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SUCESSÃO
Exposição provocada por bônus eleitorais no pleito de 94 privilegia o uso de métodos que não deixam marcas
Empresas reforçam doações subterrâneas
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
Levantamento
realizado pela
Folha nos últimos dois meses
conclui que as
empresas reforçarão os mecanismos subterrâneos de doação, na eleição de outubro.
Ressabiados com a exposição
provocada pelos bônus eleitorais
no pleito de 94, grandes grupos
empresariais que costumam financiar eleições deverão concentrar o maior apoio eleitoral nos velhos esquemas que não deixam
marcas.
Nos últimos dois meses, a Folha
consultou 24 empresários -presidentes de grandes organizações,
especialistas em marketing político e ex-tesoureiros de campanhas
eleitorais-, que aceitaram fornecer informações, com o compromisso de terem seus nomes preservados.
Duas confirmações nessa sondagem: 1) os volumes registrados em
bônus representam uma parcela
muito reduzida dos valores realmente envolvidos numa eleição
majoritária (em 94, a eleição de
FHC consumiu R$ 33 milhões em
bônus); 2) a transparência trouxe
mais dissabores do que vantagens
para os que optaram por abrir os
cofres e o sigilo.
Quem contribuiu abertamente
viu aumentada a desconfiança, de
empresas concorrentes e da opinião pública, sobre o relacionamento com o governo. Quem deu
recursos por baixo do pano manteve intocados os canais de influência junto aos lobbies no Congresso e aos governantes, seja nos
municípios, nos Estados ou na esfera federal.
O financiamento legalizado não
é, em princípio, ilegítimo ou imoral. Mas a divulgação obrigatória
dos gastos alcança uma parcela ínfima do dinheiro transacionado.
O publicitário Luiz Fernando
Furquim, que foi coordenador financeiro da campanha de Fernando Henrique Cardoso, em artigo
na Folha, em setembro de 95, comentou as doações em material
(móveis, imóveis e automóveis)
na eleição de 94: "Foi por aí
-apesar dos bônus- que os valores foram sub ou superfaturados, conforme a conveniência do
momento ou de geração de sobras
de campanha".
Os recibos eleitorais -que substituem os bônus - deverão ter
grande valia. Por terem limites fixados em lei, servem de argumento para as companhias e os bancos
inibirem maiores assédios; por serem públicos, permitem demonstrações de liberalidade política na
superfície, enquanto volumes
maiores podem ser destinados, via
apoios submersos, aos candidatos
que realmente interessam.
Em 94, o Itaú destinou R$ 499,9
mil, com bônus, para a campanha
presidencial de Lula (PT). A Mendes Júnior foi generosa com a
campanha de Leonel Brizola
(PDT), que recebeu em bônus R$
1,2 milhão da construtora.
Interesses em jogo
O levantamento da Folha também procurou identificar as questões de maior interesse para os
segmentos empresariais que mais
contribuíram na eleição de 94
-empreiteiras, bancos e usinas
de açúcar e álcool- e as principais decisões de governo que afetaram, depois, cada setor.
Em 94, preocupava os empreiteiros a promessa do então candidato Fernando Henrique Cardoso, de que seu governo faria uma
auditoria sobre a dívida federal
com as empreiteiras.
Seu governo, contudo, abandonou a idéia -levantada em campanha- de manter um grupo
permanente de investigação sobre
as atividades dessas empresas.
Foi também desprezada a proposta feita por uma Comissão Especial de Investigação, que sugeriu o afastamento, em concorrências públicas, de dez grandes empreiteiras supostamente envolvidas em irregularidades.
Quanto aos usineiros, o governo
aumentou o preço do álcool, em
95, sem repasse ao consumidor, e
autorizou a Petrobrás a antecipar
a compra do produto. O prejuízo
foi bancado pela estatal, que recorreu a financiamentos externos
obtidos pelo Banco do Brasil.
O governo também autorizou financiamentos para os usineiros
pagarem dívidas de crédito rural.
Os bancos foram apontados pelos críticos do governo FHC como
beneficiários do Proer, mas grandes suportes financeiros da campanha -como Bamerindus, Econômico e Nacional- não sobreviveram ao ajuste do sistema.
Controlando excessos
Os empresários trabalham com
a hipótese de reeleição certa do
presidente Fernando Henrique
Cardoso, o que reduzirá a chamada contribuição "ideológica"
-ou seja, um maior aporte de recursos para inviabilizar uma candidatura de esquerda.
Segundo os especialistas, a experiência mostra que, nos casos de
favoritismo, não costumam faltar
recursos. O problema seria disciplinar os excessos.
Prevê-se, por isso, uma concentração de contribuições junto a
grandes grupos. Pulverizar a tomada de recursos, nesse cenário, é
sempre um risco para o candidato.
Isso inibirá uma maior pressão
com vistas à eleição presidencial,
permitindo às empresas redirecionar os recursos para os Estados,
podendo também realimentar as
bancadas fiéis no Congresso.
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