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CASO CPEM
Petista disse a comissão que ajudou a levantar US$ 400 mil para resgatar sobrinho de Teixeira em 93, mas dinheiro não foi utilizado
Lula intermediou pagamento de sequestro
LUIZ MAKLOUF CARVALHO
da Reportagem Local
O pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, intermediou diretamente, junto a "empresários amigos", a arrecadação de US$ 400
mil para pagar o resgate do sequestro, em dezembro de 1993, de
um sobrinho do advogado Roberto Teixeira, seu compadre e dono
da casa em que mora de graça desde 1989.
A história foi revelada pelo próprio Lula em depoimento prestado em 30 de junho do ano passado
à Comissão Especial que investigou o caso Cpem.
Ele contou sobre a arrecadação
do dinheiro quando discorria sobre a relação de amizade com Teixeira. Pediu claramente que não
fosse registrada nos autos -"também não quero que saia aqui", disse- mas não foi atendido.
A reportagem da Folha procurou Lula para perguntar quais empresários contribuíram e o que foi
feito do dinheiro - já que o sobrinho saiu ileso e não houve necessidade de pagar o resgate aos sequestradores.
A resposta foi dada por Francisco Rocha, membro do Diretório
Nacional do partido: "Eu, o Lula,
ou qualquer outro, não temos
obrigação de dar informações públicas sobre coisas internas do
PT", disse.
Caso Cpem
A reportagem da Folha obteve a
íntegra deste depoimento de Lula.
Obteve, também, a íntegra do processo (407 páginas) da Comissão
Especial de Ética que avaliou o
comportamento do filiado Paulo
de Tarso Venceslau -o economista que ano passado denunciou
tráfico de influência favorecendo a
Cpem -empresa que prestou diversos serviços a prefeituras petistas.
Lula também depôs nesta última
comissão -assim como José Dirceu, Aloizio Mercadante, Gilberto
Carvalho e o próprio Paulo de Tarso Venceslau.
"Foi 11 dias de sequestro", disse
Lula em português descontínuo e
arrevesado, que caracteriza os
dois depoimentos que o petista
concedeu.
"O Roberto é um cara que tem
muito patrimônio mas é um duro,
pra você ter uma idéia, Hélio, (Bicudo, deputado federal, integrante da Comissão Especial) quem teve que ir atrás de dinheiro, era
US$ 400 mil, fui eu que fui atrás de
uma parte dele, sabe, pedi pra empresários amigos, olha tem uma
situação delicada de sequestro de
uma pessoa, o irmão do Roberto
queria vender a casa, queria vender o carro, ninguém consegue
vender as coisas assim de uma hora para outra, eu lembro que teve
empresários nossos amigos que eu
também não vou citar o nome
aqui, que eu sou muito grato, porque a hora que a gente pediu, o cara no mesmo dia arrumou uma
parte do dinheiro, e graças a Deus
não precisou utilizar o dinheiro
porque prenderam o sequestrador
(...)".
Jeitinho
Os integrantes da Comissão
-Bicudo, o vereador José Eduardo Martins Cardoso e o economista Paul Singer- ouviram o
pré-candidato contar sobre o momento em que "o Roberto Teixeira
caiu em desgraça no PT", outra
"coisa interna" do partido.
Segundo o relato de Lula, Teixeira flagrou, em 83, sete vereadores
do PT de São Bernardo dando um
"jeitinho" para pagar o partido
sem que lhes pesasse o bolso.
O "jeitinho" era receber o pagamento adiantado, colocar na poupança, e pagar os 30% de contribuição com os rendimentos da ciranda inflacionária.
"Quando ele descobriu isso, os
sete vereadores viraram inimigos
do Roberto e começaram a queimar", disse Lula. Houve ameaças
respectivas de comissões de ética,
mas ficou tudo por isso mesmo.
Segundo Lula, o episódio agastou
Teixeira e fez com que aos poucos
fosse se afastando do PT.
Houve um outro "problema
muito sério" em 1988, prossegue
Lula. Deu-se que Maurício Soares,
eleito prefeito de São Bernardo pelo PT, convidou seu amigo Teixeira para assumir a secretaria jurídica do município.
Já com planos de mudar-se para
Miami, Teixeira relutou -e foi
preciso "um trabalho muito longo
de convencimento" para que aceitasse. "Quando o Roberto aceitou,
essa é outra coisa que eu não queria que tivesse no relatório, a mulher do Maurício vetou..."
"A mulher do Maurício", comentou um integrante da comissão. E Lula retomou: "Porque tinha um conflito com as duas mulheres que eu não vou entrar nessa
história".
O fato é que, a partir daí, embora
crescendo a relação de amizade
com Lula, o advogado ficou ressentido e foi se afastando.
Campinas
Outra coisa que Lula não queria
que saísse -e novamente pediu
isso à comissão- diz respeito à
sua opinião sobre o ex-petista Jacó
Bittar, ex-prefeito de Campinas,
no momento arrolado como testemunha de defesa de Lula em um
dos processos judiciais que está
movendo contra Paulo de Tarso
Venceslau.
A pergunta da comissão versava
sobre o encontro que teria havido
entre Jacó, Lula e Venceslau, onde
o segundo tentaria convencer o
terceiro sobre a conveniência de
contratar a Cpem em Campinas
(99 km a noroeste de SP).
Lula negou o encontro, com a
seguinte declaração: "Eu nunca
confiei politicamente no Jacó,
portanto eu jamais iria conversar
de dinheiro com o Jacó, ou seja, o
Hélio (Bicudo) foi candidato majoritário em 82 e o Jacó nunca foi
uma pessoa que merecesse da minha parte confiança sobre assuntos que não pudessem ficar públicos (...) Eu tinha uma desconfiança política no Jacó muito grande e
quem conhece o Jacó bem sabe
também que ele não teria coragem
de discutir um assunto qualquer
fosse desses em público (...)".
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