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REGIME MILITAR
Militares dizem que presidente sabe quem é Fayad por tê-lo nomeado, pela primeira vez, ano passado
FHC mantém general acusado de tortura
RUI NOGUEIRA
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou ontem que
vai manter no cargo o general Ricardo Fayad na subdiretoria de
Saúde do Exército.
O general é acusado por grupos
de defesa dos direitos humanos de
conivência com torturas durante o
regime militar (1964-1985).
Fayad é subdiretor desde fevereiro deste ano e foi promovido a general-de-brigada em 94 pelo então
presidente Itamar Franco.
Os militares não aceitam a saída
do general e têm quatro argumentos para defender a sua manutenção nas funções atuais.
O primeiro argumento: FHC sabe quem é o general porque já o
tinha nomeado, por meio de portaria no "Diário Oficial" da
União, em 97, para a função de 1º
subdiretor de Saúde do Exército.
Anteontem, o porta-voz da Presidência da República, Sergio
Amaral, disse que FHC "não tinha
conhecimento dos fatos que foram
apontados pela imprensa" e que
iria se informar melhor sobre o caso com o ministro Zenildo de Lucena (Exército). Até ontem à noite,
o presidente não tinha chamado o
ministro. A Folha apurou que o
chamado formal para pedir explicações ao ministro não acontecerá.
Ao final de 97, o Exército fez uma
reforma administrativa na área de
saúde e fundiu a 1ª e 2ª subdiretorias em uma única subdiretoria
entregue a Fayad.
Em carta enviada a FHC, o Grupo Tortura Nunca Mais lembrou
que o general teve o seu registro
profissional cassado pelos conselhos Regional e Federal de Medicina. Fayad serviu, nos anos 60 e 70,
no quartel da rua Barão de Mesquita, na Tijuca (zona norte do
Rio), como médico que verificava
as condições dos presos políticos
para suportar torturas.
O segundo argumento: Fayad
não pode ser proibido de exercer
as funções de médico por ser militar. Pela lei 6.681/79, médicos militares não são sujeitos à ação disciplinar de conselhos de medicina.
O terceiro: a Justiça Federal decidiu, em um processo de Fayad
contra os conselhos de medicina,
que ele pode continuar exercendo
a profissão.
Ontem, o porta-voz da Presidência disse que FHC já fora informado da situação de Fayad pelo ministro-chefe da Casa Militar, o general Alberto Cardoso.
Segundo Sergio Amaral, Fayad
fica no cargo por três motivos:
porque não houve qualquer promoção, porque as funções são administrativas e porque ainda corre
na Justiça um recurso do Conselho
Regional de Medicina do Rio.
Julgado o processo, se nenhuma
das três explicações dos militares
convencer FHC, eles vão lançar
mão de um quarto e último argumento político-ideológico.
Vão lembrar a FHC que o Exército ficou calado durante o processo
de indenização das famílias dos
presos e desaparecidos políticos.
Por não terem contestado a decisão de governo de conceder as indenizações, o Exército quer que o
governo respeite a nomeação de
Fayad.
Em carta enviada aos jornais ontem, o general Helio Ibiapina Lima, presidente do Clube Militar,
defende a manutenção de Fayad
no cargo e pede, ainda, que cesse a
"vingança contra os militares".
Ele diz que a anistia ampla geral e
irrestrita concedida pelo presidente João Figueiredo aos marxistas,
terroristas e corruptos de todas as
espécies é mitigada, particular e
restrita para os outros.
"Enquanto isso, assassinos,
ex-terroristas, assaltantes, sequestradores viraram heróis do cinema
e figuras de projeção nacional premiados com opulentas indenizações", afirma na carta.
Colaborou
William França, da Sucursal de Brasília
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