demissionário, que não vai colocar seu cargo à disposição na reforma ministerial e que o processo de "fritura" pelo qual está passando é "desagradável".
Ele atribuiu as críticas à sua gestão a interesses contrariados.
O senador José Serra (PSDB-SP) teria sido convidado por Fernando Henrique Cardoso para assumir a pasta da Saúde.
Serra disse que ainda levará algumas semanas para decidir se aceita ou não o convite. O ministro Carlos Albuquerque ainda não havia falado publicamente sobre o assunto.
Ontem, Albuquerque convocou a entrevista. "Não estou demissionário", disse, antes de começar a falar sobre suas realizações no ministério.
Comodismo
"Minha posição é extremamente cômoda. Não movi uma palha para chegar ao Ministério da Saúde. Mais do que o de qualquer ministro, meu cargo é do presidente", afirmou.
Albuquerque pertence ao PSDB gaúcho. Sua indicação para o ministério é atribuída a Paulo Renato Souza, ministro da Educação.
"Foi um convite pessoal do presidente (assumir o ministério). Se ele tem necessidades políticas de me substituir, nada mais fácil do que fazê-lo", disse Albuquerque.
Ele afirmou que não vai colocar seu cargo à disposição na reforma ministerial, marcada para o final do mês, porque isso não é necessário. "Meu cargo está permanentemente à disposição do presidente."
O ministro procurou demonstrar que continua trabalhando, apesar dos rumores constantes de sua queda.
"Há um processo desagradável, se o nome é fritura eu não sei, mas é desagradável todo dia dizer que vamos sair (do ministério). Não estou informado oficialmente nem extra-oficialmente da minha saída, o que sei é pela imprensa."
O ministro costuma dizer que sua gestão é marcada pela abertura de verdadeiras "caixas-pretas" do ministério, como a reformulação da Central de Medicamentos, o fim do Inan (Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição), modificações das políticas de sangue e de compra de vacinas e a descentralização da distribuição dos recursos do SUS (Sistema Único de Saúde).
'"As críticas (à gestão no ministério) têm sido dos grupos atingidos pela lisura e transparência do ministério. Estamos mostrando que recursos são importantes, mas existe também todo um trabalho de gestão."
Albuquerque assumiu o ministério no dia 18 de dezembro de 96, substituindo o médico Adib Jatene, cuja gestão havia sido marcada pelo pedido de mais dinheiro para a área.
Foi de Jatene a idéia de voltar especificamente para a saúde recursos da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, o imposto do cheque).
Uma das principais missões de Albuquerque era tentar melhorar a gestão na área com os recursos disponíveis.
Recursos
Ontem, ele afirmou que, conforme disse o ex-ministro Adib Jatene, o sistema de saúde de fato precisa de mais recursos para atender melhor a população.
"Nós temos hoje apenas R$ 200 por habitante em saúde no Brasil, num sistema que precisa de no mínimo R$ 500. Mas o problema é que mesmo esses R$ 200 são mal gastos. Nós estamos buscando otimizar os recursos disponíveis", disse Albuquerque.
Para quarta-feira que vem, o ministro afirmou que já está marcada uma cerimônia no Palácio do Planalto para a qual foram convidados 1.300 representantes de municípios que já receberam o primeiro repasse do PAB (Piso da Atenção Básica), o feito de maior orgulho de Albuquerque no ministério (veja balanço apresentado ontem no quadro ao lado).



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.